Amigos:
Abaixo, escrevo um pouco da experiência maravilhosa que tive
com minha filha de 4 patas, a Carmosa, mais conhecida como Gorda.
A morte dela ainda dói demais em mim. Mas sigo com a certeza
de que nós duas cumprimos nossa missão. E nos encontraremos novamente.
"O inverno se
transforma em primavera. Essa verdade universal é um fluxo que nada pode deter.
Ao basearmos nossa vida na Lei Mística, podemos transformar definitivamente o
mais doloroso inverno do sofrimento cármico em uma bela primavera de esperança.
Essa é uma certeza inquestionável."
Pratico o Budismo de Nitiren Daishonin há 4 anos e desde
então, tenho comprovado, tanto na minha própria vida como na vida dos que me
rodeiam a força da recitação do Nam Myoho Rengue Kyo.
Desde que me converti ao Budismo Nitiren, ingressando na
Soka Gakkai, tenho me dedicado a praticar este maravilhoso ensino com
comprometimento, sinceridade, amor e paixão. Sempre procurei seguir as
preciosas orientações do meu mestre da vida, Dr. Daisaku Ikeda, além de estar
sempre disposta a atuar pelo kossen rufu, seja dentro da organização, seja em
meio à sociedade. Sempre disse sim à Gakkai, porque cedo compreendi que todos
os meus esforços seriam pouco, para demonstrar toda a gratidão que sinto por
tudo que tenho recebido, transformado e constatado, através da minha prática da
fé.
O relato que vou contar para vocês trata-se de um exemplo de
como transformar uma situação desfavorável em favorável. Trata-se de como criar
valor a partir de uma situação de intenso sofrimento, causado pela doença grave
de um membro muito querido da nossa família, nossa gatinha Carmosa, mais
conhecida como a Gorda.
Quando me converti a medida que meus companheiros descobriam
que eu tinha animais em casa, eles sempre me contavam do quanto os animais
gostam de ficar próximo ao Gohonzon enquanto recitamos daimoku e das
experiências de alguns, quando algum deles adoecia ou morria. Muitos me
contavam que seus bichinhos “partiam” tranquilamente, enquanto seus donos
recitavam daimoku.
Sempre alimentei por meus filhos de quatro patas um amor
incondicional, sentimento que aprendi a nutrir através do amor que minha filha
Luiza, que desde muito cedo revelou sentir pelos animais, e que a levou a
abraçar a medicina veterinária, anos mais tarde.
Sendo assim, eles cresceram no seio da família, sendo amados
e respeitados. O Budismo nos ensina sobre a dignidade da vida, seja ela qual
for, e nossos animais sempre foram tratados de maneira a sentirem que suas
vidas são igualmente dignificadas, através do nosso amor, cuidado e respeito. E
também gostam de ficar por perto quando recitamos daimoku ( meditação). Dos 4 gatos que
tenho, o que mais gostou de frequentar as reuniões e ficar no colo de todos
enquanto fazemos daimoku, era o Chico; a Gorda também vinha, mas não com a
mesma constância.
A cerca de 4 meses comecei a observar que, toda vez que eu
batia o sino para iniciar meu daimoku, a Gorda vinha correndo e me pedia colo.
E ficava nele o tempo que estivesse fazendo minha prática. O curioso é que isso
já havia acontecido com o Chico, quando ele adoeceu e agora a Gorda também
estava apresentando o mesmo comportamento. A Gorda, como carinhosamente a
chamávamos foi a gata mais dócil que já tive. Estava sempre de bom humor,
sempre disposta a brincar, a dar e receber carinho. Adorava ficar entre as
pessoas enquanto conversávamos. Todos os membros do bloco a conheciam por seu
jeito meigo e por sua participação constante nas reuniões de budismo.
Paralelamente a isso, ela começou a emagrecer. Para resumir,
após exames recebemos o resultado; a Gorda estava com linfoma, um câncer no
sistema linfático, um localizado no intestino e outro em um dos rins. Não por
acaso, eu também tive um linfoma há 12 anos atrás e, como me curei, achei que
era tranquilo com os animais também.
