Cathy Robinson
Não é a alegria que nos faz ter gratidão, é a
gratidão que nos faz ter alegria.
David Steindl-Rast
Após 10 anos num casamento
maravilhoso, meu marido e eu decidimos ter um filho, mas eu não conseguia ficar
grávida. Nós fomos a um especialista, eu tomei injeções e também tentei
inseminação artificial – nada funcionou. Desejar um filho e se decepcionar mês
após mês e ano após ano, foi extremamente doloroso. Isso fez surgir em mim, um sentimento de não ser adequada,
anormalidade – baixa autoestima.
Durante este período, meu marido
desenvolveu diabetes tipo I. Nós acabamos indo muito ao hospital porque não sabíamos
que ele tinha essa doença. Ele não teve condições de trabalhar por um tempo, e não estava ganhando
dinheiro suficiente – então, ficamos muito endividados. Mas eu sempre conseguia renovar
as minhas esperanças através da meditação budista.
Após 6 anos de tentativas não
sucedidas de ficar grávida, eu decidi ir ao Japão para um treinamento budista,
como eu tinha feito antes, quando precisei de uma sustentação espiritual. Eu
comecei a guardar um pouquinho de dinheiro toda semana, determinada que eu e o
meu marido iríamos ao Japão. Assim, eu consegui salvar o suficiente para a
nossa viagem.
No Japão, nos encontramos com um
veterano budista que dividiu o seu relato de vida conosco. Ele nos disse que tinha tido um câncer de garganta
gravíssimo e que os médicos o deram 6 meses de vida. Ele se recusou a aceitar o
prognóstico e continuou a meditar 7 horas
por dia durante 6 meses. Isso foi a 7 anos atrás e ele continua vivo e
agora meditando 3 horas por dia.
Ele me disse que eu precisava ter
100% de fé, 100 % de certeza e que apesar de ser muito importante ter médicos
acompanhando o tratamento, eu não deveria deixa-los me abalar com a “sua
ciência” ou nenhuma outra pessoa. Eu deveria ter 100% de fé e 100% de confiança
acima de qualquer coisa ou pessoa.
Eu tinha que saber e acreditar
que poderia ficar grávida e meditar com a mesma determinação que ele entoou o
mantra na sua luta para vencer o câncer. Ele me deu de presente um juzu e um cachecol
para o meu futuro bebê e nós voltamos para casa.
Eu meditei até chegar ao ponto
que eu percebi que não importava ficar ou não grávida, que eu poderia ser feliz
de qualquer jeito.
Eu fiquei grávida, mas perdi o bebê, foi uma gravidez
ectópica. Eu continuei determinada, porque agora, pelo menos, eu sabia que
podia ficar grávida – sem drogas ou procedimentos artificiais, apenas meditando
com bastante determinação e fé. Seis meses depois, eu fiquei grávida novamente
e consegui levar a gravidez até o fim – o bebê nasceu a termo.
O nosso filho é maravilhoso, uma
criança incrível. Ser mãe tem sido a maior experiência da minha vida. Tudo que
aprendi no passado ajudou a me tornar uma mãe melhor.
Quando o meu filho fez 8 anos, eu
comecei a desenvolver uma dor horrível no ombro e fui à um
ortopedista. Um exame revelou um tumor na minha espinha que tinha que ser
removido imediatamente.
Após a cirurgia, eu fui
imobilizada do meu pescoço à cintura, eu tive que ficar assim por 4 meses.
Enquanto ficava deitada na cama
do hospital, fazendo daimoku ( meditação), eu tive uma experiência profunda. Eu
entendi porque tinha que passar por isso para mudar a minha vida e o meu
destino.
Eu tinha 48 anos de idade naquele
momento. Minha mãe tinha 48 anos de idade quando ela tentou se matar pulando de
uma janela. Ela sobreviveu a queda, mas foi imobilizada do pescoço até a
cintura. Aqui eu estava, na mesma idade e na mesma situação – imobilizada do
pescoço à cintura. Apesar de motivos diferentes, as duas experiências poderiam
ter finalizado as nossas vidas aos 48 anos de idade.
Um ano após essa tentativa, a
minha mãe se matou com comprimidos. Eu fiz um juramento de mudar a propensão
destrutiva da minha família. Eu estava determinada!
De acordo com o budismo, é
possível atingir a sua família 7 gerações passadas e 7 gerações futuras.
Qualquer coisa que eu precisasse fazer para ter sucesso nisso, eu estava
preparada para enfrentar.
Enquanto eu estava deitada e
imobilizada no hospital, eu sabia que eu já estava mudando este karma familiar.
Eu estava mudando isso fisicamente, emocionalmente e mentalmente. Eu me sentia livre apesar de estar numa prisão física.
O resultado da biópsia mostrou
que o tumor era câncer – eu tinha linfoma. Eu estava com medo, mas eu meditei (
entoei o mantra), e muitos amigos budistas vieram entoar o mantra ( fazer
daimoku) comigo. Eu tinha que deitar no meu sofá e rolar para conseguir
levantar. Eu não podia tomar banho sem alguém para me ajudar, eu não podia
dirigir ou cuidar bem do meu filho.
