Jornal Brasil Seikyo, edição 519 - 12/Novembro/2011
Em meio a uma das maiores e mais conhecidas tragédias de todos os tempos, surgem o drama e as lições das pessoas envolvidas ante ao momento crucial da vida delas. O texto a seguir é um trecho do discurso do presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda, proferido nos Estados Unidos, em 5 de fevereiro de 1987.
O mais famoso acidente naval ocorreu com o esplêndido transatlântico britânico Titanic, em 1912, e abalou o mundo, sendo assunto relevante até hoje.
O Titanic era considerado insubmersível, porque estava equipado com a mais sofisticada e moderna tecnologia. Apesar desse equipamento, o navio afundou ao colidir com um iceberg.
Cerca de 1.500 pessoas perderam a vida. O acidente estava além da imaginação naqueles dias. O fato ainda é bem lembrado por revelar vividamente a beleza e a monstruosidade da natureza humana, numa ocasião de tragédia.
Relato esse acidente dentro da perspectiva budista, ao drama da vida e da morte que, ocasionalmente, abala a existência de uma pessoa. Em virtude da divergência dos registros históricos, alguns dados podem ser inexatos.
O Titanic, ostentando beleza e perfeição, partiu para sua viagem inaugural saindo do porto de Southampton, na Inglaterra, no dia 10 de abril. Passou pela França, Irlanda e rumou para Nova York, Estados Unidos, no dia seguinte.
Entretanto, após percorrer dois terços do trajeto pelo Atlântico Norte, colidiu com enorme iceberg próximo à Terra Nova, a 41o46’ de latitude norte e 50o14’, de longitude oeste. Inacreditavelmente, esse navio colossal mergulhou no oceano, no quinto dia de sua primeira viagem.
A imponência da embarcação
O Titanic pertencia à companhia britânica White Star Line. Pesava 46.329 toneladas e tinha 269 metros de comprimento por 28 metros de largura. Media 52 metros desde a sua quilha até o topo das quatro chaminés. Seus motores tinham a potência de 55 mil cavalos-vapor (HPs) e desenvolvia uma velocidade de até 25 nós.
As características das quais os construtores mais se orgulhavam eram o casco duplo e as quinze anteparas de aço impermeáveis. Graças a esses recursos, o navio era considerado insubmersível e estava equipado somente com vinte barcos salva-vidas, suficientes para acomodar metade dos passageiros. Foi um caso de terrível falta de prevenção.
O naufrágio ocorreu devido à colisão com enorme iceberg de aproximadamente cem metros de extensão e 40 metros de altura, considerando a parte acima do nível do mar. Em abril, não se esperava a presença de um iceberg tão grande flutuando no oceano. A colisão provocou uma fenda de 90 metros na parte da frente do casco à direita. A abertura estava muito elevada para que as paredes divisórias, embora bem projetadas, interrompessem a invasão da água.
Coincidentemente, o Titanic havia experimentado um inesperado incidente em 10 de abril, no mesmo dia de sua partida. Em plena festividade da viagem inaugural, ele escapou por pouco de uma colisão com o navio norte-americano New York, logo após deixar a Inglaterra. Esse incidente parecia anunciar seu encontro com o desastre.
Somente os passageiros da primeira e segunda classes haviam embarcado no Titanic em Southampton, e os passageiros da terceira classe, incluindo imigrantes, embarcaram nos portos de Cherbourg, na França, e de Queenstown, na Irlanda. Eram ao todo 1.320 passageiros e 915 tripulantes, num total de 2.235 pessoas a bordo.
De acordo com um relatório, o total de mortos é de 1.522 pessoas, salvando-se, portanto, 713 pessoas. A maioria das mulheres e das crianças da primeira e da segunda classes salvou-se. Porém, entre as crianças da terceira classe, somente 23 das 76 foram salvas.
Até então, o Titanic era o maior navio da história e o mais suntuoso do século. Celebridades e milionários ocuparam as cabines de luxo e os esplêndidos camarotes decorados em estilo real britânico. Os passageiros jamais sonhavam que o navio afundaria. Afirma-se que, mesmo após a colisão, algumas pessoas que estavam nos compartimentos superiores colocaram pedaços do iceberg em seus copos de uísque.
