quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Seguindo o Meu Coração

Por: Denver E. Long

Se a única oração que você fizer na sua vida inteira for “obrigado” (agradecimento), isso será o suficiente.  Meister Eckhart

Quando eu era criança, eu passava muito tempo conversando comigo mesmo. Nada parecia mais natural do que fazer perguntas a mim mesmo e então esperar por uma resposta. E a resposta sempre veio. Ela vinha da “voz” dentro de mim. Quando eu queria saber a verdade sobre alguma coisa, ela nunca falhava.

Assim que fui ficando mais velho, eu confiava totalmente na sabedoria da minha “voz” interna. Ela sempre sabia o que tinha no meu coração e das coisas que eu queria para a minha vida. Eu gostaria de viver em lugares muito interessantes e únicos – o que satisfaria o meu lado artístico. Eu gostaria de me formar na faculdade e viajar pelo mundo. Eu também gostaria de ser um professor universitário. Mas, o mais importante de tudo, eu gostaria de encontrar o amor da minha vida, me apaixonar e viver feliz para sempre com ela.

Mas os anos se passaram e a voz foi se tornando cada vez mais fraca, até eu não conseguir ouvi-la mais. Apenas anos mais tarde, quando eu comecei a meditar ( entoar o mantra Nam-Myoho-Rengue-Kyo), que a voz voltou. Eu não sabia que aquela voz era a minha sabedoria interna, meu eu superior, ou como os budistas falam: minha natureza de Buda e não um amiguinho invisível da infância. Essa voz estaria comigo por toda a minha vida, apenas a capacidade de escutá-la que faria a diferença.

Uma semana após receber meu diploma em Desenho Industrial eu estava num avião indo para Washington para começar um treinamento como voluntário da US Peace Corps. Eu fui designado para atuar em Serra Leoa, oeste da África. Meu estado natal, Indiana, estava prestes a se tornar uma memória distante.

A primeira fase do treinamento seria em Washington onde eu aprenderia sobre a língua e costumes locais, depois eu seguiria para a Jamaica para iniciar a próxima fase do treinamento na Escola de Agricultura.

Devido a alguns problemas com o meu passaporte, eu cheguei na Jamaica dia 7 de julho, 4 dias após o restante do grupo. Consequentemente, quando cheguei lá, eu era a única pessoa para ser registrada  e direcionada para a acomodação, e assim fui imediatamente para a Escola de Agricultura.

Uma linda jovem Jamaicana estava lá para fazer o meu registro, o nome dela era Joan. Como era somente eu para ser registrado, eu ganhei toda a atenção de Joan. Ela me fez algumas perguntas, eu respondi e também flertei com ela um pouco. Após 10 minutos eu olhei para ela e anunciei que ela seria a mulher com quem me casaria. Eu a assegurei que ela não precisava se preocupar. Talvez demorasse de 10 a 15 minutos para eu conquista-la ou 10 a 15 anos. Isso não importava. Eventualmente, ela seria a minha esposa. Ela riu tanto que instantaneamente nos tornamos amigos. Eu comecei a enviar cartas e fotos para a minha família sobre a minha “boneca jamaicana”.

Eu parti para as Ilhas Virgens para a próxima fase do meu treinamento na Universidade de West Indies, e então para o meu trabalho – de 2 anos - como voluntário em Serra Leoa numa escola de Bunumbu.

Após este período eu terminei morando em Chicago, desempregado e em depressão por um recente término de namoro. Foi aí, que um amigo me apresentou ao Budismo de Nitiren  Daishonin. A princípio eu argumentei e discuti com ele, até que finalmente a gente fez um acordo.

Ele me disse para entoar o mantra para atingir qualquer objetivo, qualquer coisa que quisesse. O que eu queria era uma mansão de 3 andares localizada no distrito histórico de Chicago onde os milionários moravam antigamente.

O trato foi que eu meditaria por 1 hora diariamente e também faria a cerimônia de gongyo (leitura do sutra) pela manhã e noite durante 30 dias. Se eu não estivesse morando na mansão no final dos 30 dias, ele nunca mais falaria sobre o budismo de Nitiren  ou meditação para mim novamente.

Ele me explicou que assim que você começa a meditar, você eleva a sua atitude, ou condição de vida, e a negatividade presente na sua vida começa a emergir, ela aparece para purificar a sua vida e ambiente no qual você vive.

Eu não acreditei em uma palavra que ele me disse, mas comecei a meditar todos os dias – apenas para provar que ele estava errado. Eu fui informado que a chave para o sucesso seria a consistência – continuar entoando o mantra apesar e acima de qualquer coisa.

Eu comecei então a sentar nos degraus da mansão vazia, onde eu queria morar, para fazer daimoku e o gongyo noturno – todos os dias ao entardecer eu estava lá fazendo a minha prática budista.

Eu comecei a atrair um grupo de pessoas bem estranhas, o local era tranquilo, numa rua um pouco isolada – eu ficava imaginando de onde aquelas pessoas tinham surgido. Eles eram muito estranhos, ficavam no começo da escadaria da casa olhando para mim , murmurando, andando em círculos e geralmente divertindo a si mesmos. Quem eram essas pessoas tão estranhas? Era isso a representação do que eu tinha dentro de mim?

Finalmente descobri que eles eram apenas um grupo de pacientes de um hospital mental local. Eles tinham sido atraídos pelo som do mantra e alguns até tentavam meditar junto comigo. Eu cheguei a conclusão que eles eram a representação do meu estado lunático por estar fazendo esse experimento OU eles eram mais puros em espirito do que o resto de nós e foram atraídos pelo aspecto espiritual do mantra. Em qualquer um dos casos, eu continuei meditando – fazendo a minha prática budista.

Através de uma série de eventos inacreditáveis, 30 dias após o início da prática budista – eu me mudei para aquela mansão. A primeira coisa que coloquei dentro dela foi o meu butsudan ( oratório/ altar budista).

Após isso, como o meu amigo tinha me informado, coisas que estavam profundamente enraizadas na minha vida começaram a aparecer. A maior parte delas tinha a ver com relacionamentos.

Eu recebi a noticia que meu melhor amigo em Indiana tinha morrido, meu pai e eu fomos ao velório e ao enterro – bastante emocionados com a perda do nosso grande amigo. Poucas  semanas mais tarde, lá estava eu, no mesmo local – mesma funerária – ao lado do caixão do meu pai que tinha morrido inesperadamente. Após isso a minha tia e mais 2 amigos morreram. Eu estava profundamente confuso e com depressão, mas apesar disso tudo – eu continuei a meditar.

Então, numa noite enquanto eu entoava o mantra Nam-Myoho-Rengue-Kyo, eu ouvi a minha voz interna novamente. Foi como o reencontro de um  amigo de infância. Eu fiquei profundamente sensibilizado. De repente eu me lembrei de Joan. Eu comecei a meditar com a determinação para que a Joan, a jovem que eu tinha conhecido na Jamaica, voltasse a fazer parte da minha vida. Eu não sabia se ela continuava morando na Jamaica ou se ela ainda estava viva.

Eu apenas comecei a fazer daimoku com todo o meu coração, apesar de nunca mais ter tido noticias dela - depois que fui embora da Jamaica, anos atrás.
Eu já estava meditando para ela por 2 semanas quando, numa noite, eu estava fazendo a cerimônia de  gongyo, o telefone tocou e para a minha grande surpresa era Joan do outro lado da linha.

Quando eu a perguntei como ela tinha me achado e por que estava me ligando, ela disse que tinha pensado em mim nas ultimas 2 semanas. Ela agora morava em New York e estava indo visitar uma prima que viva em Evanston, um  subúrbio perto de Chicago. Pensando como Indiana era perto de onde a prima dela morava, ela decidiu ligar para a telefonista para tentar me encontrar. Após aproximadamente 2 telefonemas ela conseguiu encontrar a minha mãe.  A minha mãe imediatamente soube quem ela era pelas inúmeras cartas e fotos que enviei enquanto estava em treinamento na Jamaica.

Minha prática budista me levou a apreciar e cuidar de todos os relacionamentos que eu tenho na minha vida. Eu aprendi como valorizar,  incentivar pessoas e não tê-las como um acontecimento natural – mas sim, como um presente. Aprendendo a ter mais consideração e apreciação pelos relacionamentos que eu tinha, Joan voltou a fazer parte da minha vida.

Dia 7 de julho, exatamente 16 anos após o nosso primeiro encontro naquele escritório de apoio aos voluntários, eu me casei com a minha doce boneca jamaicana.


Tradução não oficial do livro: The Buddha Next Door, ordinary people, extraordinary stories.
Autores: Zan Gaudioso e Greg Martin
ISBN: 978-0-9779245-1-6

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Sucesso, exatamente onde você está

Por: Kat Paterno

“Eu tenho que admitir que meço sucesso como valor que o indivíduo cria para si mesmo e para os outros seres humanos ao seu redor”. Margaret Mead

Eu era o candidato mais improvável para a faculdade de Direito. Eu tinha feito faculdade de cinema,  alguns documentários polêmicos,  tocava baixo em bandas de rock punk e vivia um estilo de vida alternativo. Eu nunca pensei que me juntaria ao grupo que chamava de diabólico capitalismo corporativista americano.

Como o tempo eu, vagarosamente, encontrei um caminho fora da vida underground e comecei a administrar restaurantes e boates. Eu, eventualmente, me encontrei morando em Los Angeles, administrando um teatro e ganhando menos do que $30.000,00 ao ano ( 2.500,00 ao mês).

Por mais que gostasse das pessoas com quem eu trabalhava, eu odiava o quanto perdido e não realizado na minha carreira profissional eu me encontrava. Então, eu decidi mudar de direção e voltar para a escola. Eu tinha 29 anos de idade e ainda com a praga do complexo de “salvar o mundo” que não tinha desaparecido com o meu amadurecimento, como muitos haviam me dito. Eu passei anos ponderando a profissão perfeita – aquela que  iria satisfazer  a minha paixão por ajudar a humanidade. Após anos de considerações, eu cheguei a conclusão que a EDUCAÇÃO é a chave para criar um mundo melhor.

O que eu realmente queria era me tornar professor e me envolver com a reforma do currículo escolar para que este fosse mais efetivo em ajudar as crianças a se tornarem grandes seres humanos. Mas, meu pais me fizeram mudar de ideia. Minha é professora e tinha a experiência de viver com o salário de professor. Ela estava preocupada que eu não conseguisse sobreviver com salário de professor, já que eu era – ente os filhos – o mais desorganizado financeiramente. Eu fui facilmente persuadido porque não tinha muita ideia de como as pessoas ganhavam dinheiro.

De alguma forma, eu me decidi pela faculdade de Direito porque achava que  ia me dar o poder de criar valor para a humanidade, uma possibilidade de salário melhor e – no fundo – tinha a sensação que o curso me daria base para realizar o meu sonho que era a reforma do currículo escolar.

Eu fui apresentado ao Budismo de Nitiren Daishonin  dois meses depois. 
Quando comecei a cursar Direito eu já estava fazendo a prática budista diariamente e participando de reuniões semanais há um ano.

Como resultado da minha prática budista, eu fui aceito numa ótima universidade – a Universidade da California, Los Angeles -   e imediatamente convidado para fazer parte da prestigiada publicação de direito da universidade. Eu era muito interessado em escolas de bairro porque elas apresentavam um ambiente propício para a reforma da educação, então eu escrevi o meu artigo em legislação de escolas de bairro.

Mesmo não gostando da escola de direito, eu me sai bem e acabei arrumando um emprego num grande e internacional escritório de advocacia. Eu passei no exame da Ordem Americana de Advogados na primeira tentativa e comecei a advogar.

Tsunesaburo Makiguchi, o primeiro presidente da Soka Gakkai , ensinou que existem 3 tipos de valor: BELEZA, BENEFÍCIO e BEM. Josei Toda, ele mesmo professor, e Daisaku Ikeda – os subsequentes presidentes da Soka Gakkai – interpretaram o significado dos 3 valores em termos de carreira profissional.

Presidente Toda disse: O ideal é encontrar um emprego que você goste ( BELEZA),  que proporciona segurança financeira ( BENEFICIO )  e onde você possa contribuir para criar valor na sociedade ( BEM).

Quando eu li isso pela primeira vez, eu já era advogado. Eu imediatamente pensei duas coisas:

1.       Eu nunca tive nenhum dos valores satisfeitos nos trabalhos anteriores ao de advogado.
2.       Eu percebi que pela primeira vez em minha vida eu tinha alcançado um dos valores como trabalhador – BENEFÍCIO – eu estava ganhando muito dinheiro como advogado.

Mas, eu gostaria de ter um emprego que eu gostasse, um trabalho que contribuísse para um mundo melhor e que eu me sentisse realizado. Eu queria ter os 3 valores citados pelo presidente Makiguchi no meu trabalho.

Meu emprego na firma se tornou extremamente cansativo e estressante. Eu trabalhava longas horas, muitas vezes chegando em casa depois da meia noite e, frequentemente, trabalhava nos finais de semana. Mesmo gostando das pessoas com quem eu trabalhava, eu estava muito infeliz sendo advogado. Eu era constantemente invadido por sentimentos de frustração, muitas vezes querendo abandonar a carreira e voltar para a escola para me tornar um professor. Porém, eu tinha uma dívida grande para pagar ( mensalidades da escola de direito)  - então, eu estava sem saída, preso. Apesar de estar ganhando bem, eu ainda não era financeiramente estável para mudar de profissão. Alguma coisa tinha que mudar.

Educação e criar valor para as pessoas ainda era o meu sonho e, eu não iria desistir. Então, comecei a meditar, fazer daimoku ( entoar o mantra Nam-Myoho-Rengue-Kyo), para encontrar uma forma de lentamente colocar a área de educação na minha carreira de advogado. Eu pensei no compromisso da minha firma em oferecer serviços legais gratuitos para causas de valor social, e eu – de repente – tive uma ideia. Eu conversei com um colega de trabalho sobre o meu interesse em educação e perguntei a ele se me apoiaria para que ee prestasse serviços legais para uma escola de bairro de forma voluntária.

Ele disse sim. Porém, infelizmente, a escola de bairro que eu tinha acesso já tinha um advogado prestando este tipo de serviço. Eu estava tão ocupado que não tive tempo de procurar outra escola.

Eu comecei a escrever os meus objetivos para o próximo ano assim que entrou dezembro. Enquanto eu escrevia sobre a minha determinação em encontrar um emprego que me fizesse realizado, eu percebi  que eu tinha muita dificuldade em aceitar que eu merecia ter os 3 valores no meu trabalho. Parecia uma coisa tão distante que uma parte de mim não acreditava que era possível ser feliz deste tanto numa carreira profissional. 

Esta descoberta incrível me levou a sentar e entoar o mantra para descobrir porque eu achava que não merecia ser feliz na minha profissão. Durante o daimoku eu cheguei a conclusão que se eu me ajudasse , mudando a minha vida, concretizando meus objetivos e realizando os meus sonhos – o que incluiria minha carreira na área de educação – eu poderia mais facilmente ajudar os outros.

A partir daí, eu comecei a meditar com a determinação de ajudar os outros através da ajuda a mim mesmo, fazendo isso eu elevei minha auto-estima e valor ao ponto que  merecer ser feliz já não era mais um problema.

Pouco tempo depois que comecei a entoar o mantra com essa determinação, o meu colega de trabalho que tinha concordado em me apoiar no trabalho voluntário me chamou para uma reunião na sua sala. Sabendo do meu interesse na área de educação, ele animadamente me deu a notícia que uma escola de bairro precisava de serviços legais exatamente na minha área de atuação – direito trabalhista. Eu nem acreditei. Eu não apenas consegui trabalhar na área como também peguei um caso muito importante e específico com o potencial de afetar todas as escolas e professores que trabalham nelas no país inteiro.

O diretor executivo da escola estava encantado. Ele tinha sido um procurador federal, professor de direito e roteirista para programas de TV. Ele investiu centenas de milhares de dólares do seu próprio bolso, seis anos atrás,  e dedicou o seu tempo para criar uma escola de bairro pautada em justiça social e destinada a ensinar crianças não privilegiadas para que elas tivessem condições de criar valor na sociedade a qual estavam inseridas.

Eu trabalhei com ele o mês inteiro, e por saber do meu interesse em escolas de bairro, ele dedicou um tempo extra para me ensinar tudo o que ele podia sobre  essas instituições. Durante uma conversa, eu contei a ele sobre o meu sonho de eventualmente seguir uma carreira em educação. Ele disse:

“Quem sabe? Talvez um dia você irá me substituir como diretor executivo desta escola.” Isso foi a maior felicidade que eu tinha tido na minha carreira até aquele dia.

Eu percebi que mesmo sem mudar de emprego, eu tinha começado a manifestar os meus sonhos. Eu aprendi a valorizar a mim mesmo estendendo o meu valor e entendimento de que eu merecia ser tão feliz quanto eu queria que os outros fossem. Pela primeira vez em minha vida, eu sabia o que era ter os 3 valores no trabalho: eu sou bem pago ( BENEFICIO) para fazer o que eu gosto ( BELEZA )  e ajudar as pessoas da forma que eu sempre sonhei em fazer ( BEM).


Tradução não oficial do livro: The Buddha Next Door, ordinary people, extraordinary stories.
Autores: Zan Gaudioso e Greg Martin

ISBN: 978-0-9779245-1-6

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

A Mochila

Kathryn Spillane


“O que há no nosso passado e o que há no nosso futuro são pequenas coisas se comparados no que há dentro de nós.”  Ralph Waldo Emerson

Eu me lembro do dia que a minha amiga me trouxe a história sobre o General Tigre de Pedra, Li Kuang, um jovem que viveu na China há muitos séculos – durante a dinastia Han. A história aparece no gosho ( WND).
Li Kuang é um talentoso arqueiro. Um tigre mata a sua mãe e ele jura matar o tigre. Ele caça o dia inteiro e, no início da noite, ele vê o tigre. Ele prepara o arco e a flecha e se concentra com toda a sua energia no alvo. Ele acerta o alvo, mas quando chega perto para checar, ele tinha encravado a flecha numa enorme rocha que pensou ser o tigre.

Eu fiquei muito impressionada com a história mas não consegui fazer nenhuma relação com a vida diária porque ainda não tinha tido tal experiência, do impossível se tornar possível. Meu mundo, entretanto, estava prestes a alcançar uma dimensão além dos meus mais loucos sonhos, e a determinação de Lin Kuang estava prestes a se tornar a minha.

