sábado, 12 de junho de 2010

Amor Eterno, Amor Verdadeiro.

Mais do que um relato sobre minha revolução humana, esta é uma história de amor. Amor em seu sentido mais puro e verdadeiro; amor como eu o sinto e concebo hoje em dia. Através de minha prática budista diária estou reaprendendo o verdadeiro sentido e propósito do verbo AMAR.
 
O Budismo veio ao encontro de muitos valores que eu já possuía em mim e que me são fundamentais tais como a gratidão, a justiça, a compaixão e respeito por todos os seres viventes ou não e, principalmente o desejo altruísta de erradicar o sofrimento de todos os seres deste mundo.

Lembro-me perfeitamente do sentimento de tristeza que me invadia, em minha infância, ao assistir o sofrimento de pessoas que nem conhecia pela TV ao lado de meu pai. Desejava, do fundo do meu coração infantil, fazer algo pra que elas não sofressem mais.

Fui uma adolescente bastante introvertida, que via na leitura e na escrita meu porto de partida para mundos desconhecidos e inexplorados.

Escrevia poemas sobre paz, justiça e sobre meu desejo de encontrar alguém que me ensinasse o que era na verdade o tal AMOR.

A morte do ex-Beatle e pacifista John Lennon, mudou minha vida. Fiquei bastante chocada com a forma brutal como ele foi assassinado. Comecei a pesquisar sobre sua vida e descobri sua história de atividades voltadas para a conscientização da sociedade sobre a paz e a união entre os povos da humanidade.
 
Ao ouvir a canção Imagine e seu conteúdo pacifista, percebi que ali estava a minha missão: lutar pela paz mundial.
Naquele tempo, Lennon foi meu mestre, no sentido de ter me ajudado a lembrar-me de minha missão na Terra.

Porém, com o passar dos anos, com as pressões do meu cotidiano, fui me esquecendo de meus sonhos de menina.
Conheci o amor e com ele recebi um grande presente: o nascimento de minha filha. Foram tempos muito difíceis, pois éramos muito jovens, inexperientes, ainda estruturando nossas vidas em todos os sentidos e ao mesmo tempo tendo que segurar nossa filha no colo.

Tudo isso, me afastou cada vez mais de meus sonhos e sentia de verdade, como se algo dentro de mim estivesse morrendo, como se eu estivesse abandonando uma parte muito importante de mim mesma.

Os anos foram passando; muitos foram os sofrimentos pelo qual passei.

Após 10 anos de harmonia conjugal, o que era amor, começou a transformar-se em dor. No auge desta dor, em 1996, assisti ao filme sobre a vida de Tina Tuner e ouvi o Nam Myoho Rengue Kyo pela primeira vez.

Percebi que a mudança na vida da artista acontecera graças a sua prática budista, mas minha escuridão fundamental, causada pelo sofrimento que passava me impediu de entender a verdadeira mensagem que Tina deixava a todos que passavam por sofrimentos semelhantes: “se eu posso, VOCÊ também pode”.

Sentia uma tristeza que mal posso descrever em palavras. Além do sentimento de ter abandonado a mim mesma e de ter deixado meus sonhos para trás, sentia o abandono da pessoa que amava. Tudo isso culminou no recebimento de um diagnóstico de Linfoma Hodking (câncer no sistema linfático) no ano 2000.

Porém, confesso que recebi o diagnóstico sem surpresas; tinha plena consciência de que aquele câncer era o efeito da causa maior que ocorria dentro de mim: eu havia abandonado meu corpo, minha vida e a mim mesma, para me preocupar com o sofrimento do outro. Tentava praticar a compaixão sem sabedoria, sem em primeiro lugar, ter compaixão por mim mesma. E isso só me trouxe dor e destruição.

Em 2004, consegui me libertar do relacionamento que tanto me fazia sofrer.

Mas não estava preparada para tanta liberdade e entrei num processo depressivo. Não compreendia que aquela separação serviria para que eu voltasse para mim mesma.

