sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Apaixonando –se

Virginia Straus Benson

O amor ideal só é possível entre duas pessoas sinceras, maduras e independentes.. Sendo assim, é essencial que você tenha a sua revolução humana como prioridade e não seja distraído pelo romance. Daisaku Ikeda.

Quando eu comecei a praticar o budismo de Nichiren muitos anos atrás, me disseram que eu poderia realizar todos os meus sonhos, e a ideia me deixou entusiasmada. Eu tinha 35 anos quase todos os meus sonhos já tinham sido destruídos. O meu sonho mais desejado era que eu encontraria a minha alma gêmea e viveria feliz para sempre. Cinderela era o meu conto de fadas favorito quando criança. Eu até dei o nome de Cinderela para o meu cachorro.

Mas, até agora, o meu príncipe tem sido qualquer coisa menos um príncipe. Eu tive um casamento desastroso nos meus 20 anos que estava mais para uma tragédia grega do que para um conto de fadas. Assim como em Pigmaleão, o meu marido achava que eu seria melhor se fosse outra pessoa. O meu senso de identidade era fraco e eu seguia o que o meu marido queria. Eu tentava de todas as maneiras, mas nunca conseguia ser a pessoa que ele queria.

Após o divorcio e muitos outros relacionamentos que não deram certo, eu cheguei a conclusão que eu era atraída  por homens que me dominavam e me desrespeitavam. Eu desenvolvi um medo de ser controlada por homens e sendo assim, fugia dos homens por quem eu me sentia atraída.

Quando comecei a estudar o budismo de Nichiren, eu aprendi sobre esho funi (inseparabilidade entre o indivíduo e seu meio ambiente), este conceito deu outra perspectiva a minha infeliz vida amorosa. Eu estava escolhendo reflexo da minha insegurança e baixa auto-estima. O príncipe mudava de nome, mas o drama era sempre o mesmo nos relacionamentos.

O Gohonzon, objeto de devoção no budismo de Nichiren, me fascinava. Como eu entendi, o Nichiren inscreveu na forma de uma mandala algo que poderia refletir  para mim - como um espelho - a minha condição de ser humano iluminado (estado de vida buda) que é inerente a minha vida. Quão profundo e profundamente encorajador! Eu meditava com todo o meu coração para eu me sentir confiante, segura, com base na fé de manifestar o meu potencial ilimitado - estado de buda que existia em mim.

Eu determinei que naturalmente iria conhecer um homem que me respeitaria pelo buda que eu realmente sou. O que eu não sabia é que demoraria muito para eu, a mulher franca e de baixa auto-estima, desenvolver a minha identidade verdadeira.

Durante 20 anos eu pratiquei o budismo com muita fé e diligência, tive grandes transformações em todos os aspectos da minha vida – menos o amoroso. Por exemplo, na minha carreira profissional, eu fui de uma entendiosa posição de agente público para a de diretora fundadora de 2 agências de pesquisas – sendo a última o meu emprego dos sonhos, responsável pelo Centro de pesquisa de Boston para o século 21, um instituto pacifista fundado pelo presidente da SGI (Soka Gakkai Internacional), Daisaku Ikeda.

Eu, também, após sofrer por anos de variação de humor, eu consegui ter estabilidade emocional. Meditando  cada vez mais quando eu estava triste, estudando o budismo e participando das atividades da SGI-USA – onde eu ficava rodeada de pessoas cheias de energia vital – eu venci esta terrível e persistente variação de humor que era tendência na minha vida.

Mas, namorar? Esta era uma outra história.
Para onde todos os homens foram? Eu estava num deserto. A cada nova possibilidade, no final, eu via que tinha sido apenas uma miragem.
No budismo de Nichiren a gente aprende que nenhuma oração fica sem resposta, então, onde estava a resposta para as minhas?

