Por: Kat Paterno
“Eu tenho que admitir que meço sucesso como valor que o indivíduo cria para si mesmo e para os outros seres humanos ao seu redor”.
Margaret Mead
Eu era o candidato mais improvável para a faculdade de
Direito. Eu tinha feito faculdade de cinema, alguns documentários polêmicos, tocava baixo em bandas de rock punk e vivia
um estilo de vida alternativo. Eu nunca pensei que me juntaria ao grupo que chamava
de diabólico capitalismo corporativista americano.
Como o tempo eu, vagarosamente, encontrei um caminho fora da
vida underground e comecei a administrar restaurantes e boates. Eu, eventualmente,
me encontrei morando em Los Angeles, administrando um teatro e ganhando menos
do que $30.000,00 ao ano ( 2.500,00 ao mês).
Por mais que gostasse das pessoas com quem eu trabalhava, eu
odiava o quanto perdido e não realizado na minha carreira profissional eu me
encontrava. Então, eu decidi mudar de direção e voltar para a escola. Eu tinha
29 anos de idade e ainda com a praga do complexo de “salvar o mundo” que não
tinha desaparecido com o meu amadurecimento, como muitos haviam me dito. Eu
passei anos ponderando a profissão perfeita – aquela que iria satisfazer a minha paixão por ajudar a humanidade. Após
anos de considerações, eu cheguei a conclusão que a EDUCAÇÃO é a chave para
criar um mundo melhor.
O que eu realmente queria era me tornar professor e me
envolver com a reforma do currículo escolar para que este fosse mais efetivo em
ajudar as crianças a se tornarem grandes seres humanos. Mas, meu pais me
fizeram mudar de ideia. Minha é professora e tinha a experiência de viver com o
salário de professor. Ela estava preocupada que eu não conseguisse sobreviver
com salário de professor, já que eu era – ente os filhos – o mais desorganizado
financeiramente. Eu fui facilmente persuadido porque não tinha muita ideia de
como as pessoas ganhavam dinheiro.
De alguma forma, eu me decidi pela faculdade de Direito
porque achava que ia me dar o poder de criar
valor para a humanidade, uma possibilidade de salário melhor e – no fundo –
tinha a sensação que o curso me daria base para realizar o meu sonho que era a
reforma do currículo escolar.
Eu fui apresentado ao Budismo de Nitiren Daishonin dois meses depois.
Quando comecei a cursar
Direito eu já estava fazendo a prática budista diariamente e participando de
reuniões semanais há um ano.
Como resultado da minha prática budista, eu fui aceito numa
ótima universidade – a Universidade da California, Los Angeles - e imediatamente
convidado para fazer parte da prestigiada publicação de direito da
universidade. Eu era muito interessado em escolas de bairro porque elas
apresentavam um ambiente propício para a reforma da educação, então eu escrevi o
meu artigo em legislação de escolas de bairro.
Mesmo não gostando da escola de direito, eu me sai bem e acabei
arrumando um emprego num grande e internacional escritório de advocacia. Eu
passei no exame da Ordem Americana de Advogados na primeira tentativa e comecei
a advogar.
Tsunesaburo Makiguchi, o primeiro presidente da Soka Gakkai
, ensinou que existem 3 tipos de valor: BELEZA, BENEFÍCIO e BEM. Josei Toda,
ele mesmo professor, e Daisaku Ikeda – os subsequentes presidentes da Soka
Gakkai – interpretaram o significado dos 3 valores em termos de carreira
profissional.
Presidente Toda disse: O ideal é encontrar um emprego que
você goste ( BELEZA), que proporciona
segurança financeira ( BENEFICIO ) e
onde você possa contribuir para criar valor na sociedade ( BEM).
Quando eu li isso pela primeira vez, eu já era advogado. Eu
imediatamente pensei duas coisas:
1.
Eu nunca tive nenhum dos valores satisfeitos nos
trabalhos anteriores ao de advogado.
2.
Eu percebi que pela primeira vez em minha vida
eu tinha alcançado um dos valores como trabalhador – BENEFÍCIO – eu estava
ganhando muito dinheiro como advogado.
Mas, eu gostaria de ter um emprego que eu gostasse, um
trabalho que contribuísse para um mundo melhor e que eu me sentisse realizado.
Eu queria ter os 3 valores citados pelo presidente Makiguchi no meu trabalho.