Continuava sentindo-me vítima das circunstâncias e colocando no outro a responsabilidade sobre me fazer feliz, achando que meus problemas de abandono residiam no fato de eu estar sozinha.
O resultado foi atrair mais uma vez, uma relação em que o amor, rimava com dor.

Em Dezembro de 2006 essa relação destrutiva adicionado ao completo abandono de minha própria vida, renunciada para cuidar da vida problemática do outro, me trouxe novamente a depressão, desta vez mais violenta e grave.

Já havia visitado o fundo de meu poço algumas vezes e lá estava eu, no fundo dele novamente, mas desta vez, a sensação que tinha era que o poço estava ainda mais fundo. Só quem conhece a dor psíquica sabe do que estou falando. Para me libertar desta “dor da alma”, tentei acabar com minha vida por duas vezes.

Em Março de 2007, levada por minha família e amigos que nunca me abandonaram, iniciei tratamento psiquiátrico e terapêutico, obtendo melhora significativa de meu estado geral.

Em Agosto de 2007, decidida e dar um rumo em minha vida, contei para minha mãe do meu desejo de retomar um de meus sonhos não realizados: a faculdade de psicologia. Porém, as tendências ao sofrimento se evidenciaram em minha vida novamente.

Mal começaram as aluas, tive que internar minha filha com suspeita de apendicite aguda. Até ai, nada demais, não fosse a dificuldade pela qual Luiza passou para se recuperar da cirurgia. Ela demorou muitos dias para se recuperar, vomitava muito, chorava e numa noite, chegou a dizer que não sairia viva do hospital.
 
Perguntava a mim mesma, o que acontecia já que eu tinha decidido não mais sofrer. Conversava com a cirurgiã responsável pelo procedimento de Luiza, inclusive contei a ela que estava passando por um momento delicado, pois ainda me tratava da depressão e tomava medicamentos, tendo que suspendê-los subitamente para poder cuidar de minha filha no hospital e não entendi o porquê daquela reação de minha filha.
Ela tentava me acalmar, dizendo que a cirurgia dela fora muito delicada e que ela precisava de mais tempo para se recuperar.
 
Finalmente Luiza teve alta e voltei à faculdade. Porém a história de sofrimento não terminava ali. Luiza recebeu um diagnóstico de presença de um tumor carcinóide no material colhido no apêndice. Foi quando conheci a Diva, na faculdade, e lhe contei tudo que acontecia comigo. Diva, então me convidou a uma reunião na sede regional de Botafogo.

Resolvi ir a tal reunião de budismo que a Diva havia me convidado. Sai de casa cedo, pois a reunião era em Botafogo às 10h da manhã.
 
Logo de cara adorei o “clima”. Todos alegres, ninguém chorando, sofrendo, pelo menos aparentemente. Ouvi o canto do Daimoku (o Nam Myoho Rengue Kyo) e aquilo me soou “familiar” tudo ali era muito familiar pra mim. Através dos relatos que ouvia comecei a pensar; SE ELE /ELA CONSEGUIU EU TAMBÉM POSSO.

Foi amor à primeira vista. Conheci um mundo totalmente diferente de tudo que eu conhecia, com pessoas alegres, companheiras e acima de tudo corajosas.
 
Mergulhei de cabeça no mundo maravilhoso da Gakkai e com apenas um ano de prática consegui transformar, o que antes era sofrimento, doença e desilusão, numa vida plena de alegrias, coragem, grandes realizações e muitos benefícios.

Meu encontro com o mestre. Meu re-encontro com minha missão

À medida que conhecia mais sobre o Budismo Nitiren e sobre a Sokka Gakkai (organização responsável por propagar o Budismo Nitiren e seus ideais de paz, cultura e educação), comecei a querer saber mais e mais sobre quem estava à frente desta grande organização.

Foi então que conheci a história do presidente da SGI- Daisaku Ikeda, seus ideais e sua trajetória de vida junto com os outros mestres. A cada história de luta e superação de seus próprios limites para fazer sua revolução humana e poder propagar o kossen rufu, me emocionava.

Ao compreender a relação de amor incondicional que Daisaku possui com seu mestre, Jossei Toda, comprendi que aquele momento, para mim, era finalmente o reencontro com aquele que seria meu verdadeiro mestre, pois neste exato instante, despertou em meu coração meu antigo desejo de menina.
 