Ninguém pode prever o que acontecerá no momento seguinte. O destino é imprevisível. Por isso, tenhamos em mente que a fé no Budismo Nitiren nos possibilita mudar o destino e criar a felicidade que transcende a transitoriedade do nascimento e da morte.
Diante da morte, qual significado teria a fama e a fortuna para os milionários e as celebridades a bordo do Titanic? Em sua obra A Night to Remember, Walter Lord escreveu: “Se a riqueza significou tão pouco nesta fria noite de abril, teria significado tanto no resto do ano?”
Essas palavras expressam a futilidade da riqueza material, do poder e da posição social quando um indivíduo confronta a morte, e a insignificância da vida quando alguém busca somente essas coisas.
Qual será a riqueza eterna? Não é outra senão a fé na imutável Lei do Myoho. Como corajosos Bodhisattvas da Terra, é nossa missão ajudar as pessoas a despertar para esta imensurável riqueza e fazê-la brilhar dentro de nós. Jamais devemos esquecer a honra e o orgulho de viver à altura da nossa grande missão. (...)
O nome Titanic deriva do deus Titã da mitologia grega. A Inglaterra era um gigante nos campos dos transportes marítimos e da construção naval naquele tempo. O Titanic estava embasado num vasto poder financeiro e capacidade tecnológica. Quando afundou, inesperadamente, houve imenso impacto na sociedade, especialmente sobre os envolvidos com a tecnologia. Foi como um relâmpago em céu claro.
Após o incidente, um grupo de clérigos comentou: “Este acidente é uma advertência dos céus para repreender as pessoas por sua excessiva confiança no progresso materialista e para despertá-las de sua presunção”. O acidente do Titanic esmagou a profunda confiança dos homens na supremacia da tecnologia.
Após a colisão, às 23h40, de 14 de abril, o construtor do Titanic, Thomas Andrews, que estava a bordo, calculou os danos e avisou ao comandante Edward J. Smith que o navio afundaria. A 0h15, o comandante ordenou aos operadores de telégrafo para solicitar socorro. O operador John George Phillips enviou sinais de socorro até as 2h10.
A 0h30, o comandante ordenou que as mulheres e as crianças embarcassem nos botes salva-vidas. Vestindo os coletes, elas lotaram os botes, em meio à crescente agitação.
Tentando acalmar as pessoas, oito músicos, que se apresentaram no salão de festas naquela noite, começaram a tocar uma música suave no convés. Esse comportamento admirável me comove. A bela música tem o poder de aliviar a ansiedade e o temor, acendendo a luz da esperança no coração das pessoas. O espírito dos corajosos músicos tem algo em comum com a missão das bandas masculina e feminina da Soka Gakkai.
Assim como foi dada prioridade às mulheres e às crianças para embarcar nos botes salva-vidas, é importante para os líderes do Kossen-rufu considerá-las em primeiro lugar em nossas atividades e incentivá-las. Em especial, espero que os membros das Divisões Sênior e Masculina de Jovens sejam atenciosos a ponto de criar condições para que as integrantes da Divisão Feminina pratiquem o Budismo Nitiren tranquilamente. Digo isso porque sei que muitas mulheres se dedicam sinceramente às atividades em prol do Kossen-rufu.
Voltando à história do Titanic, entre as celebridades a bordo estava Benjamin Guggenheim — magnata da mineração e siderurgia. No momento de emergência, ele não poupou a vida para salvar os demais. Enquanto ajudava nos botes salva-vidas, pediu para uma pessoa: “Se alguma coisa acontecer comigo, por favor diga à minha esposa que fiz o máximo”. Assim, Benjamin compartilhou o mesmo destino do navio, dizendo: “Morrerei como um homem honrado, vestindo minhas melhores roupas”.
Ele tinha prestígio social, riqueza e fama, mas não foi escravizado por isso. Benjamin Guggenheim salvou os outros ao risco da própria vida. Sua atitude é a de um homem realmente corajoso.
Em termos do princípio budista dos Dez Mundos, seu estado da vida incorporava o de Bodhisattva. Sua ação correspondeu ao espírito budista fundamental de salvar quem está sofrendo. Similarmente, nós, praticantes do Budismo, jamais devemos nos esquecer de nos comportamos com benevolência.
