OUTUBRO DE 2001 - EDIÇÃO Nº 398
"O Gohonzon é o objeto de devoção do Budismo de Nitiren Daishonin e é perfeitamente dotado de benefícios."
Sueli: "Costumo dizer que o Gohonzon é como o espelho da nossa vida."
Marttuci: "Quando abraçamos esse maravilhoso objeto de devoção com a nossa vida, então nossa vida também se torna ouro."Terceira Civilização - Nas edições de agosto e setembro, dialogamos a respeito de o quanto o budismo corresponde às aspirações das pessoas e o quanto é essencial para que elas se fortaleçam e criem condições para enfrentar a dura realidade da vida. Dando prosseguimento, acreditamos ser oportuno dialogar a respeito da importância de consagrar o Gohonzon, objeto de devoção do Budismo de Nitiren Daishonin, em nosso lar.
Sueli Soyano Ogawa - Acredito que seja interessante falarmos a respeito do Gohonzon tendo em vista a grande campanha de Chakubuku que estamos realizando este ano. Espero que possamos esclarecer aos leitores o quanto o Gohonzon é indispensável em nossa vida. Cláudio Roman
Marttuci - É verdade. Algumas pessoas que já estão participando regularmente das atividades, realizando a prática da recitação do Gongyo e do Daimoku, que são simpatizantes de "carteirinha", ainda possuem uma certa resistência quanto a receber o Gohonzon. Conversemos a respeito disso.
Reginaldo Tateigi - Talvez isso se deva ao apego à religião que essas pessoas praticaram anteriormente ou ainda às crenças nas quais vieram sendo criadas. Espero que o nosso diálogo contribua para sanar as principais dúvidas em relação ao nosso objeto de devoção daqueles que estão iniciando a prática budista para que em breve possam recebê-lo sem qualquer receio.
Sueli - Costumo dizer que o Gohonzon é como o espelho da nossa vida. Principalmente as mulheres, que são mais vaidosas, sabem a importância de um espelho. Existem aquelas que sabem passar o batom sem o espelho, mas todas precisam dele para terem certeza de que tudo está certo. O espelho é o meio pelo qual podemos ver nossos defeitos e procurar corrigi-los. Dessa forma, com o Gohonzon podemos evidenciar o que há de mais belo em nossa vida e realizar nossa revolução humana.
Marttuci - Para nós, brasileiros, que crescemos recebendo um direcionamento cristão por meio da educação, da sociedade, da cultura e até da mídia, o nosso objeto de devoção, o Gohonzon, é algo que enfrenta uma certa resistência quanto à sua aceitação porque é diferente de tudo o que já se viu até então.
Quando falamos que existe uma lei que permeia o universo e que ela possui o poder e a força que normalmente são atribuídos a Deus, as pessoas ainda aceitam e pensam: "Puxa, existe uma lei universal."
Mas desse ponto até conseguirem substituir aquela imagem ou símbolo tão gravado em sua vida por um pergaminho, realmente é um passo grande, que muitos têm medo de dar.
E existe um paradoxo nisso, porque as pessoas acreditam na existência da lei, que não tem cor, nem forma e nem é paupável, mas não conseguem conceber o Gohonzon, que foi deixado pelo Buda Original Nitiren Daishonin na forma de um mandala. Ora, tudo o queexiste no universo tem um aspecto. Como identificamos, por exemplo, uma bicicleta?
Pelo seu aspecto: duas rodas, guidão, assento, correia etc. Essa lei que permeia o universo também possui um aspecto. Nitiren Daishonin revelou o aspecto dessa lei no Gohonzon. Por isso, quando visualizamos o Gohonzon, podemos sentir perfeitamente que essa lei existe e está em nossa vida. Ele definitivamente não é uma invenção de Nitiren Daishonin.
O Gohonzon é descrito como "perfeitamente dotado de total concentração de benefícios". Então, quando uma pessoa consegue aceitar o Gohonzon e compreender que ele incorpora a Lei Mística do universo, não tem como deixar de obter resultados positivos em sua vida. Levei quase trinta anos para ter total convicção disso (risos).
Tateigi - Ouvi de um veterano uma explicação muito interessante a respeito do Gohonzon. Ele dizia que todas as religiões possuem um objeto de adoração ou devoção, que podem variar de imagens ou símbolos até animais ou pessoas. Nas várias ramificações do budismo, há aquelas que adoram a imagem do Buda Sakyamuni ou ainda de vários outros budas ou representações de deuses celestiais.