Muitos budistas maravilhosos me encorajaram e incentivaram ao longo do caminho. Eu pensava, “eu vou mudar para um lugar onde existam mais homens solteiros”.
Ao contrário disso, a minha dirigente budista me incentivou dizendo: “Fortaleça a orbita da sua fé, e a pessoa certa virá até você” Eu entendi que deveria fincar as minhas raízes e fortalecer a minha prática no lugar onde estava. Uma vida nobre, brilhando com um propósito, atrairá o seu semelhante.

Após anos de pratica budista, eu desanimei. Talvez eu deveria estar saindo mais a procura do homem ideal do que indo nas atividades budistas. Será que eu desperdicei o meu tempo?

Eu me encontrei com uma líder da divisão feminina no Japão, abri o meu coração para ela, e a resposta foi: “Talvez você nunca case.”
Eu chorei e chorei, muito. Ninguém nunca tinha falado isso para mim.
Mas, ela continuou: “ Se você assumir a sua missão como bodhisattva, praticando o budismo e trabalhando pela felicidade das pessoas (paz mundial*), você vai está completamente realizada no final da sua vidaindependente de ter se casado ou não.”
Ela me disse para meditar, entoar o mantra budista, até eu sentir com todo o meu coração e acreditar nas suas palavras.

Demorei 3 meses para entender o que ela me disse, por fim – eu compreendi que a verdadeira vitória na minha vida não era o casamento e sim viver sendo eu, uma bodhisattva da Terra. Eu não tinha como negar a sensação de realização que essa conclusão me causou. Eu parei de sentir solidão.

Mas, eu  AINDA queria um parceiro. Eu me sentia como uma mulher estranha, esquisita; eu tinha aquela incessante sensação que alguma coisa talvez estivesse errada comigo porque eu estava nos meus 50 anos e nenhum homem tinha me escolhido. Mas também, a  maioria das pessoas casadas não estavam mais felizes do que os solteiros. Gradualmente, eu entendi que estava bem assim como eu estava - solteira.

Então a minha amada mãe faleceu, através da minha prática budista, eu transformei a minha relação difícil com meu pai e encontrei compaixão para inspirá-lo a viver sem a sua companheira. Eu vi a bondade no meu pai ao invés de estereotipar ele como apenas outro macho dominador. Durante este processo, eu senti que tinha mudado o meu karma negativo com homens.

Nesta época, eu conversei com uma dirigente budista. Ela sentiu empatia pelo meu desejo de ter um parceiro e disse: “Ginny, eu acho que você vai conhecê-lo por serendipidade (universo conspira).”
Para mim significou que a minha felicidade ia se revelar naturalmente. A compaixão desta líder budista me comoveu, e eu percebi que a minha missão como bodhisattva era muito  profunda e abraçava o meu sonho de me casar.

Essas duas mudanças, acreditar no potencial do meu pai de atingir o estado de buda ( por extensão, o potencial dos homens) e perceber a pessoal e única natureza da minha missão, me fizeram continuar entoando o mantra para ter um casamento feliz.
Eu desenvolvi uma sólida auto-confiança baseada na fé e, como resultado, todos os meus relacionamentos começaram a refletir uma profunda conexão e intimidade.

Em Abril de 2004, eu peguei um avião para a Califórnia. Sentado no meu lugar, achando que era dele, estava a minha alma gêmea – Don. Nós conversamos e fizemos confidencias um para o outro todo o voo, até Los Angeles, onde ele morava.

Tudo que ele ama em mim eu construí com a minha prática budista. Ele acha que eu tenho um brilho interno – eu sei que isso vem de anos entoando o mantra Nam-Myoho-Rengue-Kyo, meditando.

Ele é interessado no meu trabalho no centro pacifista e respeita a minha devoção a ele. Ele adora que eu tenha muitos amigos e sou uma pessoa bem relacionada. Ele aprecia o budismo e a energia e acolhimento da nossa comunidade budista.

Quando eu voei para Minneapolis para conhecer a família do Don, eu tive que trocar de avião em Chicago. O Don, inesperadamente, embarcou no meu voo. Sorrindo, ele disse:
“Desta vez você está sentada no lugar errado.”
Agindo como um príncipe, ele me levou para um assento reservado e me pediu em casamento.
Don mudou-se para Boston no dia dos namorados ( 14 de fevereiro) e nos casamos em junho.