A bordo do transatlântico estava o casal Isidor Straus. Após dirigir-se para um bote salva-vidas, a senhora Straus voltou ao navio para ficar ao lado de seu marido, e disse: “Vivemos juntos durante muitos anos. Aonde você for, eu também irei”. Ela poderia ter salvo sua vida, mas não quis. Preferiu voltar para seu marido. Foi realmente uma bela expressão de amor entre marido e mulher. Esse ato do casal enche meu coração com profundas emoções. Meu desejo sincero é de que nós, enquanto avançamos rumo ao objetivo do Kossen-rufu, reforcemos o belo laço de marido e mulher, independentemente dos ataques das tempestades do destino. (...)
Alguns homens estavam nos botes salva-vidas para navegá-los. Como a prioridade de embarque era das mulheres e das crianças, a maioria dos homens seguiu esse procedimento, como Benjamin Guggenheim. Porém, houve um que saltou ao bote, buscando somente a própria segurança, talvez com medo da morte. Seu nome era Daniel Buckley, um passageiro da terceira classe. Ocultando seu rosto com um xale feminino, ele permaneceu junto às mulheres.
A conduta de J. Bruce Ismay, proprietário do navio e presidente da White Star Line, foi igualmente repugnante. Primeiro, ele levou muitas pessoas aos botes. Mas, no último momento, embarcou num deles, abandonando sua posição. A ação egocêntrica é sinal de covardia. J. Bruce Ismay retornou em segurança à Inglaterra, mas afastou-se de seu cargo, para levar uma existência solitária.
Concluo isso, por meio de minha observação da vida das pessoas. Continuem a jornada pelo caminho da fé por toda a vida, o qual decidiram seguir inicialmente.
Há outro episódio relacionado a J. Bruce Ismay no acidente do Titanic. Por meio de sua autoridade como proprietário do navio, ele mandou mudar o programa original, sem discutir o assunto com o comandante Smith. Se não fosse por essa decisão, o Titanic poderia ter evitado o encontro com o iceberg e chegado ao destino em segurança.
Em tudo, uma boa discussão é indispensável antes de decidir. As decisões unilaterais põem em perigo o futuro de qualquer organização. Esse princípio aplica-se também à SGI, que existe para realizar o Kossen-rufu.
Evidentemente, houve homens igualmente corajosos. O comandante Smith trabalhava havia 38 anos na White Star Line. Era um veterano muito respeitado pela tripulação e pelos passageiros. Da mesma forma os veteranos na Soka Gakkai, que mantêm uma prática estável, demonstrando a prova real durante muitos anos, e se dedicam a orientar e incentivar os membros ao caminho da felicidade.
Às 2h05, o comandante Smith percebeu que o navio afundaria inevitavelmente. Ele entrou na sala de telégrafos, onde os operadores enviavam freneticamente o SOS, e disse-lhes: “Homens, vocês já cumpriram seu dever! Não poderão fazer mais nada. Deixem a cabine... cuidem de si mesmos. Estão dispensados!” E, assim, o comandante elogiou os tripulantes antes de afundar junto com o navio.
O construtor do navio, Thomas Andrews, fez tudo para ajudar as mulheres a escapar. No fim, sem usar o próprio colete flutuante, após esgotadas suas energias no salvamento, viu a popa do navio afundar. Trabalhando para cumprir suas responsabilidades, não abandonou o navio, e afundou com ele.
No convés, os músicos não paravam de tocar, e o local começava a ser invadido pelas enormes e sucessivas ondas. Enquanto o navio afundava, a proa virou-se lentamente para cima, em direção ao céu estrelado. Às 2h10, a pressão dentro do navio diminuiu rapidamente. Nesse ínterim, os músicos começaram a tocar o hino Outono, até o último momento.
Algumas pessoas são corajosas, outras, covardes. Os covardes são os seres humanos mais miseráveis. Essa covardia corresponde à “morte viva”.
A conduta verdadeiramente honrada não se encontra na posição ou na aparência. Pelo contrário, está na capacidade das pessoas de se dedicarem a uma nobre causa num momento crítico, por meio da ação corajosa e determinada.
