domingo, 10 de março de 2013

Minha filha de 4 patas!


Amigos:

Abaixo, escrevo um pouco da experiência maravilhosa que tive com minha filha de 4 patas, a Carmosa, mais conhecida como Gorda.
A morte dela ainda dói demais em mim. Mas sigo com a certeza de que nós duas cumprimos nossa missão. E nos encontraremos novamente.

"O inverno se transforma em primavera. Essa verdade universal é um fluxo que nada pode deter. Ao basearmos nossa vida na Lei Mística, podemos transformar definitivamente o mais doloroso inverno do sofrimento cármico em uma bela primavera de esperança. Essa é uma certeza inquestionável."

Pratico o Budismo de Nitiren Daishonin há 4 anos e desde então, tenho comprovado, tanto na minha própria vida como na vida dos que me rodeiam a força da recitação do Nam Myoho Rengue Kyo.

Desde que me converti ao Budismo Nitiren, ingressando na Soka Gakkai, tenho me dedicado a praticar este maravilhoso ensino com comprometimento, sinceridade, amor e paixão. Sempre procurei seguir as preciosas orientações do meu mestre da vida, Dr. Daisaku Ikeda, além de estar sempre disposta a atuar pelo kossen rufu, seja dentro da organização, seja em meio à sociedade. Sempre disse sim à Gakkai, porque cedo compreendi que todos os meus esforços seriam pouco, para demonstrar toda a gratidão que sinto por tudo que tenho recebido, transformado e constatado, através da minha prática da fé.

O relato que vou contar para vocês trata-se de um exemplo de como transformar uma situação desfavorável em favorável. Trata-se de como criar valor a partir de uma situação de intenso sofrimento, causado pela doença grave de um membro muito querido da nossa família, nossa gatinha Carmosa, mais conhecida como a Gorda.

Quando me converti a medida que meus companheiros descobriam que eu tinha animais em casa, eles sempre me contavam do quanto os animais gostam de ficar próximo ao Gohonzon enquanto recitamos daimoku e das experiências de alguns, quando algum deles adoecia ou morria. Muitos me contavam que seus bichinhos “partiam” tranquilamente, enquanto seus donos recitavam daimoku.

Sempre alimentei por meus filhos de quatro patas um amor incondicional, sentimento que aprendi a nutrir através do amor que minha filha Luiza, que desde muito cedo revelou sentir pelos animais, e que a levou a abraçar a medicina veterinária, anos mais tarde.

Sendo assim, eles cresceram no seio da família, sendo amados e respeitados. O Budismo nos ensina sobre a dignidade da vida, seja ela qual for, e nossos animais sempre foram tratados de maneira a sentirem que suas vidas são igualmente dignificadas, através do nosso amor, cuidado e respeito. E também gostam de ficar por perto quando recitamos daimoku ( meditação). Dos 4 gatos que tenho, o que mais gostou de frequentar as reuniões e ficar no colo de todos enquanto fazemos daimoku, era o Chico; a Gorda também vinha, mas não com a mesma constância.

A cerca de 4 meses comecei a observar que, toda vez que eu batia o sino para iniciar meu daimoku, a Gorda vinha correndo e me pedia colo. E ficava nele o tempo que estivesse fazendo minha prática. O curioso é que isso já havia acontecido com o Chico, quando ele adoeceu e agora a Gorda também estava apresentando o mesmo comportamento. A Gorda, como carinhosamente a chamávamos foi a gata mais dócil que já tive. Estava sempre de bom humor, sempre disposta a brincar, a dar e receber carinho. Adorava ficar entre as pessoas enquanto conversávamos. Todos os membros do bloco a conheciam por seu jeito meigo e por sua participação constante nas reuniões de budismo.

Paralelamente a isso, ela começou a emagrecer. Para resumir, após exames recebemos o resultado; a Gorda estava com linfoma, um câncer no sistema linfático, um localizado no intestino e outro em um dos rins. Não por acaso, eu também tive um linfoma há 12 anos atrás e, como me curei, achei que era tranquilo com os animais também.

