quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Minha Terra Natal

Rinat Harel

Um olho por um olho faz o mundo inteiro cego. 
Mahatma Gandhi

Cresci em Israel, mas sempre me senti como se não pertencesse àquele lugar. Eu não gostava da mentalidade das pessoas do local - a qual parecia para mim,  ser cabeça fechada e hostil.

Anos depois de deixar Israel e me mudar para os Estados Unidos, eu acreditava que isso tinha sido a melhor coisa que tinha acontecido em minha vida. Eu me arrependia de ter nascido lá. Eu tinha esperança que o restante da minha família ia me seguir,  juntos poderíamos construir uma vida nova nos Estados Unidos e corrigir o erro de um dia ter tido alguma ligação com aquele lugar horrível.

Eu me adaptei nos Estados Unidos e consegui ter uma vida muito boa. Mas, para a minha decepção, a minha família nunca me seguiu – continuou morando em Israel. Então, eu tive que manter as minhas visitas àquele pais e as coisas se tornaram ainda piores; o lugar se tornou muito violento com o aparecimento de homens bomba nas ruas em torno de meados de 1990. Eu comecei a desgostar de Israel ainda mais – como se isso fosse ainda possível.

O ciclo de violência piorou ainda mais; a segunda infitada palestina aconteceu e eu, que estava visitando meus familiares naquele momento, literalmente, me encontrei dentro de um carro no meio de centenas de árabes raivosos jogando pedras.

Isso foi chocante e confuso para mim, não apenas porque foi inesperado, mas também porque eu estava confuso.

- Eles estão realmente jogando pedras em mim? Eu nem moro aqui mais. Mas por outro lado, eu era israelense.

A segunda infiltrada me destruiu. Eu senti que não tinha esperança no horizonte para um futuro melhor no Oriente Médio. No restante dos dias que passei ali, eu realmente senti como se o fim do mundo estivesse começado; eu me sentia como se estivesse em um precipício no fim de uma estrada e abaixo de mim nada – um completo vazio.

De volta aos Estados Unidos, eu comecei a meditar sobre a violência no Oriente Médio. Fazer daimoku era a única coisa que diminuía a minha dor. Após um tempo, isso me ajudou a entender que eu precisava parar de criticar os dois lados e começar a encorajar e incentivar a paz. Meu trabalho era encontrar esperança onde não tinha nenhuma.

Foi após mais homens bombas e as suas consequências horríveis, uma na esquina da casa dos meus pais, que eu entendi que era chegado o momento para eu agir – então eu decidi organizar sessões de daimoku tosso para paz no Oriente Médio. Essa meditação em conjunto acontecia aos domingos a tarde na SGI-USA na New England Comunity Center em Waltham.
* Daimoku tosso é quando os budistas se reúnem para meditar em prol a um determinado objetivo.

No início eu não fazia daimoku pela paz com base no meu amor por Israel, mas sim no meu medo pela segurança das pessoas – especialmente meus familiares. Através dos anos, a minha esperança pela paz naquela região, reconhecidamente, brutal começou a surgir e a crescer.

Eu fui inspirado pelo Mahatma Gandhi a viver com otimismo apesar do que acontecia a sua volta. Foi, apenas, através da prática budista que eu fui capaz de fazer a mesma escolha para mim mesmo. 

E a minha revolução humana eventualmente se manifestou na minha relação com Israel.  Eu percebi que ao invés de sentir horrivelmente impaciente com a cultura local e as pessoas, eu comecei –gradualmente – a aprender a respeitar a resiliência do lugar e seu povo; através disso, o meu criticismo diminuiu. Mas eu não tinha nenhuma dúvida que eu continuava a não pertencer àquele lugar.

Em Janeiro de 2004, eu fui visitar meus familiares em Israel outra vez. Desta vez, antes de viajar eu fiz muito daimoku para que fosse a melhor visita de toda a minha vida. Eu não sabia exatamente  como eu queria que isso se manifestasse.

Eu me lembro que no dia seguinte da minha chegada eu sai para caminhar um pouco – eu estava muito feliz e com uma atitude de apreciação em relação as pessoas e tudo que aparecia no meu caminho – foi surreal! Eu não senti meu velho ressentimento  do local. Nada!

Eu realmente tive a melhor visita que eu poderia imaginar e determinei ter nas minhas meditações. Eu consegui até me imaginar mudando de volta para Israel no futuro. Foi muito difícil para mim ter que voltar para os Estados Unidos no final da visita, eu senti como se um pedaço de mim tivesse ficado em Israel.

Eu sabia que esta mudança de sentimento tinha a ver comigo, pois o lugar – com certeza – não melhorou  nada. Era a guerra que existia dentro de mim que começava a encontrar a paz. Eu acredito que essa mudança de sentimento, este PRESENTE da minha prática budista, foi o resultado do meu comprometimento com a paz – assim como, com o meu crescimento pessoal. É o reflexo da minha revolução humana através da fé na prática budista.

A sensação de liberdade, de ter me livrado do fardo da minha própria negatividade que me imobilizou por tanto tempo, foi a minha VITÓRIA!

O veneno que existia dentro de mim se transformou no remédio que eu precisava.

Finalmente, eu conheço a paz que eu sempre sonhei para mim mesmo e para uma parte do mundo que tanto amo.



Tradução não oficial do livro: The Buddha Next Door, ordinary people, extraordinary stories.
Autores: Zan Gaudioso e Greg Martin

ISBN: 978-0-9779245-1-6