O maior navio do mundo finalmente naufragou às 2h20, duas horas e quarenta minutos após a colisão. Muitos dos que foram lançados ao oceano perderam a vida nas águas geladas, onde a temperatura era de três graus centígrados negativos.
A confusão e a desgraça imperavam também nos botes salva-vidas. Eles estavam mal equipados e as ordens eram tão confusas que alguns partiram rapidamente, deixando muitos passageiros para trás. Não longe dos botes, havia inúmeras pessoas na água. Com exceção de um, todos os botes as ignoraram, negando-lhes salvação. Houve ainda o caso de um indivíduo bater com o remo numa pessoa que procurava agarrar-se desesperadamente ao bote. Algumas pessoas perderam a sanidade devido ao medo extremo. De fato, era como um inferno no meio do oceano.
A mente humana muda de momento a momento. Ela pode tornar-se infinitamente feia e desprezível ao confrontar-se com uma situação de vida e morte. Quando imagino a cena infernal do naufrágio do Titanic, gostaria que as pessoas a bordo estivessem recitando o Nam-myoho-rengue-kyo. De qualquer modo, não deixo de orar por quem perdeu a vida naquele acidente.
O destemor do líder e as reações diante da catástrofe
Após a colisão, às 23h40, de 14 de abril, o construtor do Titanic, Thomas Andrews, que estava a bordo, calculou os danos e avisou ao comandante Edward J. Smith que o navio afundaria. A 0h15, o comandante ordenou aos operadores de telégrafo para solicitar socorro. O operador John George Phillips enviou sinais de socorro até as 2h10.
A 0h30, o comandante ordenou que as mulheres e as crianças embarcassem nos botes salva-vidas. Vestindo os coletes, elas lotaram os botes, em meio à crescente agitação.
Tentando acalmar as pessoas, oito músicos, que se apresentaram no salão de festas naquela noite, começaram a tocar uma música suave no convés. Esse comportamento admirável me comove. A bela música tem o poder de aliviar a ansiedade e o temor, acendendo a luz da esperança no coração das pessoas. O espírito dos corajosos músicos tem algo em comum com a missão das bandas masculina e feminina da Soka Gakkai.
Assim como foi dada prioridade às mulheres e às crianças para embarcar nos botes salva-vidas, é importante para os líderes do Kossen-rufu considerá-las em primeiro lugar em nossas atividades e incentivá-las. Em especial, espero que os membros das Divisões Sênior e Masculina de Jovens sejam atenciosos a ponto de criar condições para que as integrantes da Divisão Feminina pratiquem o Budismo Nitiren tranquilamente. Digo isso porque sei que muitas mulheres se dedicam sinceramente às atividades em prol do Kossen-rufu.
Voltando à história do Titanic, entre as celebridades a bordo estava Benjamin Guggenheim — magnata da mineração e siderurgia. No momento de emergência, ele não poupou a vida para salvar os demais. Enquanto ajudava nos botes salva-vidas, pediu para uma pessoa: “Se alguma coisa acontecer comigo, por favor diga à minha esposa que fiz o máximo”. Assim, Benjamin compartilhou o mesmo destino do navio, dizendo: “Morrerei como um homem honrado, vestindo minhas melhores roupas”.
Ele tinha prestígio social, riqueza e fama, mas não foi escravizado por isso. Benjamin Guggenheim salvou os outros ao risco da própria vida. Sua atitude é a de um homem realmente corajoso.
Em termos do princípio budista dos Dez Mundos, seu estado da vida incorporava o de Bodhisattva. Sua ação correspondeu ao espírito budista fundamental de salvar quem está sofrendo. Similarmente, nós, praticantes do Budismo, jamais devemos nos esquecer de nos comportamos com benevolência.
A bordo do transatlântico estava o casal Isidor Straus. Após dirigir-se para um bote salva-vidas, a senhora Straus voltou ao navio para ficar ao lado de seu marido, e disse: “Vivemos juntos durante muitos anos. Aonde você for, eu também irei”. Ela poderia ter salvo sua vida, mas não quis. Preferiu voltar para seu marido. Foi realmente uma bela expressão de amor entre marido e mulher. Esse ato do casal enche meu coração com profundas emoções. Meu desejo sincero é de que nós, enquanto avançamos rumo ao objetivo do Kossen-rufu, reforcemos o belo laço de marido e mulher, independentemente dos ataques das tempestades do destino. (...)