Ela então iniciou a quimioterapia e nos primeiros 2 meses reagiu muito bem ao tratamento. Logo no início, já pensei na possibilidade de fazer chakubuku ( iniciar alguém na prática budista) na médica que a acompanhava, pois sabia que o objetivo daquilo tudo era poder propagar a Lei. Recitava daimoku com a finalidade de encontrar um meio de falar do NMRK e não por acaso, em uma das consultas ela comentou conosco que tínhamos uma energia muito boa. Logo, vi ali a oportunidade de falar do Budismo que praticamos. Foi quando ela comentou que já conhecia o NMRK e que já havia recitado anos atrás.

Definitivamente, como nada é por acaso, o budismo estava retornando na vida dela, através da doença da Gorda. Isso já me deixou muito feliz e consciente de que a doença dela não era em vão.
Na primeira etapa do tratamento, os tumores cederam. Porém, semana retrasada, veio à recidiva, e os tumores voltaram com agressividade ainda mais forte. Em questão de dias, nossa Gordinha caiu vertiginosamente, não deixando outra saída, a não ser a internação.

Paralelo a isso, estou em meio à elaboração do trabalho de conclusão de curso, a temida monografia. Ou seja, tudo acontecendo ao mesmo tempo. Porém, como Nitiren Daishonin nos ensina no momento crucial o sábio se alegra e o tolo se acovarda. Sabia que estava enfrentando um momento crucial e que cabia a mim determinar em meu coração a vitória ou a derrota.

Decidi recitar daimoku para tranquilizar meu coração e para proteger minha gatinha da maldade da doença, que poderia leva-la em estado de sofrimento, coisa que eu jamais desejaria para ela. Sabia que ela dependia de mim para recitar daimoku, para fazer chakubuku e assim, acumular boa sorte para numa próxima existência vir como ser humano de valor.

Passei a madrugada da quinta pra sexta da semana que a internamos pela 1ª vez recitando forte daimoku. Na sexta de manha, soubemos que ela tinha melhorado. Porém, no sábado soubemos que ela teve uma convulsão. Os médicos disseram que o câncer estava avançando cada vez mais.

No domingo fomos visita-la. Via em seus olhos um intenso sofrimento, o que partiu meu coração. A médica nos disse que ela estava num estado irreversível. Não havia mais nada a fazer a não ser a eutanásia ou os cuidados paliativos. O exame de ultrassom detectou que o câncer havia tomado grande parte do intestino o que a impedia até de fazer suas necessidades fisiológicas. O risco de um rompimento do intestino e de morte por septicemia era alto. Mesmo assim preferi leva-la para casa. Jamais permitiria que ela partisse longe de nós. Ainda mais naquele estado de sofrimento. Levamos nossa Gordinha pra casa. Antes, mais uma oportunidade; conversando com duas senhoras na antessala da clínica, pude falar do budismo para elas.

Porém, naquele momento  de dor confesso que não consegui segurar meu itinen. Entrei em profunda tristeza e desapontamento comigo mesma. Não tinha sido capaz de salvar minha filinha com meu daimoku. Cheguei a externalizar minha tristeza no Facebook. Porém, uma amiga me lembrou de que eu deveria recitar mais e mais daimoku para continuar protegendo a Gorda. E foi o que eu fiz.

Na terça ela foi a caixa de areia e vimos que ela havia defecado. Uma verdadeira festa pra quem corria um risco tão alto. Na quarta a levamos na médica. Foi quando ela apalpou o abdomem dela e estranhou não sentir a massa tumoral como antes. Logo chamou a oncologista, que também confirmou a diminuição da massa. Ela foi levada a sala de ultrassom. A médica não sabia explicar o ocorrido. O tumor havia regredido. Rapidamente ela falou: sua oração é mesmo poderosa.

