por Christine Dunford
Se eu determino (crio) pelo coração, quase
tudo se realiza; se eu determino usando a mente, quase nada se realiza.
Marc
Chagall
Quando eu fui apresentada ao
Budismo de Nitiren, eu tive uma profunda revelação de como limitada era a minha
fé devido a uma infância de pobreza que continuava me assombrando. Apesar de já
ter escapado desta vida e estar vivendo com muito sucesso material, eu
continuava operando da perspectiva de medo e de precisar controlar TUDO.
Eu cresci num ambiente de caos.
Meu pai trabalhava esporadicamente e quando conseguia emprego era sempre como
garçom, o que era irônico porque ele era um alcoólatra, e a minha mãe era
trocadora de ônibus para uma empresa local.
Nós vivíamos num minúsculo
apartamento de 3 quartos no Bronx, com pouquíssimas janelas, e a vista de todas
as janelas era a mesma – um muro de tijolos. A vida de quase todos os meus
amigos era tocada, de alguma forma, pelo álcool, drogas, violência física ou
abuso sexual.
Eu não posso dizer que existiu 1
dia na minha infância onde eu não estava com medo. Eu estava com medo em casa,
eu estava com medo na minha escola católica também – onde a única forma de não
ser punida ou humilhada era tentar ser perfeita. Eu era internamente nervosa e
destruída. O único remédio que eu consegui encontrar para o meu medo e
ansiedade foi uma ambição feroz e controle.
De certa forma, isso funcionou
para mim. Eu me tornei uma estudante nível A, ganhei uma bolsa de estudos na
Julliard e me tornei uma atriz. Eu ganhava muito dinheiro, morava numa casa
maravilhosa e tinha muita coisa, tudo o que queria. Eu tinha um certo orgulho
falso porque acreditava que eu tinha criado o meu sucesso através do meu esforço,
foco, suor e minha determinação; eu era totalmente definida pela dificuldades
que enfrentei e como isso parecia funcionar para mim, eu me viciei nisso.
Quando eu não podia estar no
controle de cada aspecto da minha vida, eu ficava em depressão e reclusa,
afundada em vergonha até eu conseguir estar no controle e ter sucesso em alguma
coisa. Eu não poderia nunca admitir imperfeição, e eu também não podia nunca
pedir ajuda alguém. Era isolação e exaustão, mas qualquer coisa era melhor do que
me sentir vulnerável.
O fato deu eu ter conhecido e
casado com o meu marido, com quem eu tive o meu primeiro relacionamento íntimo,
é a prova da sua marcante natureza e paciência. Ele me deu suporte durante os
meus altos e baixos sem nunca me julgar.
Eu realmente achei que tinha o
controle da minha vida até eu me tornar mãe. Ter uma criança é uma espécie de
estranho experimento de ficção
cientifica onde alguém tira o seu coração do corpo e coloca pequenas pernas
nele e envia ele para uma rua movimentada.
O amor que senti pelo meu filho
foi tão grande, eu nunca tinha sentido antes aquele sentimento tão profundo e
forte. Foi maravilhoso e, também, assustador.
Eu atingi o meu pico de
vulnerabilidade quando meu marido e eu ficamos sabendo que nosso filho iria precisar de uma
cirurgia. Eu lidei com isso no meu modo usual, respondendo ao medo com massiva
quantidade de pesquisa. Eu passei horas e horas na internet estudando o seu
problema. Apesar de ter aprendido tudo o que tinha para ser aprendido sobre a
cirurgia, estava tudo fora do meu controle – foi traumático.
O pior momento da minha vida foi
quando o meu filho de dois anos e meio foi carregado pela enfermeira, para a
sala de operação, gritando e chorando e eu não podia fazer nada para ajudar.
Apesar do sucesso da cirurgia e
eu estar muito grata por meu filho estar bem, internamente eu sentia como se tivesse negligenciado
ele, falhado em protege-lo. Eu fiquei muito depressiva em relação a isso e
muito empenhada em encontrar uma forma de me livrar dos meus medos e
necessidade de controle.
Foi nesse período que eu conheci
o Budismo de Nichiren Daishonin. Minha experiência com a meditação ( daimoku )
começou por entoar o mantra determinando a minha mudança interna, a felicidade
do meu filho e bem estar de toda a minha família.
Pouco tempo depois, uma amiga me
deu o livro Educação para uma Vida Criativa do
Tsunessaburo Makiguti, fundador
da Soka Gakkai. Eu tive profundas percepções com este livro. Eu cheguei a conclusão
que não ia proteger o meu filho através do controle de cada aspecto de sua
vida; e que não o protegendo de todas as dificuldades que, ele possivelmente,
enfrentará na vida, não significa que estou sendo uma mãe ruim. Assim eu fui
capaz de reconhecer que a
vulnerabilidade que eu sentia, como mãe, era uma expressão natural do grande e mais
profundo amor que eu jamais tinha sentido na vida.