Ela então iniciou a quimioterapia e nos primeiros 2 meses
reagiu muito bem ao tratamento. Logo no início, já pensei na possibilidade de
fazer chakubuku ( iniciar alguém na prática budista) na médica que a acompanhava, pois sabia que o objetivo daquilo
tudo era poder propagar a Lei. Recitava daimoku com a finalidade de encontrar
um meio de falar do NMRK e não por acaso, em uma das consultas ela comentou
conosco que tínhamos uma energia muito boa. Logo, vi ali a oportunidade de
falar do Budismo que praticamos. Foi quando ela comentou que já conhecia o NMRK
e que já havia recitado anos atrás.
Definitivamente, como nada é por acaso, o budismo estava
retornando na vida dela, através da doença da Gorda. Isso já me deixou muito
feliz e consciente de que a doença dela não era em vão.
Na primeira etapa do tratamento, os tumores cederam. Porém,
semana retrasada, veio à recidiva, e os tumores voltaram com agressividade
ainda mais forte. Em questão de dias, nossa Gordinha caiu vertiginosamente, não
deixando outra saída, a não ser a internação.
Paralelo a isso, estou em meio à elaboração do trabalho de
conclusão de curso, a temida monografia. Ou seja, tudo acontecendo ao mesmo
tempo. Porém, como Nitiren Daishonin nos ensina no momento crucial o sábio se
alegra e o tolo se acovarda. Sabia que estava enfrentando um momento crucial e
que cabia a mim determinar em meu coração a vitória ou a derrota.
Decidi recitar daimoku para tranquilizar meu coração e para
proteger minha gatinha da maldade da doença, que poderia leva-la em estado de
sofrimento, coisa que eu jamais desejaria para ela. Sabia que ela dependia de
mim para recitar daimoku, para fazer chakubuku e assim, acumular boa sorte para
numa próxima existência vir como ser humano de valor.
Passei a madrugada da quinta pra sexta da semana que a
internamos pela 1ª vez recitando forte daimoku. Na sexta de manha, soubemos que
ela tinha melhorado. Porém, no sábado soubemos que ela teve uma convulsão. Os
médicos disseram que o câncer estava avançando cada vez mais.
No domingo fomos visita-la. Via em seus olhos um intenso
sofrimento, o que partiu meu coração. A médica nos disse que ela estava num
estado irreversível. Não havia mais nada a fazer a não ser a eutanásia ou os
cuidados paliativos. O exame de ultrassom detectou que o câncer havia tomado
grande parte do intestino o que a impedia até de fazer suas necessidades
fisiológicas. O risco de um rompimento do intestino e de morte por septicemia
era alto. Mesmo assim preferi leva-la para casa. Jamais permitiria que ela
partisse longe de nós. Ainda mais naquele estado de sofrimento. Levamos nossa
Gordinha pra casa. Antes, mais uma oportunidade; conversando com duas senhoras
na antessala da clínica, pude falar do budismo para elas.
Porém, naquele momento
de dor confesso que não consegui segurar meu itinen. Entrei em profunda
tristeza e desapontamento comigo mesma. Não tinha sido capaz de salvar minha
filinha com meu daimoku. Cheguei a externalizar minha tristeza no Facebook.
Porém, uma amiga me lembrou de que eu deveria recitar mais e mais daimoku para
continuar protegendo a Gorda. E foi o que eu fiz.
Na terça ela foi a caixa de areia e vimos que ela havia
defecado. Uma verdadeira festa pra quem corria um risco tão alto. Na quarta a
levamos na médica. Foi quando ela apalpou o abdomem dela e estranhou não sentir
a massa tumoral como antes. Logo chamou a oncologista, que também confirmou a
diminuição da massa. Ela foi levada a sala de ultrassom. A médica não sabia
explicar o ocorrido. O tumor havia regredido. Rapidamente ela falou: sua oração
é mesmo poderosa.
