Virginia Straus Benson
O amor ideal só é possível entre duas pessoas
sinceras, maduras e independentes.. Sendo assim, é essencial que você tenha a
sua revolução humana como prioridade e não seja distraído pelo romance. Daisaku
Ikeda.
Quando eu comecei a praticar o
budismo de Nichiren muitos anos atrás, me disseram que eu poderia realizar
todos os meus sonhos, e a ideia me deixou entusiasmada. Eu tinha 35 anos quase
todos os meus sonhos já tinham sido destruídos. O meu sonho mais desejado era
que eu encontraria a minha alma gêmea e viveria feliz para sempre. Cinderela era
o meu conto de fadas favorito quando criança. Eu até dei o nome de Cinderela
para o meu cachorro.
Mas, até agora, o meu príncipe tem
sido qualquer coisa menos um príncipe. Eu tive um casamento desastroso nos meus
20 anos que estava mais para uma tragédia grega do que para um conto de fadas.
Assim como em Pigmaleão, o meu marido achava que eu seria melhor se fosse outra
pessoa. O meu senso de identidade era fraco e eu seguia o que o meu marido
queria. Eu tentava de todas as maneiras, mas nunca conseguia ser a pessoa que
ele queria.
Após o divorcio e muitos outros
relacionamentos que não deram certo, eu cheguei a conclusão que eu era atraída por homens que me dominavam e me desrespeitavam.
Eu desenvolvi um medo de ser controlada por homens e sendo assim, fugia dos
homens por quem eu me sentia atraída.
Quando comecei a estudar o
budismo de Nichiren, eu aprendi sobre esho funi (inseparabilidade entre o indivíduo e seu meio
ambiente), este conceito deu outra perspectiva a minha infeliz vida amorosa. Eu
estava escolhendo reflexo da minha insegurança e baixa auto-estima. O príncipe mudava
de nome, mas o drama era sempre o mesmo nos relacionamentos.
O Gohonzon, objeto de devoção no
budismo de Nichiren, me fascinava. Como eu entendi, o Nichiren inscreveu na
forma de uma mandala algo que poderia refletir
para mim - como um espelho - a minha condição de ser humano iluminado (estado
de vida buda) que é inerente a minha vida. Quão profundo e profundamente
encorajador! Eu meditava com todo o meu coração para eu me sentir confiante,
segura, com base na fé de manifestar o meu potencial ilimitado - estado de buda
que existia em mim.
Eu determinei que naturalmente iria
conhecer um homem que me respeitaria pelo buda que eu realmente sou. O que eu
não sabia é que demoraria muito para eu, a mulher franca e de baixa
auto-estima, desenvolver a minha identidade verdadeira.
Durante 20 anos eu pratiquei o
budismo com muita fé e diligência, tive grandes transformações em todos os
aspectos da minha vida – menos o amoroso. Por exemplo, na minha carreira
profissional, eu fui de uma entendiosa posição de agente público para a de diretora
fundadora de 2 agências de pesquisas – sendo a última o meu emprego dos sonhos,
responsável pelo Centro de pesquisa de Boston para o século 21, um instituto
pacifista fundado pelo presidente da SGI (Soka Gakkai Internacional), Daisaku
Ikeda.
Eu, também, após sofrer por anos
de variação de humor, eu consegui ter estabilidade emocional. Meditando cada vez mais quando eu estava triste, estudando
o budismo e participando das atividades da SGI-USA – onde eu ficava rodeada de
pessoas cheias de energia vital – eu venci esta terrível e persistente variação
de humor que era tendência na minha vida.
Mas, namorar? Esta era uma outra
história.
Para onde todos os homens foram?
Eu estava num deserto. A cada nova possibilidade, no final, eu via que tinha
sido apenas uma miragem.
No budismo de Nichiren a gente
aprende que nenhuma oração fica sem resposta, então, onde estava a resposta
para as minhas?
Muitos budistas maravilhosos me
encorajaram e incentivaram ao longo do caminho. Eu pensava, “eu vou mudar para
um lugar onde existam mais homens solteiros”.
Ao contrário disso, a minha
dirigente budista me incentivou dizendo: “Fortaleça a orbita da sua fé, e a
pessoa certa virá até você” Eu entendi que deveria fincar as minhas raízes e
fortalecer a minha prática no lugar onde estava. Uma vida nobre, brilhando com
um propósito, atrairá o seu semelhante.
Após anos de pratica budista, eu
desanimei. Talvez eu deveria estar saindo mais a procura do homem ideal do que
indo nas atividades budistas. Será que eu desperdicei o meu tempo?
Eu me encontrei com uma líder da
divisão feminina no Japão, abri o meu coração para ela, e a resposta foi: “Talvez
você nunca case.”
Eu chorei e chorei, muito.
Ninguém nunca tinha falado isso para mim.
