Rinat Harel
Um olho por um olho faz o mundo inteiro cego.
Mahatma Gandhi
Cresci em Israel, mas sempre
me senti como se não pertencesse àquele lugar. Eu não gostava da mentalidade das
pessoas do local - a qual parecia para mim, ser cabeça fechada e hostil.
Anos depois de deixar Israel e me
mudar para os Estados Unidos, eu acreditava que isso tinha sido a melhor coisa
que tinha acontecido em minha vida. Eu me arrependia de ter nascido lá. Eu
tinha esperança que o restante da minha família ia me seguir, juntos poderíamos construir uma vida nova nos
Estados Unidos e corrigir o erro de um dia ter tido alguma ligação com aquele lugar
horrível.
Eu me adaptei nos Estados Unidos
e consegui ter uma vida muito boa. Mas, para a minha decepção, a minha família nunca
me seguiu – continuou morando em Israel. Então, eu tive que manter as minhas
visitas àquele pais e as coisas se tornaram ainda piores; o lugar se tornou
muito violento com o aparecimento de homens bomba nas ruas em torno de meados
de 1990. Eu comecei a desgostar de Israel ainda mais – como se isso fosse ainda
possível.
O ciclo de violência piorou ainda
mais; a segunda infitada palestina aconteceu e eu, que estava visitando meus
familiares naquele momento, literalmente, me encontrei dentro de um carro no
meio de centenas de árabes raivosos jogando pedras.
Isso foi chocante e confuso para
mim, não apenas porque foi inesperado, mas também porque eu estava confuso.
- Eles estão realmente jogando pedras
em mim? Eu nem moro aqui mais. Mas por outro lado, eu era israelense.
A segunda infiltrada me destruiu.
Eu senti que não tinha esperança no horizonte para um futuro melhor no Oriente
Médio. No restante dos dias que passei ali, eu realmente senti como se o fim do
mundo estivesse começado; eu me sentia como se estivesse em um precipício no
fim de uma estrada e abaixo de mim nada – um completo vazio.
De volta aos Estados Unidos, eu
comecei a meditar sobre a violência no Oriente Médio. Fazer daimoku era a única
coisa que diminuía a minha dor. Após um tempo, isso me ajudou a entender que eu
precisava parar de criticar os dois lados e começar a encorajar e incentivar a
paz. Meu trabalho era encontrar esperança onde não tinha nenhuma.
Foi após mais homens bombas e as suas
consequências horríveis, uma na esquina da casa dos meus pais, que eu entendi
que era chegado o momento para eu agir – então eu decidi organizar sessões de
daimoku tosso para paz no Oriente Médio. Essa meditação em conjunto acontecia
aos domingos a tarde na SGI-USA na New England Comunity Center em Waltham.
* Daimoku tosso é quando os budistas
se reúnem para meditar em prol a um determinado objetivo.
No início eu não fazia daimoku
pela paz com base no meu amor por Israel, mas sim no meu medo pela segurança
das pessoas – especialmente meus familiares. Através dos anos, a minha esperança
pela paz naquela região, reconhecidamente, brutal começou a surgir e a crescer.
Eu fui inspirado pelo Mahatma
Gandhi a viver com otimismo apesar do que acontecia a sua volta. Foi, apenas,
através da prática budista que eu fui capaz de fazer a mesma escolha para mim
mesmo.
E a minha revolução humana eventualmente se manifestou na minha relação
com Israel. Eu percebi que ao invés de
sentir horrivelmente impaciente com a cultura local e as pessoas, eu comecei –gradualmente
– a aprender a respeitar a resiliência do lugar e seu povo; através disso, o
meu criticismo diminuiu. Mas eu não tinha nenhuma dúvida que eu continuava a
não pertencer àquele lugar.
Em Janeiro de 2004, eu fui
visitar meus familiares em Israel outra vez. Desta vez, antes de viajar eu fiz
muito daimoku para que fosse a melhor visita de toda a minha vida. Eu não sabia
exatamente como eu queria que isso se
manifestasse.
Eu me lembro que no dia seguinte
da minha chegada eu sai para caminhar um pouco – eu estava muito feliz e com
uma atitude de apreciação em relação as pessoas e tudo que aparecia no meu
caminho – foi surreal! Eu não senti meu velho ressentimento do local. Nada!
Eu realmente tive a melhor
visita que eu poderia imaginar e determinei ter nas minhas meditações. Eu
consegui até me imaginar mudando de volta para Israel no futuro. Foi muito
difícil para mim ter que voltar para os Estados Unidos no final da visita, eu
senti como se um pedaço de mim tivesse ficado em Israel.
Eu sabia que esta mudança de
sentimento tinha a ver comigo, pois o lugar – com certeza – não melhorou nada. Era a guerra que existia dentro de mim
que começava a encontrar a paz. Eu acredito que essa mudança de sentimento,
este PRESENTE da minha prática budista, foi o resultado do meu comprometimento
com a paz – assim como, com o meu crescimento pessoal. É o reflexo da minha
revolução humana através da fé na prática budista.
A sensação de liberdade, de ter me
livrado do fardo da minha própria negatividade que me imobilizou por tanto
tempo, foi a minha VITÓRIA!
O veneno que existia dentro de
mim se transformou no remédio que eu precisava.
Finalmente, eu conheço a paz que
eu sempre sonhei para mim mesmo e para uma parte do mundo que tanto amo.
Tradução não oficial do livro:
The Buddha Next Door, ordinary people, extraordinary stories.
Autores: Zan Gaudioso e Greg
Martin
ISBN: 978-0-9779245-1-6