segunda-feira, 18 de agosto de 2014

A visão Budista de Deus.


Nesta semana eu recebi um pedido de ajuda vindo de Fortaleza para uma questão que é muito recorrente nos grupos budistas.

“venho solicitar que mim enviasse uma matéria que fala sobre a visão budista de Deus?, visão budista de jesus cristo? ," Buda e Deus ?".
Se o simpatizante estar cometendo alguma calúnia ,pecado contra a sua religião por estar participando de uma atividade budista?”

1.       O Budismo é uma religião/filosofia de vida HUMANISTA, então, de forma alguma o ser “Deus” será substituído por Buda.
Um erro grande e grave são pessoas que não conhecem o budismo acharem que Buda é uma pessoa. O Buda não é uma pessoa, mas UM ESTADO DE VIDA.
O Buda não é um ser espiritual que vive no Nirvana, como Deus vive no céu. NÃO! 
O Buda é um ser humano que fez a sua revolução humana, se “humanizou”, e hoje vive aqui na terra entre nós, como um de nós ou SOMOS NÓS.

Ele trabalha e enfrenta dificuldades como todo mundo, porém, como despertou para a verdadeira essência da vida e não é mais um “fantoche” da escuridão fundamental, consegue transformar a dificuldade em oportunidade, o veneno em remédio, reconhece e ACEITA o seu potencial infinito. É através do seu exemplo que ele inspira, incentiva e AGE para criar valor para todos ao seu redor e impactar a sociedade de forma positiva.

Então, como pode haver traição de um cristão frequentar as reuniões budistas? Como um ser que vive no imaginário das pessoas pode competir com um ser real que está a nossa frente? Como se comparar duas filosofias tão distintas como a água e o vinho?

   2.    Quando eu morava em Londres, tinha um padre da igreja Anglicana (?) que frequentava as reuniões no nosso grupo em Notting Hill. Segundo ele, a meditação budista ( daimoku) fazia com que ele entendesse melhor a bíblia e assim passasse os ensinamentos para os fieis. Ele falava que nunca se converteria ao budismo, apesar de praticá-lo, porque ele tinha uma responsabilidade enorme dentro da igreja, um compromisso com os fiéis e sentia que ser padre era a sua MISSÃO.


A situação descrita acima é completamente diferente do quadro cultural e social que encontramos no Brasil. A Inglaterra, apesar de ser um pais que adota oficialmente a religião Anglicana, é aberta às diversidade – Londres é considerada a capital mais cosmopolita do mundo.

O Brasil é um país constitucionalmente laico, porém culturalmente cristão – os nossos feriados homenageiam os santos, as maiores festas populares do país são religiosas, etc. – e socialmente, cada vez mais cristão,- hoje as orações estão no início de uma jornada de trabalho, nos aniversários, nas escolas, no esporte, etc. O que limita socialmente o individuo que não seja cristão.

Essa situação é ainda vai agravante em alguns estados e, principalmente, no interior do país – onde existem paradigmas solidificados que condicionam o bom cidadão ao cristianismo, e a desconfiança em relação àqueles que não frequentam as atividades cristãs.

Aqui em Montes Claros de vez enquanto temos cristãos participando das reuniões, já tivemos até uma mulher representante da LBV ( Legião da Boa Vontade) que deu um discurso, muito apaixonado, sobre deus – que tivemos que interromper no meio, o que  dissemos a ela?

Falamos sobre o nosso entendimento 
do que ela chama de deus:

- Nós também acreditamos nesta força que você tentou nos descrever, a diferença é que você a personifica - dá nome e até corpo ( mão de deus, deus vê, deus está).... Nós, ao contrário, acreditamos que esta força não está em tudo, ELA É TUDO... por não personificar e nem limitar essa força - pela lógica - ela se torna muito maior do que o que você nos descreveu.

Enquanto vocês limitam esta força tentando explicar o inexplicável e trazê-la para a realidade de vocês, nós nos preocupamos em nos evoluir como seres humanos - sob a nossa responsabilidade e livre arbítrio... deixamos esta força que chamamos a ENERGIA DO UNIVERSO ser o que ela é, com a sua infinita potencialidade e possibilidades.