Mas, ela continuou: “ Se você
assumir a sua missão como bodhisattva, praticando o budismo e trabalhando pela
felicidade das pessoas (paz mundial*), você vai está completamente realizada no
final da sua vida – independente de ter se casado ou não.”
Ela me disse para meditar, entoar
o mantra budista, até eu sentir com todo o meu coração e acreditar nas suas
palavras.
Demorei 3 meses para entender o
que ela me disse, por fim – eu compreendi que a verdadeira vitória na minha
vida não era o casamento e sim viver sendo eu, uma bodhisattva da Terra. Eu não
tinha como negar a sensação de realização que essa conclusão me causou. Eu
parei de sentir solidão.
Mas, eu AINDA queria um parceiro.
Eu me sentia como uma mulher estranha, esquisita; eu tinha aquela incessante
sensação que alguma coisa talvez estivesse errada comigo porque eu estava nos
meus 50 anos e nenhum homem tinha me escolhido. Mas também, a maioria das pessoas casadas não estavam mais
felizes do que os solteiros. Gradualmente, eu entendi que estava bem assim como
eu estava - solteira.
Então a minha amada mãe faleceu,
através da minha prática budista, eu transformei a minha relação difícil com
meu pai e encontrei compaixão para inspirá-lo a viver sem a sua companheira. Eu
vi a bondade no meu pai ao invés de estereotipar ele como apenas outro macho
dominador. Durante este processo, eu senti que tinha mudado o meu karma
negativo com homens.
Nesta época, eu conversei com uma
dirigente budista. Ela sentiu empatia pelo meu desejo de ter um parceiro e
disse: “Ginny, eu acho que você vai conhecê-lo por serendipidade (universo
conspira).”
Para mim significou que a minha
felicidade ia se revelar naturalmente. A compaixão desta líder budista me
comoveu, e eu percebi que a minha missão como bodhisattva era muito profunda e abraçava o meu sonho de me casar.
Essas duas mudanças, acreditar no
potencial do meu pai de atingir o estado de buda ( por extensão, o potencial
dos homens) e perceber a pessoal e única natureza da minha missão, me fizeram
continuar entoando o mantra para ter um casamento feliz.
Eu desenvolvi uma sólida
auto-confiança baseada na fé e, como resultado, todos os meus relacionamentos
começaram a refletir uma profunda conexão e intimidade.
Em Abril de 2004, eu peguei um
avião para a Califórnia. Sentado no meu lugar, achando que era dele, estava a
minha alma gêmea – Don. Nós conversamos e fizemos confidencias um para o outro
todo o voo, até Los Angeles, onde ele morava.
Tudo que ele ama em mim eu construí
com a minha prática budista. Ele acha que eu tenho um brilho interno – eu sei
que isso vem de anos entoando o mantra Nam-Myoho-Rengue-Kyo, meditando.
Ele é interessado no meu trabalho
no centro pacifista e respeita a minha devoção a ele. Ele adora que eu tenha muitos amigos e sou uma pessoa bem relacionada. Ele aprecia o budismo e a
energia e acolhimento da nossa comunidade budista.
Quando eu voei para Minneapolis
para conhecer a família do Don, eu tive que trocar de avião em Chicago. O Don, inesperadamente,
embarcou no meu voo. Sorrindo, ele disse:
“Desta vez você está sentada no
lugar errado.”
Agindo como um príncipe, ele me
levou para um assento reservado e me pediu em casamento.
Don mudou-se para Boston no dia
dos namorados ( 14 de fevereiro) e nos casamos em junho.
Recentemente o Don encontrou com
a minha amiga e líder budista da Califórnia, aquela que me incentivou, e disse
para ela: “ Eu sou o Sr. Serendipidade”.
Ele me disse que a expressão do
rosto dela de pura alegria pela nossa vitória o convenceu da ligação genuína e
altruística entre as mulheres da nossa comunidade budista.
Refletindo na minha jornada para
encontrar o Sr. Serendipidade, a minha revolução humana é fruto do profundo
efeito das orações budistas na minha vida.
Como o Presidente Daisaku Ikeda diz: “Existem
inúmeros elementos envolvidos na resposta a uma oração, mas o mais importante é
continuar meditando até que a sua oração seja respondida. Continuar orando
faz com que você consiga refletir com
grande honestidade sobre você mesma e, assim, começar a mover a sua vida numa
direção mais positiva – com compromisso e esforço diligente. Mesmo que suas
orações não produzam um resultado concreto imediatamente, se você não desistir,
em algum momento todo o seu daimoku ( meditação, oração) vai se manifestar de
uma forma muito maior do que você tinha esperado.
* Entende-se por paz mundial a
prosperidade e o bem-estar na vida de
todas as pessoas.
Tradução não oficial do livro: The Buddha Next Door, ordinary people,
extraordinary stories.
Autores: Zan Gaudioso e Greg
Martin
ISBN: 978-0-9779245-1-6