Era como se algo dentro de mim estivesse renascendo. Senti pela primeira vez a força que existe entre a ligação de um mestre e seu discípulo, não importando a distância. A chama de minha missão como Bodhisattiva da Terra, que não descansa enquanto não erradicar o sofrimento dos seres humanos, reacendera em meu coração por meu mestre.

Como observa o líder da SGI, Daisaku Ikeda, “O bem não é simplesmente uma questão de fazer caridade e viver altruísticamente; ele inclui lutar contra a maldade e a injustiça.

Ao refutar a maldade, amenizamos nosso próprio carma negativo e criamos boa sorte e benefício.

Esse é o significado de benefício (kudoku) no Budismo de Nitiren Daishonin. A felicidade nasce da luta contra a injustiça”. (Brasil Seikyo, edição no 1.543,12 de fevereiro de 2000, pág. A3.)

Este é um ponto importante na filosofia propagada pela SGI. Na maioria dos casos, uma grande mudança externa inicia a partir de uma grande mudança interior. Mesmo se tratando, por exemplo, de um problema de saúde, a disposição interior e a determinação de superar o problema podem se mostrar fundamentais.
Nesse sentido, no Budismo Nitiren não há benefícios que venham de fora — ele se manifesta a partir de uma mudança de postura da própria pessoa.

Comecei então, minha jornada interior, com o sentido de refutar a minha maldade interior, aquele que me impede de avançar.  

A medida que recitava Daimoku, participava das reuniões e lia as orientações do presidente Ikeda atualmente também atuando na organização como vice responsável de bloco, aprendia cada dia a importância de meu real valor. Brotava de dentro de minha própria vida a sabedoria, a coragem, a forte força vital para solucionar meus problemas de solidão e abandono.

Comecei cuidar melhor de mim, a gostar de minha própria companhia, e a entender a grandiosidade de minha missão no local aonde vivo.
Com minha prática, percebi que não existe amor maior e mais verdadeiro do aquele que devoto à dignidade e apreciação de minha própria vida e, consequentemente, ao Gohonzon, que é minha própria vida iluminada.
 
Com a recitação do daimoku sinto meu coração cada dia mais leve, como se estivesse, de verdade, limpando as impurezas que impediam que os bons sentimentos se instalassem.

O daimoku me permite ler as orientações do Presidente Ikeda com uma clareza cada vez maior e melhor, me permite compreender suas aspirações ainda que estejamos a milhas de distancia um do outro, ainda que aconteça seu desaparecimento físico, pois estamos ligados pelo coração.

O coração é o que mais importa, nas sábias palavras do Buda Original, Nitiren Daishonin. Compreendi o amor através da ligação entre mestre e discípulo, pois o que liga um discípulo ao seu mestre é o amor verdadeiro.

Com meu coração cada vez mais limpo, permiti que meu mestre entrasse dentro dele e assim, compreendo-o cada vez melhor. Isso é a própria iluminação.
Hoje, percebo que já transformei meu carma afetivo, a medida que aprendo a amar justamente porque amar é bom e só por poder amar já sou feliz.

Quero terminar este relato agradecendo de coração a todos que contribuíram de todas as formas (negativas ou positivas) para que eu chegasse até aqui.

Agradeço principalmente ao AMOR:
De meus pais
Do Buda Sakyamuni
Do Buda original dos Últimos dias da Lei, Nitiren Daishonin
Do Presidente da SGI Daisaku Ikeda

A eles dedico um poema do autor do Pequeno Príncipe:

"Não confundas o amor com o delírio da posse, que acarreta os piores sofrimentos. Porque, contrariamente à opinião comum, o amor não faz sofrer.
O instinto de propriedade, que é o contrário do amor, esse é que faz sofrer. (...)
Eu sei assim reconhecer aquele que ama verdadeiramente: é que ele não pode ser prejudicado. O amor verdadeiro começa lá onde não se espera mais nada em troca".
Antoine de Saint-Exupéry