Alguns homens estavam nos botes salva-vidas para navegá-los. Como a prioridade de embarque era das mulheres e das crianças, a maioria dos homens seguiu esse procedimento, como Benjamin Guggenheim. Porém, houve um que saltou ao bote, buscando somente a própria segurança, talvez com medo da morte. Seu nome era Daniel Buckley, um passageiro da terceira classe. Ocultando seu rosto com um xale feminino, ele permaneceu junto às mulheres.
A conduta de J. Bruce Ismay, proprietário do navio e presidente da White Star Line, foi igualmente repugnante. Primeiro, ele levou muitas pessoas aos botes. Mas, no último momento, embarcou num deles, abandonando sua posição. A ação egocêntrica é sinal de covardia. J. Bruce Ismay retornou em segurança à Inglaterra, mas afastou-se de seu cargo, para levar uma existência solitária.
Uma vez perdida a confiança dos outros e iniciada uma existência covarde, a vida torna-se solitária e miserável.
Concluo isso, por meio de minha observação da vida das pessoas. Continuem a jornada pelo caminho da fé por toda a vida, o qual decidiram seguir inicialmente.
Há outro episódio relacionado a J. Bruce Ismay no acidente do Titanic. Por meio de sua autoridade como proprietário do navio, ele mandou mudar o programa original, sem discutir o assunto com o comandante Smith. Se não fosse por essa decisão, o Titanic poderia ter evitado o encontro com o iceberg e chegado ao destino em segurança.
Em tudo, uma boa discussão é indispensável antes de decidir. As decisões unilaterais põem em perigo o futuro de qualquer organização. Esse princípio aplica-se também à SGI, que existe para realizar o Kossen-rufu.
Evidentemente, houve homens igualmente corajosos. O comandante Smith trabalhava havia 38 anos na White Star Line. Era um veterano muito respeitado pela tripulação e pelos passageiros. Da mesma forma os veteranos na Soka Gakkai, que mantêm uma prática estável, demonstrando a prova real durante muitos anos, e se dedicam a orientar e incentivar os membros ao caminho da felicidade.
Às 2h05, o comandante Smith percebeu que o navio afundaria inevitavelmente. Ele entrou na sala de telégrafos, onde os operadores enviavam freneticamente o SOS, e disse-lhes: “Homens, vocês já cumpriram seu dever! Não poderão fazer mais nada. Deixem a cabine... cuidem de si mesmos. Estão dispensados!” E, assim, o comandante elogiou os tripulantes antes de afundar junto com o navio.
O construtor do navio, Thomas Andrews, fez tudo para ajudar as mulheres a escapar. No fim, sem usar o próprio colete flutuante, após esgotadas suas energias no salvamento, viu a popa do navio afundar. Trabalhando para cumprir suas responsabilidades, não abandonou o navio, e afundou com ele.
No convés, os músicos não paravam de tocar, e o local começava a ser invadido pelas enormes e sucessivas ondas. Enquanto o navio afundava, a proa virou-se lentamente para cima, em direção ao céu estrelado. Às 2h10, a pressão dentro do navio diminuiu rapidamente. Nesse ínterim, os músicos começaram a tocar o hino Outono, até o último momento.
Algumas pessoas são corajosas, outras, covardes. Os covardes são os seres humanos mais miseráveis. Essa covardia corresponde à “morte viva”.
A conduta verdadeiramente honrada não se encontra na posição ou na aparência. Pelo contrário, está na capacidade das pessoas de se dedicarem a uma nobre causa num momento crítico, por meio da ação corajosa e determinada.
O maior navio do mundo finalmente naufragou às 2h20, duas horas e quarenta minutos após a colisão. Muitos dos que foram lançados ao oceano perderam a vida nas águas geladas, onde a temperatura era de três graus centígrados negativos.
A confusão e a desgraça imperavam também nos botes salva-vidas. Eles estavam mal equipados e as ordens eram tão confusas que alguns partiram rapidamente, deixando muitos passageiros para trás. Não longe dos botes, havia inúmeras pessoas na água. Com exceção de um, todos os botes as ignoraram, negando-lhes salvação. Houve ainda o caso de um indivíduo bater com o remo numa pessoa que procurava agarrar-se desesperadamente ao bote. Algumas pessoas perderam a sanidade devido ao medo extremo. De fato, era como um inferno no meio do oceano.