Usamos a nossa revolução humana para criar valor a nossa volta e melhorar o mundo - alimentando esta força do Universo de dentro para fora com as nossas ações e usufruindo dos seus benefícios,  que são ativados pela nossa consciência e responsabilidade humanista ( lei de causa e efeito).
Através do nosso estado de vida ( energia interna) entramos em sintonia com esta força que está em tudo e, em comunhão, com ela - estamos mudando a nós mesmos e construindo um mundo melhor para todos com as nossas AÇÕES.

Mas, é muito difícil você explicar algo quando a pessoa não aceita nem dialogar sobre isso, afinal a fé é “confiar cegamente” – sem questionar os mistérios de “deus”. No Budismo a fé é racional, somos orientados a procurar na ciência a comprovação do que estudamos nos Sutras e Goshos.

No norte de Minas, onde moramos, é ainda mais complicado – se encaixa na questão dos paradigmas descritos acima. No Budismo estudamos o inconsciente individual, familiar e coletivo – onde entram estas questões culturais. Estes padrões  de “ir com a boiada” é muito mais fácil – sair da zona de conforto é difícil não apenas pela pressão explícita que sofremos pelas pessoas a nossa volta, mas também a invisível que deriva da força dos inconscientes os quais fazemos parte ou interagimos ( não sei qual termo seria mais adequado).

 No nosso grupo tem budistas que se converteram há uns 7 anos e continuam na dúvida e numa batalha com esta questão de deus dentro deles. Tivemos uma reunião para shakubukus (iniciantes) onde os veteranos aproveitaram para abordar este tópico no diálogo – outro ponto maravilhoso no budismo é que os questionamentos são bem vindos, mesmo que sejam questões de “principiantes”.

Um veterano, ENGENHEIRO ELETRICISTA - muito racional -  disse que estuda e quanto mais estuda aumenta a sua crença e fé no budismo... mas, que a concepção de “Deus” continua sendo algo presente na sua vida – difícil de superar.

No Brasil, no interior de Minas principalmente, todos nós somos de família cristã e muitos se converteram ao budismo depois dos 30 anos – este senhor se converteu depois dos 50 anos. Quebrar paradigmas, os quais fomos criados neles e ainda vivemos no ambiente deles, é muito difícil mesmo. Mas o budismo nos ensina a observar a nossa mente e nos dá ferramentas para entender e superar todas e quaisquer dificuldades.

O interessante é que, durante o diálogo, eu disse a ele que o budismo é muito fácil – é uma receitinha de bolo. Mas, ser budista num país tão cristão, como o nosso, é muito difícil. E adivinhe, ele discordou de mim – segundo ele, ser budista aqui é fácil e não tem nada a ver com o país ser  tão cristão.

Esta questão e dificuldade enfrentada por este senhor, fato mais comum do que a gente pensa, é explicada no budismo pelas 9 CONSCIÊNCIAS – por favor estudem este princípio para entender melhor este texto.

Resumindo, não tem muito o que fazer. Até nós que estudamos com seriedade o budismo e somos um pouco mais despertos do que outros membros, TAMBÉM temos alguns momentos que somos ENGOLIDOS por este inconsciente coletivo - quando a nossa prática está fraca é muito complicado resistir à escuridão fundamental que é inerente em nossas vidas.

Este é um caso típico onde um veterano da prática fala para você, faça muito daimoku – você precisa fazer muito daimoku! 
Porque a questão não é falta de compreensão – você entende o que foi explicado e concorda com tudo. É onde o diálogo com fatos comprovados cessa e os seus “argumentos”, até você sabe, não se sustentam.

Esta é a hora de fazer muito daimoku para não se transformar em “fantoche” dos inconscientes ao nosso redor e fazer manifestar a nossa natureza, sábia, de Buda.

Por favor leiam os textos que estão no link abaixo: