Por diversas vezes ouvimos ou lemos a frase “o budismo é vitória ou derrota”. Na verdade, trata-se de um conceito utilizado para examinar nossa prática budista como uma luta em que precisamos triunfar sobre todos os obstáculos e sermos vitoriosos.
Este conceito é tratado de diversas formas em muitos escritos de Nitiren Daishonin. Podemos encontrá-lo sintetizado especialmente na carta “O Supremo Líder do Mundo”, em que Daishonin declara:
“O budismo preocupa-se principalmente com a vitória ou a derrota, ao passo que a autoridade secular baseia-se no princípio da recompensa e punição. Por essa razão, um buda é visto como o Supremo Líder do Mundo, enquanto um rei é considerado como aquele que governa conforme sua vontade”. (The Writings of Nichiren Daishonin, pág. 835.)
Embora não se saiba ao certo a data em que esta carta, endereçada a Shijo Kingo, foi escrita, por seu conteúdo supõe-se que tenha sido no segundo semestre de 1277, ou seja, desde aquela época, esse conceito já era utilizado pelo Buda como forma de encorajar seus discípulos. No caso, Shijo Kingo, destinatário da carta, vinha injustamente sofrendo ameaças por parte de seu lorde que pretendia lhe confiscar as propriedades caso não abandonasse sua fé no Sutra de Lótus. Mesmo diante da realidade em que vivia, Shijo Kingo jurou a Daishonin que ele jamais abandonaria sua fé no Sutra de Lótus.
O exemplo de Shijo Kingo demonstra claramente o quanto ele vinha sofrendo com a punição que a autoridade, no caso, o seu lorde, pretendia lhe impor. Naquela época, a sociedade de samurais era governada pelo sistema de “recompensa e punição”, o que demonstra o quão difícil era manter o modo de vida baseado no correto ensino do budismo.
Ainda assim, sabendo do sofrimento de seu discípulo, Nitiren Daishonin encorajou-o a triunfar sobre as adversidades, fazendo do conceito “budismo é vitória ou derrota” seu padrão de vida, ou seja, a fazer de todas as ocorrências, mesmo a mais insignificante, o ponto de partida para a vitória total.
Do contrário, sem os incentivos de Daishonin, Shijo Kingo poderia encarar aquelas dificuldades em termos de “recompensa e punição” e, assim, não compreenderia em termos de “budismo é vitória ou derrota”, ou seja, como uma luta em defesa da fé.
Por vezes, nós também podemos encarar essa realidade em nossa vida diária. Todavia, conforme o presidente Ikeda orienta, esse modo de vida fundamental do budismo considera todas as fases e aspectos de nossa existência como uma sucessão de batalhas que devem ser travadas e vencidas. Essa é, de fato, a realidade de nossa existência. E, para aqueles que se empenham intensamente nessas batalhas, tudo que ocorre na vida, mesmo na sociedade, torna-se parte de sua prática budista. Ou seja, tudo torna-se de acordo com o princípio de que “budismo é vitória ou derrota”.
Nesse sentido, tanto o budismo como a vida são uma batalha de vitória ou derrota. Não é exagero dizer que o budismo foi exposto para possibilitar todas as pessoas triunfarem na batalha fundamental da própria vida — a luta entre o Buda e as funções do mal.
Será que derrotaremos as funções maléficas e atingiremos a iluminação?
Ou sucumbiremos a elas e viveremos encobertos pela escuridão e ilusão?
O propósito principal da prática budista é conquistar a vitória nessa batalha fundamental.
Brasil Seikyo, edição nº 1988, 23/05/2009, página A8.