Eu, então, determinei que me transformaria para que eu pudesse ter a
responsabilidade e caráter adequados a este amor e para encontrar maneiras mais
valorosas de expressar ele.
Quando eu me sentia “dominada”
pela responsabilidade de criar um filho, eu meditava e meditava, até que eu
finalmente vi que o meu desafio como mãe é aprender a viver com aquele amor
imenso e com pouco controle.
Apesar de procurar criar uma vida
que blindaria o meu filho e o protegeria das dificuldades que eu passei; se eu
continuasse operando com base no medo, eu estava arriscando passar para ele a
mesma fé limitada que eu tinha. E se eu fizesse isso, então eu provavelmente
estaria criando ele no mesmo gueto que eu lutei tanto para me livrar.
Eu fiz daimoku para ter coragem
de aceitar o desconhecido. Eu fiz daimoku para acabar com a necessidade que eu
tinha de manipular tudo. Mais importante, eu meditei para se capaz de aceitar
ajuda de outras pessoas.
A primeira oportunidade para
ver se a minha mudança interna estava acontecendo de verdade veio quando
estávamos preparando o nosso filho para a primeira experiência escolar.
O processo gradual e carinhoso de
adaptação que tinha sido descrito para os pais durante a nossa visita a escola
e entrevista, não estava evidente em nenhum lugar. Meu marido foi colocado numa
situação de desconforto e encorajado a não permanecer na escola, mesmo no
primeiro dia. No segundo dia, a diretora o pressionou a ir embora. Meu marido
mais uma vez se sentiu alienado pela diretora e eles discutiram sobre o
processo de adaptação. Havia muita tensão e irritação no ar, o que acabou fazendo com
que a diretora chamasse o meu marido de “arrogante”.
Eu me senti ficando irritada e
mais na defensiva a cada minuto. Eu lutei contra muitos impulsos de confrontar
a diretora. Então, eu me lembrei de tudo que eu vinha pensando, lendo e
aprendendo, e ao invés de “explodir”, eu fui para casa e meditei.
Antes eu teria “quebrado as
paredes”, e fazendo isso eu teria acabado com qualquer chance de encontrar uma
solução. Mas agora, apesar do meu sentimento intenso de vulnerabilidade e medo,
eu continuei meditando.
Na próxima vez que o meu marido levou
o meu filho na escola, a situação tinha mudado completamente. A diretora o incentivou
a permanecer no local pelo tempo que ele quisesse, explicando a ele que o
processo de separação dos pais e adaptação na escola era muito delicado. Meu
marido ficou surpreso e feliz, mas sem entender o que causou tamanha reviravolta
na cabeça da diretora.
Então ficamos sabendo que o filho
de uns amigos frequentava a mesma escola e ao informar a diretora da eminente
cirurgia da criança, eles contaram a nossa experiência hospitalar com o nosso
filho.
A diretora disse para o meu
marido, “ quando uma família já passou pela experiência de uma separação traumática,
é importante que a escola trate o período de adaptação com sensibilidade e no
tempo que seja confortável para a criança. Ela precisa ser emponderada pela situação e
entender que pode confiar em nós. “
Eu nuca imaginei tamanha
sensibilidade vindo daquela mulher. Se eu tivesse respondido à situação na
minha forma costumeira, ela nunca teria tido a chance de se revelar de uma forma tão profundamente humana.
No dia seguinte o meu marido
deixou o meu filho na porta da sala e ele disse: “ você não tem que ir para o
trabalho? Pode ir”. E foi isso, ele se
sentiu seguro e feliz na escola a partir daí.
Tudo isso aconteceu sem que eu
tenha feito que isso acontecesse. Isso aconteceu sem força, sem manipulação e o
mais importante foi meu filho observar a forma que este problema foi resolvido.
Alguém uma vez disse que GUETO É
UM ESTADO MENTAL, e o que eu percebi quando comecei a meditar foi que apesar de
ter mudado de meio ambiente radicalmente quando adulta, eu nunca iria conhecer
a felicidade se não mudasse o ambiente que existia na minha mente; e o ambiente
da minha mente era absolutamente dominado pelas limitações do meu passado.

Tradução não oficial do livro: The Buddha Next Door, ordinary people,
extraordinary stories.
Autores: Zan Gaudioso e Greg
Martin
ISBN: 978-0-9779245-1-6