Recentemente o Don encontrou com a minha amiga e líder budista da Califórnia, aquela que me incentivou, e disse para ela: “ Eu sou o Sr. Serendipidade”.
Ele me disse que a expressão do rosto dela de pura alegria pela nossa vitória o convenceu da ligação genuína e altruística entre as mulheres da nossa comunidade budista.

Refletindo na minha jornada para encontrar o Sr. Serendipidade, a minha revolução humana é fruto do profundo efeito das orações budistas na minha vida.

Como o Presidente Daisaku Ikeda diz: “Existem inúmeros elementos envolvidos na resposta a uma oração, mas o mais importante é continuar meditando até que a sua oração seja respondida. Continuar orando faz  com que você consiga refletir com grande honestidade sobre você mesma e, assim, começar a mover a sua vida numa direção mais positiva – com compromisso e esforço diligente. Mesmo que suas orações não produzam um resultado concreto imediatamente, se você não desistir, em algum momento todo o seu daimoku ( meditação, oração) vai se manifestar de uma forma muito maior do que você tinha esperado.

* Entende-se por paz mundial a prosperidade e o bem-estar  na vida de todas as pessoas.

Tradução não oficial do livro: The Buddha Next Door, ordinary people, extraordinary stories.
Autores: Zan Gaudioso e Greg Martin
ISBN: 978-0-9779245-1-6

sábado, 22 de novembro de 2014

Liberty, a história do cavalo

Lynn, Andy, Stevie and Gina Rajeckas
Escrito por Lynn Rajeckas

Apesar da pessoa não ler e nem estudar o Sutra de Lótus, se apenas meditar com o seu mantra já é uma fonte de tremenda boa sorte. Nichiren Daishonin

Eu pratico o Budismo de Nitiren Daishonin ( Sutra de Lótus) desde o início dos anos 80. O meu maior desafio tem sido como encorajar as minhas crianças na prática budista. Após inúmeras horas meditando para a felicidade e bem-estar dos meus filhos, eu gostaria que eles aprendessem desde cedo os valores do budismo nas suas próprias vidas. Eu queria emponderar ( dar poder) eles com os ensinamentos budistas e mostra-los como eles poderiam influenciar o mundo ao invés de serem influenciados por ele.

Meus filhos, de  8 e 5 anos, e eu estávamos voltando para casa depois de um jogo de beisebol. Nós passamos em frente a casa do nosso vizinho e reparados de imediato que Liberty, o cavalo do vizinho, não estava no seu estábulo. Liberty era o animal de estimação favorito dos meu filhos. Eu tenho certeza que eles confiavam e contavam segredos  para ele, segredos que eles não queriam que ninguém mais soubesse. Não preciso dizer que ele era uma importante parte da vida dos meus filhos e eles o amavam.

Quando fomos falar para os nossos vizinhos, eles confirmaram o que o nosso coração aflito já suspeitava – Liberty tinha desaparecido. Um time de busca, o qual meu marido fazia parte, foi rapidamente formado. Nossas casas ficam do lado de milhares de acres abertos; Liberty poderia estar em qualquer lugar.

Meus filhos estavam muito tristes. O cavalo tinha se tornado parte da família para eles. Jim, o dono do Liberty, também estava bastante chateado. O time de busca estava atento, mas não havia nenhum sinal do seu precioso cavalo.

Meus filhos estavam inconsoláveis naquele momento, perguntando o que eles poderiam fazer para ajudar. Eles eram muito novos para serem incluídos no time de busca, e eles se sentiam impotentes diante da situação. Então eu disse a eles como a contribuição deles poderia ser a mais valiosa, e também faria com eles se sentissem melhores. NÓS PODEMOS ENTOAR O MANTRA NAM MYOHO RENGUE KYO ( meditar ou fazer daimoku).