Eu e os meus filhos viajamos para o México, pouco tempo depois de ler esta história, fomos visitar alguns parentes. Durante a nossa estadia, decidimos visitar umas cavernas a aproximadamente 4 horas de viagem de onde estávamos. Era uma rodovia bem tranquila, em uma planície de se perder de vista. No meu retrovisor, eu vi uma ambulância se aproximando com as luzes acessas, então encostei para que ela pudesse passar. Minutos depois, eu já via o acidente, então eu disse para meus filhos ficarem abaixados no carro, com receio do que eles poderiam ver a frente.

Assim que me aproximei do local, eu diminuí a velocidade, e pude ver caminhões tombados e, para o meu horror, corpos que haviam sido jogados para fora deles. Foi uma visão que eu nunca vou esquecer. Era óbvio que aquelas pessoas estavam mortas, tinha um corpo de uma mulher – muito machucado - a apenas metros de onde meu carro passava. Eu tinha treinamento em primeiros socorros e pensei em parar, porém, já havia uma ambulância e 2 carros de polícia no local. Não querendo que os meus filhos vissem aquela cena, eu continuei dirigindo.

Quando já estávamos numa boa distância do acidente, eu disse aos meus filhos que eles poderiam sentar no banco do carro novamente, e eles imediatamente me perguntaram o que tinha acontecido. Eu estava tremendo e dirigindo bem devagar. Eu disse a eles que tinha havido um acidente e que algumas pessoas morreram. Meu filho que tinha 9 anos, na ocasião, disse:

- Nós deveríamos meditar ( entoar o mantra)  para as pessoas que morreram e para o conforto da família delas.

Eu estava tão chocada com o acidente que não tinha pensado nisso, então, numa voz embargada eu concordei. Nós entoamos o mantra, Nam-Myoho-Rengue-Kyo juntos por aproximadamente 5 minutos. Eu nunca incentivei os meus filhos na minha prática budista e aquela compaixão e fé deles realmente me impressionou. Nós continuamos o nosso caminho, visitamos as cavernas, voltamos para Albuquerque e 4 dias depois estávamos prontos para voltarmos para casa.

Foi um dia bastante corrido e o voo estava lotado. Nós só conseguimos chegar no aeroporto internacional de Oakland às 22h, as crianças estavam cansadas, eu estava exausta. Nós tínhamos muita bagagem, e para facilitar, eu pedi para cada um tomar conta da sua própria mochila. Nós estávamos na van indo para casa, na autoestrada, o meu filho me pergunta: “Onde está a minha mochila?” Nós olhamos em todos os lugares e a mochila não estava na van.

Meu filho chorou. A mochila estava com as lembranças dele da viagem e outras especiais que ele sempre carrega consigo. Eu disse a ele, eu vou meditar  e fiz, ali mesmo. Eu fiz daimoku para que a mochila dele já estivesse vindo ao nosso encontro. Eu fui bastante clara na minha determinação.

No outro dia eu meditei novamente, a primeira coisa que fiz pela manhã, determinação clara e muito focada no objetivo. Eu tinha certeza que a mochila já estava a caminho de casa. Eu tinha que acreditar. Meu filho me perguntou sobre ela algumas vezes durante o dia e eu disse a ele que a mochila já estava em casa, mas nós não estávamos vendo ela ainda.

Eu liguei para o aeroporto e para o serviço de transporte, mas ninguém tinha visto a mochila. Mas, eu podia vê-la, no meu coração.
Dois dias se passaram e eu continuei meditando. Os meninos tinham ido para a casa o pai e eu mantive a mesma convicção. No terceiro dia eu desanimei. Toda a esperança que eu tinha estava desaparecendo.

Naquela tarde, uma grande amiga budista veio me visitar para saber como tinha sido a viagem. A primeira coisa que saiu da minha boca foi a história da mochila. Eu disse a ela como a minha fé no retorno dela estava começando a desaparecer. Ela me encorajou a não perder a fé e o meu foco. Eu sabia que ela estava certa. Eu bati a minha mão na mesa e disse:

“É isso, a mochila já está aqui! Mas eu não estou conseguindo vê-la ainda.”

Completei com um pouco menos energia que a mochila tinha que voltar porque meus filhos tinham que ter a prova concreta da força da prática budista. Talvez, fosse eu que precisava desta prova.

Menos de 10 minutos depois o meu telefone tocou. Eu atendi e ouvi a voz de uma mulher bem calma perguntando por mim do outro lado da linha. Ela me contou esta história.

Ela, o marido e o sobrinho de 5 anos tinham viajado, eles chegaram no aeroporto de Oakland aproximadamente meia hora depois que tínhamos partido para casa na van. Eles perguntaram ao sobrinho se ele queria ir ao banheiro e ele disse não, assim eles partiram do aeroporto. Quase pegando a autoestrada, o sobrinho mudou de ideia e pediu para ir ao banheiro, então eles encostaram o carro ali mesmo – quando crianças precisam ir ao banheiro não tem como esperar.

Quando eles desceram do carro, eles encontraram a mochila do meu filho no encostamento. Eles poderiam ter deixado para lá e não se dado ao trabalho. Mas, ao contrário, eles não só pegaram a mochila como cada item dela que estava espalhado no local, usaram até uma lanterna para não deixar nada para trás.

A mulher tinha encontrado o meu nome e telefone num pedaço de papel. Eu estava sem palavras e bastante surpresa. Um sentimento maravilhoso saia de mim enquanto eu escutava eu mesma a agradecer a mulher profundamente pela sua boa ação. Ela anotou o nosso endereço e nos enviou a mochila pelo correio, com tudo que tinham encontrado na beira da estrada – apenas alguns itens estavam faltando.

Eu não contei a história para os meus filhos até receber a mochila pelo correio. Meu filho estava em êxtase por receber os seus tesouros de volta. Eu estava brilhando como ele, não apenas porque ele recebeu as coisas dele de volta, mas porque eu recebi a prova concreta da minha prática budista. Minha meditação tinha funcionado.

Apenas 2 semanas depois que as lições desta história começaram a se revelar para mim. Eu percebi que o meu desejo era tão puro e tão focado que eu também tinha o poder de fincar uma flecha de penas numa rocha enorme. Como aconteceu, eu tive o poder de trazer uma mochila perdia no acostamento de uma autoestrada de volta para a minha casa.