Os amigos do meu grupo budista
vieram com alimentos, presentes e até se ofereceram para limpar a casa para
mim. Eu não podia acreditar o quão afortunada eu tinha me tornado. Eu sabia,
por essas mudanças no meu ambiente e relacionamento com as pessoas, que eu
tinha mudado a minha vida e o karma da minha família ( esho funi, inseparabilidade
do ser e seu meio ambiente).
Quando meus pais morreram, eu
estava sozinha, eu não tinha ninguém. Agora eu tinha tantas pessoas me dando
apoio que eu pensei que o meu coração fosse explodir de GRATIDÃO.
Apesar disso, eu estava
aterrorizada com o diagnóstico de câncer. Eu procurei orientações com um
budista veterano que me conhecia desde o início da minha prática budista. Eu
disse:
- Eu me sinto despedaçando, com a
minha esperança indo embora. Eu estava tão forte durante a cirurgia, mas agora,
sabendo que o tumor é câncer, eu não sei se consigo levantar a minha fé e
esperança novamente.
- Cathy, durante toda a sua vida
você tem sido muito emotiva, mas por baixo desta emoção você tem sido, sempre, muito forte. Todas as
experiências que você tem tido como budista te transformou na pessoa que você é
hoje. Você não pode se deixar abalar pelo seu emocional, pela superfície do que
você realmente é. A força que irá te impulsionar para vencer este desafio está DENTRO de você.
Esse foi um importante conceito
para eu entender: a noção de que ser emotiva não significa que você não seja
forte ou que não possa superar adversidades.
Após a primeira quimioterapia, eu
perdi todo o meu cabelo, eu estava arrasada. Cinco minutos após meu cabelo
cair, por acaso, a esposa de um amigo budista veio me visitar. Ela atravessou a porta e eu
gritei: Meu cabelo caiu! E comecei a chorar.
Ela sugeriu que entoássemos o
mantra ( daimoku). Ela meditou de forma tão intensa que eu sai do meu profundo
desespero ( estado de inferno), me sentindo completamente confiante no futuro e
no meu potencial para ser feliz.
Os tratamentos continuaram por 6
meses, todos os sinais de câncer desapareceram. Eu não apenas venci o câncer
como também me tornei mais confiante na forma que a minha vida estava se
encaminhando.
Eu senti que tudo estava
acontecendo da forma que deveria acontecer, na ordem correta e o melhor
resultado estava sendo garantido.
Eu entendi como cada momento é
uma oportunidade para te ajudar a mudar e fazer a sua vida ficar ainda melhor.
Eu realmente, pela primeira vez, senti que não há nada na vida que deva ser
negativo. Tudo pode se transformar em algo positivo e maravilhoso (
transformando o veneno em remédio).
Pouco tempo depois, eu recebi um
telefonema de uma amiga me chamando para ir meditar com uma amiga dela que
tinha sido diagnosticada com câncer. Nós fomos à casa dela para incentivá-la e
para eu dividir a minha experiência com ela. Essa mulher não era budista, mas
ela disse que queria experimentar a meditação, então fizemos daimoku ( entoamos
o mantra).
Enquanto estávamos entoando o
mantra, a filha dela desceu as escadas e nos disse que 2 aviões tinham se chocado
contra o World Trade Center (WTC). Eu respirei fundo, porque o meu marido
trabalhava no WTC. Eu disse: “ Nós
precisamos continuar entoando o mantra.”
Por um segundo eu estava pronta
para me despedaçar, mas ao invés disso, eu continuei fazendo daimoku. Eu sabia
que não poderia fazer nada pelo meu marido naquele momento a não ser entoar o
mantra. Nós continuamos meditando e eu senti uma sensação de paz crescendo
dentro de mim. Eu estava confiante, tinha certeza, que o meu marido ficaria bem
e assim, a nossa família – eu senti isso profundamente.
No caminho de casa, o medo cresceu
dentro de mim novamente. Eu comecei a entoar o mantra, enquanto dirigia,
determinando que o meu marido estaria salvo e que nada de ruim aconteceria com
ele. Quando cheguei em casa eu liguei a minha secretária eletrônica e escutei o
meu marido gritando: “ Eu consegui sair, eu sai!”
Mesmo antes do 11 de setembro, eu
sentia que a *paz mundial poderia ser alcançada APENAS através do respeito das
diferenças individuais. Eu sou muito grata de pertencer a uma organização que
acredita em Criar Valor no mundo através da criação de valor na nossa própria
vida. Eu pertenço a uma religião que abraça todas as pessoas, de qualquer
religião, e procura criar harmonia através do diálogo e compreensão.
Budismo continua ME SERVINDO e
servindo ao meu mundo MUITO BEM.
* Entende-se por paz mundial a prosperidade e
o bem-estar na vida de todas as pessoas.
Tradução não oficial do livro: The Buddha Next Door, ordinary people,
extraordinary stories.
Autores: Zan Gaudioso e Greg
Martin
ISBN: 978-0-9779245-1-6