Era o momento de todos nós juntos meditarmos para que o Liberty fosse encontrado e não estivesse ferido. Com o sentimento de missão, meus filhos sentaram em frente ao Gohonzon ( mandala budista) comigo e nós entoamos o mantra. Eles meditaram por 15 minutos, posso te dizer que para idade de 5 e 8 anos meditar por 15 minutos  é como se fossem horas para adultos. As orações deles eram diligentes, sinceras e de coração. Quando acabamos meus filhos foram para a cama dormir. O coraçãozinho deles ainda estava um pouco pesado e eles ainda estavam preocupados com o Liberty.

Eu tenho certeza que a meditação lhes deu a sensação de terem feito algo de valor pelo amigo; pelo menos, a meditação deu segurança a eles suficiente para conseguirem dormir.

As buscas pelo Liberty pararam às 2 da manhã. Jim tinha decidido alugar um helicóptero na manhã seguinte para continuar a busca – ele não iria desistir.

Algumas horas depois, com apenas alguns momentos de descanso, eu e meu marido, Andy, estávamos nos preparando para entoar o mantra para o retorno a salvo do Liberty – eram 5 da manhã. Antes de começar eu contei para ele novamente que as crianças fizeram daimoku com muita sinceridade e coração.

Eu disse: Quero tanto contar para eles que o Liberty está de volta quando eles acordarem pela manhã. Meu marido consentiu com a cabeça com o mesmo sentimento meu e de repente a sua expressão mudou drasticamente.

Ele estava olhando para a sala onde o nosso altar budista está, onde fazemos as nossas meditações, e adivinhem quem estava batendo na janela para chamar a nossa atenção? Liberty!

Eu imediatamente corri para acordar as crianças, enquanto o Andy foi chamar o Jim. Não preciso dizer que as crianças estavam em êxtase. As orações deles não apenas foram atendidas, o Liberty foi entregue diretamente na nossa porta. O cavalo então foi acompanhado em grande estilo de volta a seu estábulo, salvo e feliz.

Obrigada Liberty, por me ajudar a mostrar os meus filhos uma prova concreta desta maravilhosa prática budista.

------------------------------------

Tradução não oficial do livro: The Buddha Next Door, ordinary people, extraordinary stories.
Autores: Zan Gaudioso e Greg Martin

ISBN: 978-0-9779245-1-6

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Talvez, um bebê

por: Anne – Marie Akin

Tudo parece mudar quando nós mudamos – Henri Amiel

Através da minha prática budista eu mudei a minha carreira profissional; eu sou agora uma musicista e professora de arte. Eu encontrei a mais maravilhosa companheira para minha vida, construí uma família forte e feliz e venci inúmeros desafios – internos e externos. Eu sou uma pessoa que vive a vida de uma forma genuína, livre e corajosa. Mas eu me encontrei encarando um aspecto da minha vida profundamente enraizada e dolorosa que não tinha noção que existia até que (felizmente) fui forçada pelas circunstancias a encarar isso.

O problema começou como resultado de uma grande alegria – após anos falando sobre isso, eu e a minha companheira finalmente decidimos ter um bebê através de um banco de sêmen. Minha companheira, Amy,  facilmente engravidou. Nós éramos como quaisquer pais grávidos, ansiosas e cheias de expectativas – a gente mal podia esperar para contar a novidade para os amigos e colegas de trabalho. Eu contei para a todos os meus amigos da The Old Town School of Folk Music, onde eu sou funcionária. Mas a maioria das minhas aulas são no programa residência que fica no lado oeste de Chicago, um centro de assistência para crianças e famílias de baixa renda. Eu me encontrei incapaz de contar para os meus colegas do centro sobre o bebê que esperávamos.

