Nesta semana eu recebi um pedido de ajuda vindo de Fortaleza
para uma questão que é muito recorrente nos grupos budistas.
“venho solicitar que mim enviasse uma matéria que fala sobre
a visão budista de Deus?, visão budista de jesus cristo? ," Buda e Deus
?".
Se o simpatizante estar cometendo alguma calúnia ,pecado
contra a sua religião por estar participando de uma atividade budista?”
1.
O Budismo é uma religião/filosofia de vida
HUMANISTA, então, de forma alguma o ser “Deus” será substituído por Buda.
Um erro grande e grave são pessoas que não
conhecem o budismo acharem que Buda é uma pessoa. O Buda não é uma pessoa, mas
UM ESTADO DE VIDA.
O Buda não é um ser espiritual que vive no
Nirvana, como Deus vive no céu. NÃO!
O Buda é um ser humano que fez a sua
revolução humana, se “humanizou”, e hoje vive aqui na terra entre nós, como um
de nós ou SOMOS NÓS.
Ele trabalha e enfrenta dificuldades como
todo mundo, porém, como despertou para a verdadeira essência da vida e não é
mais um “fantoche” da escuridão fundamental, consegue transformar a dificuldade
em oportunidade, o veneno em remédio, reconhece e ACEITA o seu potencial
infinito. É através do seu exemplo que ele inspira, incentiva e AGE para criar
valor para todos ao seu redor e impactar a sociedade de forma positiva.
Então, como pode haver traição de um cristão
frequentar as reuniões budistas? Como um ser que vive no imaginário das pessoas
pode competir com um ser real que está a nossa frente? Como se comparar duas
filosofias tão distintas como a água e o vinho?
2. Quando eu morava em Londres, tinha um padre da
igreja Anglicana (?) que frequentava as reuniões no nosso grupo em Notting
Hill. Segundo ele, a meditação budista ( daimoku) fazia com que ele entendesse
melhor a bíblia e assim passasse os ensinamentos para os fieis. Ele falava que
nunca se converteria ao budismo, apesar de praticá-lo, porque ele tinha uma
responsabilidade enorme dentro da igreja, um compromisso com os fiéis e sentia
que ser padre era a sua MISSÃO.
A situação descrita acima é completamente diferente do
quadro cultural e social que encontramos no Brasil. A Inglaterra, apesar de ser
um pais que adota oficialmente a religião Anglicana, é aberta às diversidade –
Londres é considerada a capital mais cosmopolita do mundo.
O Brasil é um país constitucionalmente laico, porém
culturalmente cristão – os nossos feriados homenageiam os santos, as maiores
festas populares do país são religiosas, etc. – e socialmente, cada vez mais
cristão,- hoje as orações estão no início de uma jornada de trabalho, nos
aniversários, nas escolas, no esporte, etc. O que limita socialmente o
individuo que não seja cristão.
Essa situação é ainda vai agravante em alguns estados e,
principalmente, no interior do país – onde existem paradigmas solidificados que
condicionam o bom cidadão ao cristianismo, e a desconfiança em relação àqueles
que não frequentam as atividades cristãs.
Aqui em Montes Claros de vez enquanto temos cristãos
participando das reuniões, já tivemos até uma mulher representante da LBV (
Legião da Boa Vontade) que deu um discurso, muito apaixonado, sobre deus – que tivemos que interromper no meio, o que dissemos a ela?
Falamos sobre o nosso entendimento
do que ela chama de deus:
- Nós também acreditamos nesta força que você tentou nos
descrever, a diferença é que você a personifica - dá nome e até corpo ( mão de
deus, deus vê, deus está).... Nós, ao contrário, acreditamos que esta força não
está em tudo, ELA É TUDO... por não personificar e nem limitar essa força - pela
lógica - ela se torna muito maior do que o que você nos descreveu.
Enquanto vocês limitam esta força tentando explicar o
inexplicável e trazê-la para a realidade de vocês, nós nos preocupamos em nos
evoluir como seres humanos - sob a nossa responsabilidade e livre arbítrio...
deixamos esta força que chamamos a ENERGIA DO UNIVERSO ser o que ela é, com a
sua infinita potencialidade e possibilidades.