Naquele instante me faltaram as palavras. Não sabia o que
dizer. Chorava de alegria. Na sexta levamos a Gorda novamente para que a
própria ultrassonografista realizasse o exame; a sala estava cheia de
estudantes e médicos que faziam um curso de radiologia; logo no início ela
falou: isso é um milagre.
A médica veterinária disse: o milagre é dela e
apontou pra mim. Tive mais uma oportunidade de propagar a Lei para todos que
estavam ali. E senti uma alegria para qual não tenho palavras pra descrever. No
Bs ( jornal budista) da semana passada, nosso mestre da vida, Dr. Daisaku Ikeda, nos fala sobre a
coragem. Coragem para seguir adiante, mesmo quando todos já desistiram. Coragem
para não se deixar ser derrotado pelos obstáculos. Coragem para romper com
crenças, valores que nos impedem de avançar.
Percebi, que naquele instante a Gorda havia nos ensinado uma
grande lição; que mesmo quando a situação parecer desfavorável ou irreversível,
é justamente aí, que entra a nossa fé. E eu tenho fé no daimoku do Sutra de
Lótus. Consegui, com a recitação do meu daimoku, reverter o sofrimento dela em
alegria e pude criar valor com aquela situação.
A Gordinha voltou para casa. Continuei recitando muito
daimoku, com a certeza de que ela iria sim, partir a qualquer momento, mas sem
sofrimento, sem dor, em tranquilidade, como eu determinei em minhas orações.
Sentia em seus olhos, no seu ronronar, que ela estava feliz. E isso me deixava
feliz também. Ela havia cumprido a missão dela. Essa semana, ela estava bem
fraquinha. A médica disse que somente uma transfusão poderia melhorar o estado
dela. E orientou que nós a deixássemos na clinica. No inicio resisti, mas
quando fui me despedir ela estava ronronando alto, com um olhar tranquilo.
Entendi que ela estava feliz e que havia decidido partir.
Fiz daimoku até às 4 da manhã e deitei pra dormir um pouco.
Quando minha filha foi a clinica levar a gatinha para doar sangue, recebeu a
noticia: ela havia passado bem a noite, mas as 7:30 da manhã, ela simplesmente
fechou os olhos e faleceu, com as palavras da médica plantonista: em
tranquilidade.
Eu e Luiza fizemos o Gongyo ( cerimônia budista) com o corpinho dela presente.
Agradeci a ela pela oportunidade que ela nos deu de comprovarmos a
grandiosidade da Lei a partir do carma dela. Nós vencemos. Ela partiu em estado
de tranquilidade, aliás para mim ela foi em Estado de Buda, pois conseguiu
mobilizar todos os envolvidos em sua luta, plantando em seus corações a semente
da esperança, contidos no Nam Myoho Rengue Kyo, alcançando a vitória absoluta.
Gordinha partiu num dia de imensa alegria aqui em nossa casa, um dia de reunião
de palestra, o que não poderia me trazer maior contentamento.
Quero agradecer ao meu mestre da vida, Dr. Daisaku Ikeda,
por me incentivar a viver a minha vida com um profundo significado dia após
dia.
Deixo aqui um agradecimento especial também a médica que
assistiu nossa Gordinha, a Dra. Raquel, que além de excelente profissional,
provou que sua missão para com os animais é cumprida com um coração pleno de
humanidade e respeito pela dignidade de suas vidas.
Sei que alguns não conseguem compreender o amor que sentimos
pelos animais. Somente quem convive com eles pode dimensionar a nobreza de seus
corações. Faria tudo outra vez, se preciso fosse, pois como diz o poeta: “Tudo
vale a pena, se a alma não é pequena”.
“Se eu tivesse mais alma pra dar, eu daria. Isso pra mim é viver”.
Para finalizar, deixo as palavras de meu mestre, que, não
por acaso, ilustram justamente o dia de hoje, 24 de novembro, retirada do livro
365 frases para as mulheres: “Alegria na vida e alegria na morte - eis uma das
essências expostas no budismo. Uma pessoa que vive plenamente a vida não teme a
morte.”
Obrigada.
Luciene Andrade