A mente humana muda de momento a momento. Ela pode tornar-se infinitamente feia e desprezível ao confrontar-se com uma situação de vida e morte. Quando imagino a cena infernal do naufrágio do Titanic, gostaria que as pessoas a bordo estivessem recitando o Nam-myoho-rengue-kyo. De qualquer modo, não deixo de orar por quem perdeu a vida naquele acidente.
Simples trabalho ou verdadeira missão?
Dos navios que se encontravam nas proximidades daquelas águas, o único que veio em socorro do Titanic foi o Carpathia. Uma embarcação inglesa, que abriu caminho entre os icebergs. Seu comandante, Arthur H. Rostron, reuniu a tripulação que estava de folga e dirigiu-se rapidamente ao Titanic.
Preparou ajuda médica, alimento, cobertores, da forma mais dedicada e sincera possível. O primeiro barco salva-vidas foi apanhado às 4h10. Foram necessárias quatro horas para transferir completamente as pessoas dos botes para o navio. Os passageiros do Carpathia também ajudaram voluntariamente nessa tarefa desesperada.
Eram 21h35 de 18 de abril, quando o Carpathia ancorou no cais do porto de Nova York. O porto fora invadido por trinta mil pessoas que aguardavam a volta dos sobreviventes. Uma mulher desembarcou primeiro. Ela moveu-se com grande esforço e caiu bruscamente. Era uma visão tão penalizante que a multidão emitiu um gemido de agonia e calou-se.
O que faziam os outros navios enquanto o Carpathia prontamente dava assistência à embarcação acidentada?
No momento do acidente, o navio mais próximo era o Californian. Encontrava-se apenas a 10 milhas do Titanic, ao passo que o Carpathia estava a 58 milhas de distância. Surge a questão: “Por que o Californian não ajudou o Titanic se estava fisicamente mais perto? Uma grande lição encontra-se oculta na resposta a essa pergunta.
A razão é que o Californian não recebeu a desesperada mensagem do Titanic. Um descaso dos operadores de telégrafo do Californian, que trabalhavam por mera obrigação. Eles haviam encerrado os trabalhos às 23h30 da noite do acidente. Foi apenas dez minutos antes de o Titanic chocar-se com o iceberg. Se o operador tivesse permanecido em seu posto por mais tempo e captado a mensagem do Titanic, mais vidas teriam sido salvas.
Além disso, várias pessoas a bordo do Californian viram os primeiros fogos de socorro lançados pelo Titanic. Embora tivessem visto o relampejar da luz branca, imaginaram ser apenas o piscar das luzes do mastro, e simplesmente ignoraram o fato. Se alguém tivesse se comunicado com o Titanic para verificar se havia algum problema, um grande desastre teria sido evitado. Como afirmo sempre, pequenos gestos são de suprema importância.
O comandante Rostron, do Carpathia, foi condecorado pelos esforços. Sua honra ainda brilha na história da humanidade. Em contraste, o Californian recebeu fortes críticas e permanece na história como exemplo de deficiência. É verdade que lamentações não fazem nenhum bem. O Californian tinha uma vantagem quanto à sua posição, mas, em razão do descuido e descaso dos tripulantes, chamou para si a infame desgraça.
O fato de sair do ritmo mesmo um pouco em sua determinação pode ser a causa de uma irremediável derrota. Essa verdade aplica-se tanto às pessoas como às sociedades e organizações. Ela se aplica ainda mais ao rigoroso mundo da fé e do Kossen-rufu. (...)
A tragédia do Titanic contém um grande número de dramas e lições. Se encararem meramente como uma tragédia do passado, nada aprenderão dela. Entretanto, se a aplicarem da perspectiva budista baseada na eternidade da vida, aprenderão muito com esse acidente e descobrirão a forma como as pessoas devem viver.
Quando alguém encara a realidade da morte, ele mostra seu verdadeiro caráter como ser humano. Em outras palavras, o “eu” demonstra seu verdadeiro aspecto num momento crucial da vida ao confrontar-se com a morte.