No meu trabalho como professora de arte eu tinha observado homofobia explícita e implícita. Como qualquer pessoa gay que trabalha com crianças falaria para você, escolas infantis –  em qualquer lugar -  não é um ambiente onde as pessoas assumem a sua sexualidade abertamente. Nas outras áreas da minha vida eu vinha caminhando para me tornar cada vez mais livre, e eu de repente descubro que passei os últimos 7 anos da minha vida de professora me encolhendo e escondendo, até eu ter num compartimento uma versão “aceitável” de mim mesma conhecida como Srta. Anne Marie, a moça da música. Esta versão não incluía várias coisas do meu eu, especialmente a parte que eu sou uma mulher casada com outra mulher. Eu me esforcei tanto para “sair do armário”, para  agora me encontrar de volta nele porque eu permiti que as suposições de outras pessoas sobre mim parecessem a verdade. De repente eu estava tendo que encarar  o stress de “sair do armário” novamente.

Eu estava num dilema muito dolorido. Aqui eu estava, semana após semana, com pessoas que amam crianças e bebês, cantando com elas, olhando as fotos dos seus filhos e netos, com o coração cheio de alegria sabendo  que eu em breve eu teria um bebê lindo também; e mesmo assim o meu coração estava cheio de angustia porque eu não conseguia encontrar uma forma de contar a novidade e dividir a minha alegria. Algumas dessas mulheres eram muito amigas minhas – mas elas não sabiam nada sobre a minha vida! Como você se assumi gay para pessoas que você conhece há anos?

A gravidez de Amy estava cada vez mais visível e a minha situação se tornou cada vez mais dolorida. Pessoas totalmente estranhas perguntavam para ela sobre o bebê, enquanto eu me tornava mais invisível como também “mãe grávida”. Toda semana eu falava para mim mesma, “Esta semana eu vou contar para os meus colegas”. Mas outra semana passaria porque eu não consegui encontrar palavras ou coragem para contar para eles. Eu sabia que deveria meditar ( fazer daimoku, entoar o mantra NMRK) sobre isso, mas francamente tudo era tão dolorido para mim que até meditar sobre isso era difícil. Eu estava me sentindo miserável e depressiva num momento que eu deveria estar muito feliz.

Um dia, 2 meses antes de Maya ( minha filha) nascer, Eu estava sentada numa sala infantil cantando com as crianças e pensando, Quando eu vou contar para eles? Quando um dos professores assistentes me perguntou do nada:  Anne-Marie você algum dia pretende ter filhos?
Eu pensei, vou contar para eles agora: Então, na verdade, eu vou me tornar mãe agora em setembro.

Eles levantaram as sobrancelhas e olharam de forma engraçada e surpresa para a minha barriga “chapada”. Então rapidamente eu completei: A minha parceira é uma mulher e ela está grávida, nós vamos criar o bebê juntas.

Então houve um silêncio na sala. Eles não pareciam chocados. Eles não pareciam felizes. Eles apenas ignoraram completamente a minha história e um deles disse: Então, alguém vai fazer churrasco neste final de semana? E assim eles começaram a conversar sobre os planos para o final de semana. Eu fui discretamente para o banheiro onde eu chorei muito.

Semanas se passaram e eu fiquei sabendo que nenhum dos outros professores sabia. Num prédio cheio de mulheres onde todo mundo sabe tudo sobre todo mundo – ninguém queria contar a minha história. Eu me vi forçada a contar para as pessoas eu mesma. É tão engraçado como o UNIVERSO te dá exatamente o que você precisa para crescer, mas naquele momento, não tinha nada engraçado sobre isso.

Aproximadamente 2 semanas antes do nascimento da Maya – quando eu sairia na minha licença maternidade – eu decidi anunciar isso na reunião de professores. Eu estava com frio na barriga, meu coração estava pesado de medo, mas ao mesmo tempo eu estava querendo terminar com este sofrimento logo e contar para todo mundo que eu iria ser mãe. Eu ainda tinha a expectativa que eles ficariam felizes por mim.

Depois que fiz o meu anúncio para todos,  o diretor do centro disse alto: PARABÉNS! Tentando criar o clima para todos os outros. Mas a maioria das caras que eu estava olhando refletia choque, confusão e surpresa. Umas duas pessoas foram legais, mas meu foco estava em uma professora que parecia bem crítica e com cara de julgamento, ela olhava para os outros na sala procurando nos outros colegas apoio sobre o posicionamento dela.