Quando os meus filhos estão desanimados ou se sentindo paralisados, até hoje, eu lembro a eles da história da mochila e que qualquer coisa é possível através da prática do budismo de Nichiren Daishonin e do poder do daimoku. Tudo que eu tenho a dizer é, “mochila”! e eles instantaneamente sabem o que isso significa. Eles ficam até um pouco nervosos quando eu falo que vou meditar com a “determinação da mochila”, especialmente se é algo que eles não querem que aconteça.

Eu gostaria de engarrafar aquele puro e inocente desejo que tive durante aqueles dias e desengarrafar ele quando estivesse passando por outros desafios na vida. Felizmente, os meu amigos budistas estão por perto para me lembrarem que aquele tipo de determinação é um estado de espírito, e quando eu sento em frente ao Gohonzon ( mandala budista) para meditar, tudo o que eu devo fazer é  limpara minha mente e coração e entoar o mantra neste estado calmo e determinado.

A outra grande lição foi que o meu filho teve a experiência, pela primeira vez, da causa e efeito. Ele foi solidário e teve compaixão pelas vítimas do acidente – estranhos que ele não conhecia -, então um estranho também o buscou com os mesmos sentimentos e consideração. Todo este acontecimento fortaleceu a minha fé e me deu coragem.

Eu nunca saberei se foi a minha determinação ou a maravilhosa causa que o meu filho fez que trouxe a mochila de volta para nós. Eu acho que foi um pouco dos dois.

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Tradução não oficial do livro: The Buddha Next Door, ordinary people, extraordinary stories.
Autores: Zan Gaudioso e Greg Martin
ISBN: 978-0-9779245-1-6



sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Apaixonando –se

Virginia Straus Benson

O amor ideal só é possível entre duas pessoas sinceras, maduras e independentes.. Sendo assim, é essencial que você tenha a sua revolução humana como prioridade e não seja distraído pelo romance. Daisaku Ikeda.

Quando eu comecei a praticar o budismo de Nichiren muitos anos atrás, me disseram que eu poderia realizar todos os meus sonhos, e a ideia me deixou entusiasmada. Eu tinha 35 anos quase todos os meus sonhos já tinham sido destruídos. O meu sonho mais desejado era que eu encontraria a minha alma gêmea e viveria feliz para sempre. Cinderela era o meu conto de fadas favorito quando criança. Eu até dei o nome de Cinderela para o meu cachorro.

Mas, até agora, o meu príncipe tem sido qualquer coisa menos um príncipe. Eu tive um casamento desastroso nos meus 20 anos que estava mais para uma tragédia grega do que para um conto de fadas. Assim como em Pigmaleão, o meu marido achava que eu seria melhor se fosse outra pessoa. O meu senso de identidade era fraco e eu seguia o que o meu marido queria. Eu tentava de todas as maneiras, mas nunca conseguia ser a pessoa que ele queria.

Após o divorcio e muitos outros relacionamentos que não deram certo, eu cheguei a conclusão que eu era atraída  por homens que me dominavam e me desrespeitavam. Eu desenvolvi um medo de ser controlada por homens e sendo assim, fugia dos homens por quem eu me sentia atraída.

Quando comecei a estudar o budismo de Nichiren, eu aprendi sobre esho funi (inseparabilidade entre o indivíduo e seu meio ambiente), este conceito deu outra perspectiva a minha infeliz vida amorosa. Eu estava escolhendo reflexo da minha insegurança e baixa auto-estima. O príncipe mudava de nome, mas o drama era sempre o mesmo nos relacionamentos.

O Gohonzon, objeto de devoção no budismo de Nichiren, me fascinava. Como eu entendi, o Nichiren inscreveu na forma de uma mandala algo que poderia refletir  para mim - como um espelho - a minha condição de ser humano iluminado (estado de vida buda) que é inerente a minha vida. Quão profundo e profundamente encorajador! Eu meditava com todo o meu coração para eu me sentir confiante, segura, com base na fé de manifestar o meu potencial ilimitado - estado de buda que existia em mim.

Eu determinei que naturalmente iria conhecer um homem que me respeitaria pelo buda que eu realmente sou. O que eu não sabia é que demoraria muito para eu, a mulher franca e de baixa auto-estima, desenvolver a minha identidade verdadeira.

Durante 20 anos eu pratiquei o budismo com muita fé e diligência, tive grandes transformações em todos os aspectos da minha vida – menos o amoroso. Por exemplo, na minha carreira profissional, eu fui de uma entendiosa posição de agente público para a de diretora fundadora de 2 agências de pesquisas – sendo a última o meu emprego dos sonhos, responsável pelo Centro de pesquisa de Boston para o século 21, um instituto pacifista fundado pelo presidente da SGI (Soka Gakkai Internacional), Daisaku Ikeda.

Eu, também, após sofrer por anos de variação de humor, eu consegui ter estabilidade emocional. Meditando  cada vez mais quando eu estava triste, estudando o budismo e participando das atividades da SGI-USA – onde eu ficava rodeada de pessoas cheias de energia vital – eu venci esta terrível e persistente variação de humor que era tendência na minha vida.

Mas, namorar? Esta era uma outra história.
Para onde todos os homens foram? Eu estava num deserto. A cada nova possibilidade, no final, eu via que tinha sido apenas uma miragem.
No budismo de Nichiren a gente aprende que nenhuma oração fica sem resposta, então, onde estava a resposta para as minhas?

Muitos budistas maravilhosos me encorajaram e incentivaram ao longo do caminho. Eu pensava, “eu vou mudar para um lugar onde existam mais homens solteiros”.
Ao contrário disso, a minha dirigente budista me incentivou dizendo: “Fortaleça a orbita da sua fé, e a pessoa certa virá até você” Eu entendi que deveria fincar as minhas raízes e fortalecer a minha prática no lugar onde estava. Uma vida nobre, brilhando com um propósito, atrairá o seu semelhante.

Após anos de pratica budista, eu desanimei. Talvez eu deveria estar saindo mais a procura do homem ideal do que indo nas atividades budistas. Será que eu desperdicei o meu tempo?

Eu me encontrei com uma líder da divisão feminina no Japão, abri o meu coração para ela, e a resposta foi: “Talvez você nunca case.”
Eu chorei e chorei, muito. Ninguém nunca tinha falado isso para mim.
Mas, ela continuou: “ Se você assumir a sua missão como bodhisattva, praticando o budismo e trabalhando pela felicidade das pessoas (paz mundial*), você vai está completamente realizada no final da sua vidaindependente de ter se casado ou não.”
Ela me disse para meditar, entoar o mantra budista, até eu sentir com todo o meu coração e acreditar nas suas palavras.

Demorei 3 meses para entender o que ela me disse, por fim – eu compreendi que a verdadeira vitória na minha vida não era o casamento e sim viver sendo eu, uma bodhisattva da Terra. Eu não tinha como negar a sensação de realização que essa conclusão me causou. Eu parei de sentir solidão.

Mas, eu  AINDA queria um parceiro. Eu me sentia como uma mulher estranha, esquisita; eu tinha aquela incessante sensação que alguma coisa talvez estivesse errada comigo porque eu estava nos meus 50 anos e nenhum homem tinha me escolhido. Mas também, a  maioria das pessoas casadas não estavam mais felizes do que os solteiros. Gradualmente, eu entendi que estava bem assim como eu estava - solteira.

Então a minha amada mãe faleceu, através da minha prática budista, eu transformei a minha relação difícil com meu pai e encontrei compaixão para inspirá-lo a viver sem a sua companheira. Eu vi a bondade no meu pai ao invés de estereotipar ele como apenas outro macho dominador. Durante este processo, eu senti que tinha mudado o meu karma negativo com homens.

Nesta época, eu conversei com uma dirigente budista. Ela sentiu empatia pelo meu desejo de ter um parceiro e disse: “Ginny, eu acho que você vai conhecê-lo por serendipidade (universo conspira).”
Para mim significou que a minha felicidade ia se revelar naturalmente. A compaixão desta líder budista me comoveu, e eu percebi que a minha missão como bodhisattva era muito  profunda e abraçava o meu sonho de me casar.

Essas duas mudanças, acreditar no potencial do meu pai de atingir o estado de buda ( por extensão, o potencial dos homens) e perceber a pessoal e única natureza da minha missão, me fizeram continuar entoando o mantra para ter um casamento feliz.
Eu desenvolvi uma sólida auto-confiança baseada na fé e, como resultado, todos os meus relacionamentos começaram a refletir uma profunda conexão e intimidade.

Em Abril de 2004, eu peguei um avião para a Califórnia. Sentado no meu lugar, achando que era dele, estava a minha alma gêmea – Don. Nós conversamos e fizemos confidencias um para o outro todo o voo, até Los Angeles, onde ele morava.

Tudo que ele ama em mim eu construí com a minha prática budista. Ele acha que eu tenho um brilho interno – eu sei que isso vem de anos entoando o mantra Nam-Myoho-Rengue-Kyo, meditando.

Ele é interessado no meu trabalho no centro pacifista e respeita a minha devoção a ele. Ele adora que eu tenha muitos amigos e sou uma pessoa bem relacionada. Ele aprecia o budismo e a energia e acolhimento da nossa comunidade budista.

Quando eu voei para Minneapolis para conhecer a família do Don, eu tive que trocar de avião em Chicago. O Don, inesperadamente, embarcou no meu voo. Sorrindo, ele disse:
“Desta vez você está sentada no lugar errado.”
Agindo como um príncipe, ele me levou para um assento reservado e me pediu em casamento.
Don mudou-se para Boston no dia dos namorados ( 14 de fevereiro) e nos casamos em junho.

Recentemente o Don encontrou com a minha amiga e líder budista da Califórnia, aquela que me incentivou, e disse para ela: “ Eu sou o Sr. Serendipidade”.
Ele me disse que a expressão do rosto dela de pura alegria pela nossa vitória o convenceu da ligação genuína e altruística entre as mulheres da nossa comunidade budista.

Refletindo na minha jornada para encontrar o Sr. Serendipidade, a minha revolução humana é fruto do profundo efeito das orações budistas na minha vida.

Como o Presidente Daisaku Ikeda diz: “Existem inúmeros elementos envolvidos na resposta a uma oração, mas o mais importante é continuar meditando até que a sua oração seja respondida. Continuar orando faz  com que você consiga refletir com grande honestidade sobre você mesma e, assim, começar a mover a sua vida numa direção mais positiva – com compromisso e esforço diligente. Mesmo que suas orações não produzam um resultado concreto imediatamente, se você não desistir, em algum momento todo o seu daimoku ( meditação, oração) vai se manifestar de uma forma muito maior do que você tinha esperado.

* Entende-se por paz mundial a prosperidade e o bem-estar  na vida de todas as pessoas.

Tradução não oficial do livro: The Buddha Next Door, ordinary people, extraordinary stories.
Autores: Zan Gaudioso e Greg Martin
ISBN: 978-0-9779245-1-6

sábado, 22 de novembro de 2014

Liberty, a história do cavalo

Lynn, Andy, Stevie and Gina Rajeckas
Escrito por Lynn Rajeckas

Apesar da pessoa não ler e nem estudar o Sutra de Lótus, se apenas meditar com o seu mantra já é uma fonte de tremenda boa sorte. Nichiren Daishonin

Eu pratico o Budismo de Nitiren Daishonin ( Sutra de Lótus) desde o início dos anos 80. O meu maior desafio tem sido como encorajar as minhas crianças na prática budista. Após inúmeras horas meditando para a felicidade e bem-estar dos meus filhos, eu gostaria que eles aprendessem desde cedo os valores do budismo nas suas próprias vidas. Eu queria emponderar ( dar poder) eles com os ensinamentos budistas e mostra-los como eles poderiam influenciar o mundo ao invés de serem influenciados por ele.

Meus filhos, de  8 e 5 anos, e eu estávamos voltando para casa depois de um jogo de beisebol. Nós passamos em frente a casa do nosso vizinho e reparados de imediato que Liberty, o cavalo do vizinho, não estava no seu estábulo. Liberty era o animal de estimação favorito dos meu filhos. Eu tenho certeza que eles confiavam e contavam segredos  para ele, segredos que eles não queriam que ninguém mais soubesse. Não preciso dizer que ele era uma importante parte da vida dos meus filhos e eles o amavam.

Quando fomos falar para os nossos vizinhos, eles confirmaram o que o nosso coração aflito já suspeitava – Liberty tinha desaparecido. Um time de busca, o qual meu marido fazia parte, foi rapidamente formado. Nossas casas ficam do lado de milhares de acres abertos; Liberty poderia estar em qualquer lugar.