Observamos que esses objetos de devoção possuem um determinado aspecto, uma condição de vida representada. No Budismo de Nitiren Daishonin, nós não adoramos nenhuma representação desse tipo. Nosso objeto de devoção é o Gohonzon que, como já foi dito, é um mandala perfeitamente dotado.
Por quê? Porque o Gohonzon contém todos os estados de vida representados em cada um daqueles caracteres inscritos nele. Todas as condições que a vida pode manifestar estão ali representadas. Quando vemos uma imagem de um santo ou de um buda, conseguimosvisualizar apenas a condição de vida expressa por ela naquela forma e naquele momento representado. No Gohonzon estão contidos todos os estados de vida possíveis e em seu centro está inscrito "Nam-myoho-rengue- kyo Nitiren", a Lei Mística e o Buda. Ele está assim composto para que todas as funções de nossa vida também fiquem centradas na Lei universal. Então, não importa a condição ou estado de vida que estejamos manifestando, por nos devotarmos à prática da fé, recitando Daimoku ao Gohonzon, poderemos redirecionar nossa vida à Lei do universo.
Por isso é que podemos dizer que o Gohonzon é perfeito e nos permite elevar nosso estado de vida, ou seja, realizar a revolução humana. Sueli - É por essa razão que, mesmo quando estamos desanimados, ou ainda, quando estamos sofrendo devido a algum problema, ao nos sentarmos diante do Gohonzon para recitarmos o Daimoku, gradativamente sentimo-nos revigorados, com uma outra disposição. É como uma nuvem espessa que vai se dissipando, dando lugar a um magnífico céu azulado.
Marttuci - Todo mundo sabe da existência da lei da gravidade. Quando soltamos algum objeto no ar, ele cai porque a intensidade da força gravitacional da Terra é mais forte e ela "puxa" o objeto para baixo. Podemos dizer que quando nos sentamos diante do Gohonzon, ocorre algo parecido. Mesmo que nos postemos diante do Gohonzon com o nosso estado de vida lá embaixo, como o dos quatro maus caminhos (Inferno, Fome, Animalidade e Ira), se professarmos o Nam-myoho-rengue- kyo com fé e sinceridade, o Gohonzon funcionará como essa lei da gravidade, "puxando" o nosso nível de vida novamente para cima, elevando ao mesmo nível potencial que possui, que é a incorporação da própria vida iluminada do Buda Nitiren Daishonin e a representação da grandiosa Lei do universo.
Tateigi - O interessante na prática budista é que não negamos em nenhum momento a existência dos estados de vida inferiores, pois eles estão intrínsecos à nossa condição como seres humanos. Seria irracional para o ser humano negar que possui esses estados que também estão claramente representados no Gohonzon.
Mas o Budismo de Nitiren Daishonin ensina que mesmo nessas condições inferiores também existe o estado de Buda. E quando oramos ao Gohonzon, centrando nossa vida, mesmo que esteja nos estados inferiores, na Lei Mística, então conseguimos elevar esse estado de vida. Digamos, por exemplo, que eu esteja num estado de Inferno, de total desesperança.
Ao centrar a minha vida na grandiosa Lei do universo, mesmo essa condição de Inferno assume um aspecto positivo como um potencial para uma grande transformação.
E isso é muito importante porque nos dá uma visão mais ampla e maior maturidade em relação à vida. Passamos a entenderque não é evitando ou negando o sofrimento que conseguiremos nos sentir bem ou felizes. É enfrentando tudo o que tivermos para enfrentar que nos fortalecemos como pessoas. Cada problema ou dificuldade que surge em nossa vida possui um significado e superando cada um deles é que realizamos nossa revolução humana.
Com o Gohonzon consagrado em nosso lar podemos recitar o Nam-myoho-rengue- kyo diante dele e no momento que desejarmos podemos sintonizar nossa vida à Lei do universo, e nesse fato reside a certeza de que temos todas as condições de alcançar a vitória no final. Sendo assim, entendemos que qualquer dificuldade, por pior que seja, tem uma razão para ocorrer em nossa vida, mas que, ao mesmo tempo, temos toda a condição para superá-la e assegurarmos a felicidade. Todos os fatos da vida ganham significado e valor. Todas as experiências passam a ser importantes. Cada obstáculo, cada desafio, é um passo adiante.
Sueli - Durante as vinte e quatro horas de um dia, vivemos variadas situações e momentos, e o nosso estado de vida oscila conforme os fatores externos a nossa volta. É muito difícil estar vinte e quatro horas com pique total. Por exemplo, de manhã, quando acordamos, acredito que a maioria se encontre no estado de Tranqüilidade, se bem que existem aqueles que acordam com um profundo mau humor ou péssima disposição.
No Gongyo da manhã, geralmente estamos sempre mais animados e dispostos. Agora, à noite, depois de um dia corrido, cheio de trabalho e de afazeres, algumas vezes resta "só o pó" da gente. Então, aquele Gongyo que deveria ser de profunda gratidão pelo dia sem acidentes que tivemos, às vezes acaba em lamentação. Mas é nesse desafio diário e constante de sentarmo-nos diante do Gohonzon, independentemente de como estejamos ou o que nos tenha acontecido no decorrer do dia, é que está a causa da vitória e dodesenvolvimento pessoal.
Quando conseguimos nos concentrar na recitação do Gongyo ou do Daimoku , desafiando a nós próprios, podemos sentir uma grande força nos revigorando por dentro. É como foi dito, mesmo em uma situação adversa conseguimos enxergar algo positivo e sentimos brotar em nós uma grande esperança. Na nossa prática budista, reconhecemos nossa condição de mortais comuns possuidores de muitos defeitos, mas aprendemos que por meio do Daimoku ao Gohonzon, conseguimos transformar tudo em um fator positivo que se soma à nossa vida e que desenvolve um eu cada vez mais forte e destemido.
Marttuci - Existe uma passagem do Gosho que diz: "Confie no Gohonzon, o maior objeto de devoção do mundo." Na época que comecei a praticar o budismo, essa foi uma das primeiras frases que ouvi. A mesma frase era dita em outras palavras naqueles dias.
Ela me foi passada da seguinte maneira: "Confie no Gohonzon porque ele não é superado por nada neste mundo." Essa frase me marcou muito porque eu pensava: "Bom, se o Gohonzon não é superado por nada neste mundo, então é com ele que eu quero ficar."
E é interessante porque, com a prática e com o nosso empenho, nós realmente intensificamos nossa convicção em relação a esse dito dourado.
Tanto que, com o tempo, nenhum problema consegue nos abater. Nós nos fortalecemos interiormente. "Eu tenho o Gohonzon e recito o Nam-myoho-rengue- kyo. Então sei que posso solucionar esse problema. Eu sei que posso vencer" - esta se torna a nossa convicção e passamos a desafiar qualquersituação desfavorável ou adversa.
Costumo me valer muito da seguinte frase do Gosho: "Não despreze o ouro mesmo que o recipiente esteja sujo." O recipiente somos nós. Podemos "estar sujos", com dúvidas, com problemas, ou então, algumas vezes, podemos nos sentir o mais desprezível dos seres, mas o Gohonzon é ouro, e o resultado da recitação do Daimoku também é. Quando abraçamos esse maravilhoso objeto de devoção com a nossa vida, então nossa vida também se torna ouro.
Tateigi - O Buda Original Nitiren Daishonin nos concedeu um objeto de devoção e uma oração. A nossa prática budista é, ao mesmo tempo, muito profunda e extremamente simples. Independentemente de as pessoas compreenderem ou não o que está escrito no Gohonzon ou o que significa literalmente o Nam-myoho-rengue- kyo, o simples fato de sentar-se diante do Gohonzon com uma postura correta e respeitosa, unindo as palmas das mãos e recitando o Daimoku, isso já é uma causa para acúmulo de benefícios em sua vida.
É como uma criança recém-nascida que mesmo não sabendo de todos os benefícios do leite materno, ao sugá-lo cresce forte e sadia, recebendo todos os nutrientes de que seu organismo necessita.
Digo que a nossa prática é profunda porque ela nos permite transformar nossa vida no nível mais fundamental e isso na verdade envolve uma relação complexa de diversos fatores e princípios. Conseguimos compreender isso com o decorrer daprática e também por meio do empenho no estudo do budismo.