Naquele instante me faltaram as palavras. Não sabia o que dizer. Chorava de alegria. Na sexta levamos a Gorda novamente para que a própria ultrassonografista realizasse o exame; a sala estava cheia de estudantes e médicos que faziam um curso de radiologia; logo no início ela falou: isso é um milagre. 

A médica veterinária disse: o milagre é dela e apontou pra mim. Tive mais uma oportunidade de propagar a Lei para todos que estavam ali. E senti uma alegria para qual não tenho palavras pra descrever. No Bs ( jornal budista) da semana passada, nosso mestre da vida, Dr. Daisaku Ikeda, nos fala sobre a coragem. Coragem para seguir adiante, mesmo quando todos já desistiram. Coragem para não se deixar ser derrotado pelos obstáculos. Coragem para romper com crenças, valores que nos impedem de avançar.

Percebi, que naquele instante a Gorda havia nos ensinado uma grande lição; que mesmo quando a situação parecer desfavorável ou irreversível, é justamente aí, que entra a nossa fé. E eu tenho fé no daimoku do Sutra de Lótus. Consegui, com a recitação do meu daimoku, reverter o sofrimento dela em alegria e pude criar valor com aquela situação.

A Gordinha voltou para casa. Continuei recitando muito daimoku, com a certeza de que ela iria sim, partir a qualquer momento, mas sem sofrimento, sem dor, em tranquilidade, como eu determinei em minhas orações. 

Sentia em seus olhos, no seu ronronar, que ela estava feliz. E isso me deixava feliz também. Ela havia cumprido a missão dela. Essa semana, ela estava bem fraquinha. A médica disse que somente uma transfusão poderia melhorar o estado dela. E orientou que nós a deixássemos na clinica. No inicio resisti, mas quando fui me despedir ela estava ronronando alto, com um olhar tranquilo. Entendi que ela estava feliz e que havia decidido partir.

Fiz daimoku até às 4 da manhã e deitei pra dormir um pouco. Quando minha filha foi a clinica levar a gatinha para doar sangue, recebeu a noticia: ela havia passado bem a noite, mas as 7:30 da manhã, ela simplesmente fechou os olhos e faleceu, com as palavras da médica plantonista: em tranquilidade.

Eu e Luiza fizemos o Gongyo ( cerimônia budista) com o corpinho dela presente. Agradeci a ela pela oportunidade que ela nos deu de comprovarmos a grandiosidade da Lei a partir do carma dela. Nós vencemos. Ela partiu em estado de tranquilidade, aliás para mim ela foi em Estado de Buda, pois conseguiu mobilizar todos os envolvidos em sua luta, plantando em seus corações a semente da esperança, contidos no Nam Myoho Rengue Kyo, alcançando a vitória absoluta. Gordinha partiu num dia de imensa alegria aqui em nossa casa, um dia de reunião de palestra, o que não poderia me trazer maior contentamento.

Quero agradecer ao meu mestre da vida, Dr. Daisaku Ikeda, por me incentivar a viver a minha vida com um profundo significado dia após dia.

Deixo aqui um agradecimento especial também a médica que assistiu nossa Gordinha, a Dra. Raquel, que além de excelente profissional, provou que sua missão para com os animais é cumprida com um coração pleno de humanidade e respeito pela dignidade de suas vidas.

Sei que alguns não conseguem compreender o amor que sentimos pelos animais. Somente quem convive com eles pode dimensionar a nobreza de seus corações. Faria tudo outra vez, se preciso fosse, pois como diz o poeta: “Tudo vale a pena, se a alma não é pequena”.  “Se eu tivesse mais alma pra dar, eu daria. Isso pra mim é viver”. 

Para finalizar, deixo as palavras de meu mestre, que, não por acaso, ilustram justamente o dia de hoje, 24 de novembro, retirada do livro 365 frases para as mulheres: “Alegria na vida e alegria na morte - eis uma das essências expostas no budismo. Uma pessoa que vive plenamente a vida não teme a morte.

Obrigada.

Luciene Andrade