Usamos a nossa revolução humana para criar valor a nossa
volta e melhorar o mundo - alimentando esta força do Universo de dentro para
fora com as nossas ações e usufruindo dos seus benefícios, que são ativados pela nossa consciência e
responsabilidade humanista ( lei de causa e efeito).
Através do nosso estado de vida ( energia interna) entramos
em sintonia com esta força que está em tudo e, em comunhão, com ela - estamos
mudando a nós mesmos e construindo um mundo melhor para todos com as nossas
AÇÕES.
Mas, é muito difícil você explicar algo quando a pessoa não aceita
nem dialogar sobre isso, afinal a fé é “confiar cegamente” – sem questionar os
mistérios de “deus”. No Budismo a fé é racional, somos orientados a procurar na
ciência a comprovação do que estudamos nos Sutras e Goshos.
No norte de Minas, onde moramos, é ainda mais complicado –
se encaixa na questão dos paradigmas descritos acima. No Budismo estudamos o
inconsciente individual, familiar e coletivo – onde entram estas questões
culturais. Estes padrões de “ir com a
boiada” é muito mais fácil – sair da zona de conforto é difícil não apenas pela
pressão explícita que sofremos pelas pessoas a nossa volta, mas também a
invisível que deriva da força dos inconscientes os quais fazemos parte ou
interagimos ( não sei qual termo seria mais adequado).
No nosso grupo tem
budistas que se converteram há uns 7 anos e continuam na dúvida e numa batalha
com esta questão de deus dentro deles. Tivemos uma reunião para shakubukus
(iniciantes) onde os veteranos aproveitaram para abordar este tópico no diálogo
– outro ponto maravilhoso no budismo é que os questionamentos são bem vindos,
mesmo que sejam questões de “principiantes”.
Um veterano, ENGENHEIRO ELETRICISTA - muito racional - disse que estuda e quanto mais estuda aumenta
a sua crença e fé no budismo... mas, que a concepção de “Deus” continua sendo
algo presente na sua vida – difícil de superar.
No Brasil, no interior de Minas principalmente, todos nós
somos de família cristã e muitos se converteram ao budismo depois dos 30 anos –
este senhor se converteu depois dos 50 anos. Quebrar paradigmas, os quais fomos
criados neles e ainda vivemos no ambiente deles, é muito difícil mesmo. Mas o
budismo nos ensina a observar a nossa mente e nos dá ferramentas para entender
e superar todas e quaisquer dificuldades.
O interessante é que, durante o diálogo, eu disse a ele que
o budismo é muito fácil – é uma receitinha de bolo. Mas, ser budista num país
tão cristão, como o nosso, é muito difícil. E adivinhe, ele discordou de mim –
segundo ele, ser budista aqui é fácil e não tem nada a ver com o país ser tão cristão.
Esta questão e dificuldade enfrentada por este senhor, fato
mais comum do que a gente pensa, é explicada no budismo pelas 9 CONSCIÊNCIAS –
por favor estudem este princípio para entender melhor este texto.
Resumindo, não tem muito o que fazer. Até nós que estudamos
com seriedade o budismo e somos um pouco mais despertos do que outros membros,
TAMBÉM temos alguns momentos que somos ENGOLIDOS por este inconsciente coletivo
- quando a nossa prática está fraca é muito complicado resistir à escuridão
fundamental que é inerente em nossas vidas.
Este é um caso típico onde um veterano da prática fala para
você, faça muito daimoku – você precisa fazer muito daimoku!
Porque a questão não é falta de compreensão – você entende o que foi explicado e concorda com tudo. É onde o diálogo com fatos comprovados cessa e os seus “argumentos”, até você sabe, não se sustentam.
Porque a questão não é falta de compreensão – você entende o que foi explicado e concorda com tudo. É onde o diálogo com fatos comprovados cessa e os seus “argumentos”, até você sabe, não se sustentam.
Esta é a hora de fazer muito daimoku para não se transformar
em “fantoche” dos inconscientes ao nosso redor e fazer manifestar a nossa
natureza, sábia, de Buda.
Por favor leiam os textos que estão no link abaixo: