quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Corra!

FEVEREIRO DE 2010 — EDIÇÃO Nº 498

"Num claro dia de sol, eu corria desesperado por uma ladeira. De repente, o presidente Ikeda surge à minha frente. Rigorosidade e benevolência mesclavam-se em sua altiva voz ao dizer: ‘Corra, meu rei leão. Corra!’”
Sim. Foi um sonho. Mas, Carmo Dalla Vecchia, 39, revela o devaneio com a nitidez de ter sentido na pele a exaltação daquela corrida. O sonho enfeitou uma das noites de Carmo em 2008, quando aguardava por sua estreia como protagonista da novela das oito, A Favorita, da Rede Globo — a maior emissora de TV da América Latina.
Ao lembrar daquele episódio, Carmo suspira. Seus penetrantes olhos verdes fixam o horizonte e parecem relembrar os acontecimentos de sua vida desde aquela noite.

“Sou um cara que tem grandes sonhos. Nunca ouvia os ‘nãos’ e continuava seguindo em frente.” Os sonhos de Carmo são mais que uma sequência de imagens produzida durante o sono. O ator é uma dessas pessoas que sonha acordada, mas com os pés no chão.

Ao gesticular ritmicamente, Carmo rege os pensamentos que lhe vêm à mente. Na entrevista à TC, é ele quem segura o gravador com a mão esquerda. Ora devagar, ora veloz, sua mão direita protagoniza e interpreta suas emoções.
O sonhador
A partir do trabalho em A Favorita , a carreira do ator voa alto. No entanto, nem sempre foi assim. Como toda estrada, teve curvas, subidas e descidas.

Em 1993, uma grande decisão modificou a vida de Carmo. “Saí de Santa Maria, Rio Grande do Sul, em busca do sonho de ser ator”, relembra com carinho.

Foi em 1997 que Carmo conheceu a energia proveniente da recitação do Nam-myoho-rengue-kyo. O momento era de mudança, mas não havia um grande dilema.
“Essa prática foi ao encontro de uma série de ideias que eu já tinha a respeito de uma conduta de vida correta”, afirma.

Participar de atividades da BSGI e recitar Daimoku tornou-se fundamental para o ator. Além disso, ele começou a perceber as razões de ter escolhido a profissão.
“A prática budista faz a pessoa se olhar com mais clareza e ter noção de que é responsável pelas coisas que estão acontecendo.”

Enxergar essas mudanças foi essencial para Carmo Dalla Vecchia. Hoje seu trabalho tem “um quê” diferente. “Eu incorporo o budismo em meus trabalhos e até na elaboração de um personagem”, releva.

Na atual novela global, Cama de Gato, Carmo interpreta Alcino. O personagem tem uma doença grave, em estado terminal. Com muita sabedoria, Carmo faz o personagem sair do papel de vítima.
“Mais importante que a morte é fazer o bem às pessoas. O posicionamento que ele tem sobre a questão é baseado no budismo.” O que seduziu Carmo para construir Alcino foi a possibilidade de falar sobre a morte. “As pessoas têm certo receio em tratar do assunto. Nós, budistas, não. Temos clareza maior e podemos conversar sobre isso.”

O ator que adora montar quebra-cabeças para organizar os pensamentos, prepara sua agenda para conciliar a atuação como responsável pela DS da Comunidade Ipanema, CRJ, e a profissão. Porém, na atual fase, trabalhando na TV, e nos fins de semana, com uma peça de teatro em São Paulo , ele conta com o apoio das demais Divisões para a realização das atividades. “Quando termina esse processo, eu automaticamente estou presente na Organização. Entendo quanto é importante a responsabilidade que tenho, ainda mais por ser uma figura pública.”

Aprendizado para sempre

Carmo obteve muitas vitórias profissionais e pessoais com a prática do budismo.
“Tive muitos benefícios com a prática. Alguns eu nem havia sonhado”, diz.
Há um tempo, Carmo não gostava de falar de suas conquistas. Isso porque receava passar a imagem de que o budismo proporciona apenas benefícios materiais.

“O processo de aprendizagem pelo qual você passa no decorrer da prática é mais essencial que o benefício mundano que você vai adquirir depois. Ter harmonia familiar é um bem inconspícuo muito mais importante do que ter a sorte de ser o protagonista da novela das oito na Globo.”

E é por esse entendimento sublime do Budismo Nitiren que Carmo divulga o ensino para os amigos. “Fazer Chakubuku é a comprovação do budismo na vida. Quando incorporei o budismo, concretizar Chakubuku se tornou infinitamente mais fácil.”

Na corrida da vida, Carmo tem o grande sonho de ir ao encontro de seu mestre, Daisaku Ikeda, no Japão. É Dalla Vecchia... “Corra, rei leão. Corra!”

Estranho Casal
Em temporada no Teatro Folha, São Paulo, até o dia 28 de março, está a peça Estranho Casal, com Carmo Dalla Vecchia, Edson Fieschi e grande elenco é sucesso de público e crítica.

O texto é de Neil Simon, consagrado dramaturgo de teatro e cinema. Originalmente encenada na Broadway na década de 60, a comédia reuniu, no cinema, Jack Lemmon e Walter Matthau.

Fieschi e Vecchia interpretam os protagonistas: dois divorciados (Félix e Oscar). Quando vão morar juntos, descobrem no dia a dia uma relação tão complicada quanto a do ex-casamento de cada um.

Destaque também para Bel Garcia e Susana Ribeiro. Elas dão vida a duas irmãs gaúchas com um sotaque hilariante.
A montagem brasileira estreou em junho de 2009 com a direção de Celso Nunes e tradução e adaptação de Gilberto Braga.

Teatro Folha
End: Av. Higienópolis, 618, piso 2 — Consolação — São Paulo
Tel: (11) 3823-2323
Sexta: às 21h30/ Sábado: às 20h e às 22h/
Domingo: às 20h