Meu emprego na firma se tornou extremamente cansativo e
estressante. Eu trabalhava longas horas, muitas vezes chegando em casa depois
da meia noite e, frequentemente, trabalhava nos finais de semana. Mesmo
gostando das pessoas com quem eu trabalhava, eu estava muito infeliz sendo
advogado. Eu era constantemente invadido por sentimentos de frustração, muitas
vezes querendo abandonar a carreira e voltar para a escola para me tornar um
professor. Porém, eu tinha uma dívida grande para pagar ( mensalidades da
escola de direito) - então, eu estava
sem saída, preso. Apesar de estar ganhando bem, eu ainda não era
financeiramente estável para mudar de profissão. Alguma coisa tinha que mudar.
Educação e criar valor para as pessoas ainda era o meu sonho
e, eu não iria desistir. Então, comecei a meditar, fazer daimoku ( entoar o
mantra Nam-Myoho-Rengue-Kyo), para encontrar uma forma de lentamente colocar a
área de educação na minha carreira de advogado. Eu pensei no compromisso da
minha firma em oferecer serviços legais gratuitos para causas de valor social,
e eu – de repente – tive uma ideia. Eu conversei com um colega de trabalho
sobre o meu interesse em educação e perguntei a ele se me apoiaria para que ee
prestasse serviços legais para uma escola de bairro de forma voluntária.
Ele disse sim. Porém, infelizmente, a escola de bairro que
eu tinha acesso já tinha um advogado prestando este tipo de serviço. Eu estava
tão ocupado que não tive tempo de procurar outra escola.
Eu comecei a escrever os meus objetivos para o próximo ano
assim que entrou dezembro. Enquanto eu escrevia sobre a minha determinação em
encontrar um emprego que me fizesse realizado, eu percebi que eu tinha muita dificuldade em aceitar que
eu merecia ter os 3 valores no meu trabalho. Parecia uma coisa tão distante que
uma parte de mim não acreditava que era possível ser feliz deste tanto numa
carreira profissional.
Esta descoberta incrível me levou a sentar e entoar o
mantra para descobrir porque eu achava que não merecia ser feliz na minha
profissão. Durante o daimoku eu cheguei a conclusão que se eu me ajudasse ,
mudando a minha vida, concretizando meus objetivos e realizando os meus sonhos –
o que incluiria minha carreira na área de educação – eu poderia mais facilmente
ajudar os outros.
A partir daí, eu comecei a meditar com a determinação de
ajudar os outros através da ajuda a mim mesmo, fazendo isso eu elevei minha
auto-estima e valor ao ponto que merecer
ser feliz já não era mais um problema.
Pouco tempo depois que comecei a entoar o mantra com essa
determinação, o meu colega de trabalho que tinha concordado em me apoiar no
trabalho voluntário me chamou para uma reunião na sua sala. Sabendo do meu
interesse na área de educação, ele animadamente me deu a notícia que uma escola
de bairro precisava de serviços legais exatamente na minha área de atuação –
direito trabalhista. Eu nem acreditei. Eu não apenas consegui trabalhar na área
como também peguei um caso muito importante e específico com o potencial de
afetar todas as escolas e professores que trabalham nelas no país inteiro.
O diretor executivo da escola estava encantado. Ele tinha sido um procurador federal, professor de direito e roteirista para programas de TV. Ele
investiu centenas de milhares de dólares do seu próprio bolso, seis anos
atrás, e dedicou o seu tempo para criar
uma escola de bairro pautada em justiça social e destinada a ensinar crianças
não privilegiadas para que elas tivessem condições de criar valor na sociedade
a qual estavam inseridas.
Eu trabalhei com ele o mês inteiro, e por saber do meu
interesse em escolas de bairro, ele dedicou um tempo extra para me ensinar tudo
o que ele podia sobre essas
instituições. Durante uma conversa, eu contei a ele sobre o meu sonho de
eventualmente seguir uma carreira em educação. Ele disse:
“Quem sabe? Talvez um dia você irá me substituir como
diretor executivo desta escola.” Isso foi a maior felicidade que eu tinha tido
na minha carreira até aquele dia.
Eu percebi que mesmo sem mudar de emprego, eu tinha começado
a manifestar os meus sonhos. Eu aprendi a valorizar a mim mesmo estendendo o
meu valor e entendimento de que eu merecia ser tão feliz quanto eu queria que
os outros fossem. Pela primeira vez em minha vida, eu sabia o que era ter os 3
valores no trabalho: eu sou bem pago ( BENEFICIO) para fazer o que eu gosto (
BELEZA ) e ajudar as pessoas da forma
que eu sempre sonhei em fazer ( BEM).
Tradução
não oficial do livro: The Buddha Next Door, ordinary people, extraordinary
stories.
Autores: Zan Gaudioso e Greg Martin
ISBN: 978-0-9779245-1-6