Eu fui para o banheiro e chorei muito. O problema era que eu estava desejando a aceitação e apoio deles – eu queria que eles ouvissem a minha feliz e maravilhosa noticia e entendesse, por tabela, que eu era lésbica. Não foi isso que aconteceu. Eu fiquei amargurada e humilhada.

Nesta noite eu meditei, entoei o mantra, para chegar a RAIZ do meu sofrimento. Enquanto eu meditava, eu percebi que carregava dentro de mim uma profunda e pesada vergonha – uma vergonha que tinha carregado desde a minha própria infância – uma vergonha tão antiga que eu não conseguia nem colocar nome nisso. Dentro de mim eu sentia que eu não era boa o suficiente, suja e totalmente errada. A vergonha que eu sentia da minha vida estava sendo refletida direto para mim pelo ambiente em que eu vivia. Eu sentei e meditei com todo o meu coração para extirpar a vergonha da minha vida pela raiz. A cada mantra que pronunciava eu sentia como se estivesse me resgatando da sujeira. Todos os dias, duas vezes ao dia, eu continuei meditando para arrancar este fardo pesado, que era a vergonha, da minha vida.

Na semana seguinte a diretora do centro me perguntou se os outros funcionários sabiam do meu bebê. Eu disse que não, ninguém tinha contado para eles. Eu não acreditei quando ela me convidou para uma reunião de todos os funcionários, onde eu novamente iria ter que contar a novidade de ser mãe.

Eu determinei que eles ouviriam a minha notícia e reagiriam com a alegria que ela merecia. Após eu contar a história na reunião, houve uma explosão de parabéns cheios de alegria genuína. Eles responderam exatamente como eu sempre desejei – com uma alegria pura e verdadeira. As pessoas começaram a me perguntar: Como a Amy estava e se o bebê já tinha chegado.

A nossa filha, Mary Maya, agora já não é tão bebê, ela vem comigo para o centro onde eu ensino música. Nós podemos pagar para ela frequentar o centro. Na sala o apelido que  eles deram para ela é “Pequena Preciosa”. Ela é amada por todos e muito bem cuidada. A professora que naquele dia mudou de assunto e começou a falar sobre churrasco no final de semana, me deu uma mala enorme de roupas que eram da filha dela. Outra professora comprou um lindo presente para Maya quando ela nasceu. Recentemente outra professora recortou um artigo no jornal sobre casamento gay e guardou para mim.

Eu não consigo descrever para vocês a INCRÍVEL liberdade que agora eu sinto por ser capaz de ser eu mesma. Eu estou tão leve e feliz no meu trabalho. Todos os meus relacionamentos se tornaram mais verdadeiros. Eu agora almoço com as outras professoras ao invés de ficar escondida na sala. Quando as pessoas me perguntam sobre a minha vida, eu agora não mais evito a pergunta ou mudo o assunto da conversa. É difícil de acreditar que eu carreguei aquele peso por tanto tempo sem perceber que ele existia dentro de mim. Eu sou muito grata do stress e dificuldade que eu enfrentei para revelar o meu eu verdadeiro. Através desta jornada eu mudei o meu estado interior de vergonha para CORAGEM, e como resultado, o meu ambiente mudou dramaticamente.

Eu continuo meditando para que a vergonha das decisões que tomei na vida se transforme em orgulho. Eu estou determinada a não passar este tipo de sentimento para a minha filha Maya. Eles falam que as crianças nos ajudam na prática budista. Eu estou impressionada com as mudanças que esta pequena vida desencadeou em mim. Mesmo antes de nascer, ela já me ajudava a cumprir o meu juramento de me tornar absolutamente feliz, agora, eu farei o mesmo por ela.

---------------------------------------

Tradução não oficial do livro: The Buddha Next Door, ordinary people, extraordinary stories.
Autores: Zan Gaudioso e Greg Martin

ISBN: 978-0-9779245-1-6