Meus filhos estavam muito tristes. O cavalo tinha se tornado parte da família para eles. Jim, o dono do Liberty, também estava bastante chateado. O time de busca estava atento, mas não havia nenhum sinal do seu precioso cavalo.

Meus filhos estavam inconsoláveis naquele momento, perguntando o que eles poderiam fazer para ajudar. Eles eram muito novos para serem incluídos no time de busca, e eles se sentiam impotentes diante da situação. Então eu disse a eles como a contribuição deles poderia ser a mais valiosa, e também faria com eles se sentissem melhores. NÓS PODEMOS ENTOAR O MANTRA NAM MYOHO RENGUE KYO ( meditar ou fazer daimoku).

Era o momento de todos nós juntos meditarmos para que o Liberty fosse encontrado e não estivesse ferido. Com o sentimento de missão, meus filhos sentaram em frente ao Gohonzon ( mandala budista) comigo e nós entoamos o mantra. Eles meditaram por 15 minutos, posso te dizer que para idade de 5 e 8 anos meditar por 15 minutos  é como se fossem horas para adultos. As orações deles eram diligentes, sinceras e de coração. Quando acabamos meus filhos foram para a cama dormir. O coraçãozinho deles ainda estava um pouco pesado e eles ainda estavam preocupados com o Liberty.

Eu tenho certeza que a meditação lhes deu a sensação de terem feito algo de valor pelo amigo; pelo menos, a meditação deu segurança a eles suficiente para conseguirem dormir.

As buscas pelo Liberty pararam às 2 da manhã. Jim tinha decidido alugar um helicóptero na manhã seguinte para continuar a busca – ele não iria desistir.

Algumas horas depois, com apenas alguns momentos de descanso, eu e meu marido, Andy, estávamos nos preparando para entoar o mantra para o retorno a salvo do Liberty – eram 5 da manhã. Antes de começar eu contei para ele novamente que as crianças fizeram daimoku com muita sinceridade e coração.

Eu disse: Quero tanto contar para eles que o Liberty está de volta quando eles acordarem pela manhã. Meu marido consentiu com a cabeça com o mesmo sentimento meu e de repente a sua expressão mudou drasticamente.

Ele estava olhando para a sala onde o nosso altar budista está, onde fazemos as nossas meditações, e adivinhem quem estava batendo na janela para chamar a nossa atenção? Liberty!

Eu imediatamente corri para acordar as crianças, enquanto o Andy foi chamar o Jim. Não preciso dizer que as crianças estavam em êxtase. As orações deles não apenas foram atendidas, o Liberty foi entregue diretamente na nossa porta. O cavalo então foi acompanhado em grande estilo de volta a seu estábulo, salvo e feliz.

Obrigada Liberty, por me ajudar a mostrar os meus filhos uma prova concreta desta maravilhosa prática budista.

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Tradução não oficial do livro: The Buddha Next Door, ordinary people, extraordinary stories.
Autores: Zan Gaudioso e Greg Martin

ISBN: 978-0-9779245-1-6

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Talvez, um bebê

por: Anne – Marie Akin

Tudo parece mudar quando nós mudamos – Henri Amiel

Através da minha prática budista eu mudei a minha carreira profissional; eu sou agora uma musicista e professora de arte. Eu encontrei a mais maravilhosa companheira para minha vida, construí uma família forte e feliz e venci inúmeros desafios – internos e externos. Eu sou uma pessoa que vive a vida de uma forma genuína, livre e corajosa. Mas eu me encontrei encarando um aspecto da minha vida profundamente enraizada e dolorosa que não tinha noção que existia até que (felizmente) fui forçada pelas circunstancias a encarar isso.

O problema começou como resultado de uma grande alegria – após anos falando sobre isso, eu e a minha companheira finalmente decidimos ter um bebê através de um banco de sêmen. Minha companheira, Amy,  facilmente engravidou. Nós éramos como quaisquer pais grávidos, ansiosas e cheias de expectativas – a gente mal podia esperar para contar a novidade para os amigos e colegas de trabalho. Eu contei para a todos os meus amigos da The Old Town School of Folk Music, onde eu sou funcionária. Mas a maioria das minhas aulas são no programa residência que fica no lado oeste de Chicago, um centro de assistência para crianças e famílias de baixa renda. Eu me encontrei incapaz de contar para os meus colegas do centro sobre o bebê que esperávamos.

No meu trabalho como professora de arte eu tinha observado homofobia explícita e implícita. Como qualquer pessoa gay que trabalha com crianças falaria para você, escolas infantis –  em qualquer lugar -  não é um ambiente onde as pessoas assumem a sua sexualidade abertamente. Nas outras áreas da minha vida eu vinha caminhando para me tornar cada vez mais livre, e eu de repente descubro que passei os últimos 7 anos da minha vida de professora me encolhendo e escondendo, até eu ter num compartimento uma versão “aceitável” de mim mesma conhecida como Srta. Anne Marie, a moça da música. Esta versão não incluía várias coisas do meu eu, especialmente a parte que eu sou uma mulher casada com outra mulher. Eu me esforcei tanto para “sair do armário”, para  agora me encontrar de volta nele porque eu permiti que as suposições de outras pessoas sobre mim parecessem a verdade. De repente eu estava tendo que encarar  o stress de “sair do armário” novamente.

Eu estava num dilema muito dolorido. Aqui eu estava, semana após semana, com pessoas que amam crianças e bebês, cantando com elas, olhando as fotos dos seus filhos e netos, com o coração cheio de alegria sabendo  que eu em breve eu teria um bebê lindo também; e mesmo assim o meu coração estava cheio de angustia porque eu não conseguia encontrar uma forma de contar a novidade e dividir a minha alegria. Algumas dessas mulheres eram muito amigas minhas – mas elas não sabiam nada sobre a minha vida! Como você se assumi gay para pessoas que você conhece há anos?

A gravidez de Amy estava cada vez mais visível e a minha situação se tornou cada vez mais dolorida. Pessoas totalmente estranhas perguntavam para ela sobre o bebê, enquanto eu me tornava mais invisível como também “mãe grávida”. Toda semana eu falava para mim mesma, “Esta semana eu vou contar para os meus colegas”. Mas outra semana passaria porque eu não consegui encontrar palavras ou coragem para contar para eles. Eu sabia que deveria meditar ( fazer daimoku, entoar o mantra NMRK) sobre isso, mas francamente tudo era tão dolorido para mim que até meditar sobre isso era difícil. Eu estava me sentindo miserável e depressiva num momento que eu deveria estar muito feliz.

