Por Tamaki Ueda - Los Angeles
Eu cresci no Japão, um garoto timido e quieto. No ginásio, o meu corpo comecou a mudar e com estas mudanças surgiram intensos sentimentos de auto-rejeição.
No meu primeiro ano da faculdade, eu descobri a origem do meu sofrimento – eu queria ser uma mulher.
Eu disse a minha amiga da faculdade sobre a confusão com respeito a minha identidade sexual e ela me incentivou a explorar os meus sentimentos. Eu comecei a vestir roupas femininas mas tinha medo da opinião alheia.
Uma vez, em 1994, quando estava numa estação de trem, um homem passou e me disse: Você é nojento! Incidentes como este fizeram com que tivesse medo de mostrar o meu verdadeiro ser.
Eu mudei para Los Angeles em 1997 para trabalhar numa produtora de TV. Eu coloquei a minha natureza feminina de lado e focalizei na minha carreira, mas dentro de mim, me sentia alienado.
Em 2002, eu estava prestes a perder o meu visto de emprego depois do cancelamento de um show de TV. Sem o visto, eu nao poderia continuar nos Estados Unidos.
Durante esta epoca, um amigo me apresentou ao budismo de Nitiren. Com um profundo desejo de mudar a minha vida, eu comecei a recitar o Nam-myoho-rengue- kyo.
Em novembro de 2002, eu recebi o Gohonzon e comecei a participar das atividades da SGI-USA. Logo depois, eu achei um bom emprego e apliquei para o green card.
Uma vez que me encontrei numa situacao estável, comecei a recitar o daimoku para transformar os meus profundos sentimentos de confusão sobre a minha identidade sexual.
Um dia, eu chorei em frente ao Gohonzon, desejando ser uma mulher. Então, de repente, eu compreendi que este sofrimento era realmente um presente, uma oportunidade para apreciar a minha vida. Com esta mudanca de perspectiva, eu comecei a fazer terapia e pesquisar sobre mudanca de sexo.
Em abril de 2008, eu participei da Conferencia LGBT, da SGI-USA na Florida, buscando ter a coragem de transformar- me em mulher.
Estudando o principio de unicidade de mestre e discipulo, o exemplo corajoso do presidente Ikeda trouxe-me inspiração. Ele tem usado uma fé resoluta para vencer todos os obstáculos.
Assim, eu decidi ser um discípulo do presidente Ikeda. Para mim, isto significava manifestar a coragem de ser eu mesmo. Um mês apos a conferência, com a ajuda de um terapeuta e um médico, eu comecei a minha terapia hormonal.
Eu compartilhei pela primeira vez em público a minha experiência, numa reunião da divisão feminina em dezembro de 2008, onde eu determinei que no meu aniversário, em fevereiro de 2009, eu iria revelar para a minha família e empresa a minha condição e comecar a viver completamente como mulher.
Em janeiro de 2009, eu enviei uma carta para os meus pais e irmão no Japão que demorei três meses para terminar.
Alem de informar sobre a minha decisão de mudar de sexo, eu tambem demonstrei a minha sincera gratidao por serem meus pais, terem concebido minha vida e disse o quanto os amava.
Um pouco antes do meu aniversário, eu disse ao meu chefe e companheiros de trabalho sobre a minha decisão. Eu tinha medo de ser rejeitada ou pior ser demitida.
Mas, ao contrário, recebi total apoio. Um dia antes do meu aniversário, eles me surpreenderam com um bolo de aniversário com a inscricao: Feliz Aniversario, Tamaki. Eles usaram o meu novo nome e este foi o melhor aniversário da minha vida.
Na semana seguinte, eu comecei a trabalhar e viver como uma mulher. Logo, eu recebi uma carta dos meus pais na qual constava; Voce cresceu e se tornou uma boa pessoa. Nós sabemos que tomou esta decisão de forma cuidadosa. Nós aceitamos de braços abertos.
Eu chorei de alegria e orei com enorme gratidao aos meus pais e ao meu mentor, presidente Ikeda.
Depois de viver nos Estados Unidos por 12 anos, eu recebi o meu green card (cartão de residência permanente) na ultima semana de fevereiro de 2009 – durante o mês da divisao feminina da SGI-USA.
Logo depois, o meu irmao me ligou dizendo que meu pai estava tendo dificuldades em entender a minha transicao, e perguntou se ele poderia me visitar em Los Angeles.
Eu fiquei extremamente feliz, pois eu e ele tivemos um horrivel discussão quando eramos adolescentes e nunca conversamos de forma genuína desde então.
Ele veio para Los Angeles em julho, e desfrutamos nosso tempo juntos pela primeira vez desde quando eramos crianças. Depois desta viagem, ele me escreveu dizendo que ele sentiu como se eu sempre fosse a sua irmã. O meu irmão incentivou os meus pais a me visitarem tambem.
Quando eles vieram em setembro, eu disse como o budismo de Nitiren me ajudou a transformar a minha vida. Eles participaram numa reuniao da SGI-USA e recitaram o daimoku pela primeira vez.
Logo depois, estavamos dirigindo para visitar uma vinícola ao oeste de Santa Barbara, na California. Era uma tarde quente com o sol do meio-dia e sentamos juntos na sombra de uma árvore desfrutando uma brisa suave e o som dos pássaros.
Abaixo de nós, centenas de acres de parreiras enfileiradas nas encostas. Eu nunca me senti em tamanha paz.
Antes dos meus pais retornarem ao Japão, nós fomos jantar num restaurante japonês. O meu pai começou uma conversa em japonês com uma garconete.
Ele falou sobre mim com grande orgulho em sua voz, sempre referindo a mim como – sua filha.
Em abril, eu retornei ao Japão pela primeira vez em oito anos. Andando pelas ruas da minha cidade natal, todos os sentimentos negativos que uma vez senti, foram dissipados.
Nitiren Daishonin declarou: O arroz se muda e se transforma numa pessoa. E uma pessoa se muda e se transforma num Buda. Uma mulher se muda e se transforma no ideograma Myo. O ideograma Myo se muda e se transforma no Buda Sakyamuni sentado numa pedestal de lótus. (Os Ensinos de Nitiren Daishonin, vol. 1, pg.1089)
As palavras de Nitiren ensinam que todos devem passar por uma revolução humana para transformar suas vidas. A minha transição foi muito mais profunda que a minha aparência externa.
Ao usar a pratica budista para abraçar o meu ser feminino, eu conquistei a coragem para transformar a minha auto-rejeição em total aceitação.
Agora eu posso finalmente mostrar o meu verdadeiro ser – uma mulher forte, feliz e bonita.
Fonte: World Tribune – jornal semanal da SGI-USA – Maio/2010
Traducao nao-oficial: Charles Chigusa