No caso do Titanic, o confronto com a morte iluminou a condição de vida daqueles que se depararam com essa realidade. A morte é um fato real, não somente para os passageiros do Titanic — ela está à espera de todos. Em outras palavras, todos estão destinados a morrer. Ninguém pode escapar da morte.
Como navegar por esse severo mar de sofrimento é a maior questão dos seres humanos. O mais importante é que a solução para essa questão encontra-se completamente revelada na Lei Mística.
Preparou ajuda médica, alimento, cobertores, da forma mais dedicada e sincera possível. O primeiro barco salva-vidas foi apanhado às 4h10. Foram necessárias quatro horas para transferir completamente as pessoas dos botes para o navio. Os passageiros do Carpathia também ajudaram voluntariamente nessa tarefa desesperada.
Eram 21h35 de 18 de abril, quando o Carpathia ancorou no cais do porto de Nova York. O porto fora invadido por trinta mil pessoas que aguardavam a volta dos sobreviventes. Uma mulher desembarcou primeiro. Ela moveu-se com grande esforço e caiu bruscamente. Era uma visão tão penalizante que a multidão emitiu um gemido de agonia e calou-se.
O que faziam os outros navios enquanto o Carpathia prontamente dava assistência à embarcação acidentada?
No momento do acidente, o navio mais próximo era o Californian. Encontrava-se apenas a 10 milhas do Titanic, ao passo que o Carpathia estava a 58 milhas de distância. Surge a questão: “Por que o Californian não ajudou o Titanic se estava fisicamente mais perto? Uma grande lição encontra-se oculta na resposta a essa pergunta.
A razão é que o Californian não recebeu a desesperada mensagem do Titanic. Um descaso dos operadores de telégrafo do Californian, que trabalhavam por mera obrigação. Eles haviam encerrado os trabalhos às 23h30 da noite do acidente. Foi apenas dez minutos antes de o Titanic chocar-se com o iceberg. Se o operador tivesse permanecido em seu posto por mais tempo e captado a mensagem do Titanic, mais vidas teriam sido salvas.
Além disso, várias pessoas a bordo do Californian viram os primeiros fogos de socorro lançados pelo Titanic. Embora tivessem visto o relampejar da luz branca, imaginaram ser apenas o piscar das luzes do mastro, e simplesmente ignoraram o fato. Se alguém tivesse se comunicado com o Titanic para verificar se havia algum problema, um grande desastre teria sido evitado. Como afirmo sempre, pequenos gestos são de suprema importância.
O comandante Rostron, do Carpathia, foi condecorado pelos esforços. Sua honra ainda brilha na história da humanidade. Em contraste, o Californian recebeu fortes críticas e permanece na história como exemplo de deficiência. É verdade que lamentações não fazem nenhum bem. O Californian tinha uma vantagem quanto à sua posição, mas, em razão do descuido e descaso dos tripulantes, chamou para si a infame desgraça.
O fato de sair do ritmo mesmo um pouco em sua determinação pode ser a causa de uma irremediável derrota. Essa verdade aplica-se tanto às pessoas como às sociedades e organizações. Ela se aplica ainda mais ao rigoroso mundo da fé e do Kossen-rufu. (...)
A tragédia do Titanic contém um grande número de dramas e lições. Se encararem meramente como uma tragédia do passado, nada aprenderão dela. Entretanto, se a aplicarem da perspectiva budista baseada na eternidade da vida, aprenderão muito com esse acidente e descobrirão a forma como as pessoas devem viver.
Quando alguém encara a realidade da morte, ele mostra seu verdadeiro caráter como ser humano. Em outras palavras, o “eu” demonstra seu verdadeiro aspecto num momento crucial da vida ao confrontar-se com a morte.
No caso do Titanic, o confronto com a morte iluminou a condição de vida daqueles que se depararam com essa realidade. A morte é um fato real, não somente para os passageiros do Titanic — ela está à espera de todos. Em outras palavras, todos estão destinados a morrer. Ninguém pode escapar da morte.
Como navegar por esse severo mar de sofrimento é a maior questão dos seres humanos. O mais importante é que a solução para essa questão encontra-se completamente revelada na Lei Mística.
Fonte: TC, edição no 312, agosto de 1994, p. 24-31.