Um dia, 2 meses antes de Maya ( minha filha) nascer, Eu estava sentada numa sala infantil cantando com as crianças e pensando, Quando eu vou contar para eles? Quando um dos professores assistentes me perguntou do nada:  Anne-Marie você algum dia pretende ter filhos?
Eu pensei, vou contar para eles agora: Então, na verdade, eu vou me tornar mãe agora em setembro.

Eles levantaram as sobrancelhas e olharam de forma engraçada e surpresa para a minha barriga “chapada”. Então rapidamente eu completei: A minha parceira é uma mulher e ela está grávida, nós vamos criar o bebê juntas.

Então houve um silêncio na sala. Eles não pareciam chocados. Eles não pareciam felizes. Eles apenas ignoraram completamente a minha história e um deles disse: Então, alguém vai fazer churrasco neste final de semana? E assim eles começaram a conversar sobre os planos para o final de semana. Eu fui discretamente para o banheiro onde eu chorei muito.

Semanas se passaram e eu fiquei sabendo que nenhum dos outros professores sabia. Num prédio cheio de mulheres onde todo mundo sabe tudo sobre todo mundo – ninguém queria contar a minha história. Eu me vi forçada a contar para as pessoas eu mesma. É tão engraçado como o UNIVERSO te dá exatamente o que você precisa para crescer, mas naquele momento, não tinha nada engraçado sobre isso.

Aproximadamente 2 semanas antes do nascimento da Maya – quando eu sairia na minha licença maternidade – eu decidi anunciar isso na reunião de professores. Eu estava com frio na barriga, meu coração estava pesado de medo, mas ao mesmo tempo eu estava querendo terminar com este sofrimento logo e contar para todo mundo que eu iria ser mãe. Eu ainda tinha a expectativa que eles ficariam felizes por mim.

Depois que fiz o meu anúncio para todos,  o diretor do centro disse alto: PARABÉNS! Tentando criar o clima para todos os outros. Mas a maioria das caras que eu estava olhando refletia choque, confusão e surpresa. Umas duas pessoas foram legais, mas meu foco estava em uma professora que parecia bem crítica e com cara de julgamento, ela olhava para os outros na sala procurando nos outros colegas apoio sobre o posicionamento dela.

Eu fui para o banheiro e chorei muito. O problema era que eu estava desejando a aceitação e apoio deles – eu queria que eles ouvissem a minha feliz e maravilhosa noticia e entendesse, por tabela, que eu era lésbica. Não foi isso que aconteceu. Eu fiquei amargurada e humilhada.

Nesta noite eu meditei, entoei o mantra, para chegar a RAIZ do meu sofrimento. Enquanto eu meditava, eu percebi que carregava dentro de mim uma profunda e pesada vergonha – uma vergonha que tinha carregado desde a minha própria infância – uma vergonha tão antiga que eu não conseguia nem colocar nome nisso. Dentro de mim eu sentia que eu não era boa o suficiente, suja e totalmente errada. A vergonha que eu sentia da minha vida estava sendo refletida direto para mim pelo ambiente em que eu vivia. Eu sentei e meditei com todo o meu coração para extirpar a vergonha da minha vida pela raiz. A cada mantra que pronunciava eu sentia como se estivesse me resgatando da sujeira. Todos os dias, duas vezes ao dia, eu continuei meditando para arrancar este fardo pesado, que era a vergonha, da minha vida.

Na semana seguinte a diretora do centro me perguntou se os outros funcionários sabiam do meu bebê. Eu disse que não, ninguém tinha contado para eles. Eu não acreditei quando ela me convidou para uma reunião de todos os funcionários, onde eu novamente iria ter que contar a novidade de ser mãe.

Eu determinei que eles ouviriam a minha notícia e reagiriam com a alegria que ela merecia. Após eu contar a história na reunião, houve uma explosão de parabéns cheios de alegria genuína. Eles responderam exatamente como eu sempre desejei – com uma alegria pura e verdadeira. As pessoas começaram a me perguntar: Como a Amy estava e se o bebê já tinha chegado.

A nossa filha, Mary Maya, agora já não é tão bebê, ela vem comigo para o centro onde eu ensino música. Nós podemos pagar para ela frequentar o centro. Na sala o apelido que  eles deram para ela é “Pequena Preciosa”. Ela é amada por todos e muito bem cuidada. A professora que naquele dia mudou de assunto e começou a falar sobre churrasco no final de semana, me deu uma mala enorme de roupas que eram da filha dela. Outra professora comprou um lindo presente para Maya quando ela nasceu. Recentemente outra professora recortou um artigo no jornal sobre casamento gay e guardou para mim.

Eu não consigo descrever para vocês a INCRÍVEL liberdade que agora eu sinto por ser capaz de ser eu mesma. Eu estou tão leve e feliz no meu trabalho. Todos os meus relacionamentos se tornaram mais verdadeiros. Eu agora almoço com as outras professoras ao invés de ficar escondida na sala. Quando as pessoas me perguntam sobre a minha vida, eu agora não mais evito a pergunta ou mudo o assunto da conversa. É difícil de acreditar que eu carreguei aquele peso por tanto tempo sem perceber que ele existia dentro de mim. Eu sou muito grata do stress e dificuldade que eu enfrentei para revelar o meu eu verdadeiro. Através desta jornada eu mudei o meu estado interior de vergonha para CORAGEM, e como resultado, o meu ambiente mudou dramaticamente.

Eu continuo meditando para que a vergonha das decisões que tomei na vida se transforme em orgulho. Eu estou determinada a não passar este tipo de sentimento para a minha filha Maya. Eles falam que as crianças nos ajudam na prática budista. Eu estou impressionada com as mudanças que esta pequena vida desencadeou em mim. Mesmo antes de nascer, ela já me ajudava a cumprir o meu juramento de me tornar absolutamente feliz, agora, eu farei o mesmo por ela.

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Tradução não oficial do livro: The Buddha Next Door, ordinary people, extraordinary stories.
Autores: Zan Gaudioso e Greg Martin

ISBN: 978-0-9779245-1-6