quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Sonhe Grande

Waneta Boutin Tew

Nenhum pessimista nunca descobriu o segredo das estrelas, ou navegou para uma terra desconhecida, ou abriu uma nova porta para o espírito humano – Hellen Keller

Eu tenho que dizer, me tornar budista foi um dos grandes acontecimentos da minha vida. Eu comecei a praticar o budismo 5 meses antes de me converter e filiar a SGI ( Soka Gakkai Internacional). Eu era uma budista de “armário” que não queria que as pessoas soubessem da minha prática.

Eu nasci legalmente cega ( deficiente visual). Quando eu tinha 4 anos de idade eu fiz uma cirurgia nos olhos, mas antes que eles pudessem se recuperar, eu recebi um chute no rosto e meu olho esquerdo teve hemorragia. O estrago tinha sido feito. Eu perdi toda a visão, até percepção de luz, no meu olho esquerdo. Meu olho direito tinha miopia degenerativa e descolamento da retina, o que significava que eu só conseguia enxergar metade do campo de visão daquele olho.

Meus pais me mandaram para uma escola de deficientes visuais em Massachusetts até os meus 18 anos. Meus últimos 3 anos de escola eu frequentei uma escola particular. Depois de graduar, eu arrumei um emprego em Montpelier, Vermont, como administradora de uma cafeteria. Devido eu ser a primeira pessoa naquela posição que conseguiu dar lucro para a empresa, eu fui orientada a me qualificar mais em alguma área que interessava a mim.

Eu decidi ir para o Arkansas onde eles tinham um programa para cegos, onde eu poderia ter uma educação mais avançada. O que eu não sabia era que ao mesmo tempo, meu futuro marido, Danny,  estava deixando Greensboro, California do Norte, para se matricular no mesmo curso. Normalmente, muitos alunos se apresentam todos os dias, mas naquele dia, foi apenas nós dois.

Nossa amizade, que mais tarde se transformou em amor, começou naquele primeiro dia. Danny me ensinou sobre o Budismo de Nichiren e como meditar entoando o mantra NAM-MYOHO-RENGUE-KYO. Nós nos casamos na noite de natal daquele mesmo ano.

Depois que nos formamos, eu me mudei para  Greensboro com o Danny. Eu não dirigia e, até aquele momento, nunca tinha sonhado em poder dirigir. Danny não tinha carteira de motorista também, porque, obviamente, ele também era cego.

Eu comecei a conversar um amigo budista sobre os meus olhos e decidi meditar para que a minha visão melhorasse.

Eu queria algo que parecia impossível: Eu gostaria de poder dirigir.

Meu amigo me orientou a entoar o mantra com a determinação de encontrar o médico oftalmologista  certo que entenderia a minha doença profundamente. Ele também me orientou a determinar que eu teria um carro e tiraria a carteira de motorista.

Eu comecei a meditar 2 horas por dia e perceber as mudanças na minha vida e na do Danny. Então, eu finalmente decidi contar para o Danny e sua mãe sobre os meus objetivos, o que eu queria realizar, e sobre o meu diálogo com o meu amigo budista. Eu disse a eles que estava determinada a ter um carro e estar dirigindo ele em no máximo 1 ano.

Danny e a mãe dele estavam céticos, mas eu estava focada e determinada a alcançar o meu objetivo. Meu marido e eu estávamos desempregados e recebendo ajuda do governo por sermos deficientes e certamente não tínhamos dinheiro para comprar um carro, mas isso não me fez parar de correr atrás do meu sonho.

Após anos e anos de ter sempre o mesmo diagnóstico e prognóstico, que eu seria totalmente cega, eu encontrei um médico que achou que poderia me ajudar. Ele entendeu completamente como era a minha deficiência. Eu tinha encontrado o médico oftalmologista certo! Exatamente o que eu vinha determinando no meu daimoku ( meditação).

Pouco tempo depois, com a ajuda dele, a minha visão melhorou o suficiente para que eu pudesse dirigir!  Acredite em mim, isso foi um desafio enorme. Eu não sabia usar o pedal dos freios, mas a mãe do Danny me ensinou. Ela não é apenas um apoio maravilhoso na nossa vida, mas ela também nos ajudou financeiramente. Em fevereiro, nós compramos o nosso primeiro carro!

Todos os anos, para continuar a dirigir, eu tenho que ir ao médico,  passar pelo exame de vista e assim renovar a minha licença anualmente. No início da minha prática, a minha visão era 20/80, agora ela fica entre 20/60 e 20/70; isso depende da minha meditação.

Quando eu não estou fazendo a minha pratica budista diariamente, a minha fé em mim mesma e no que eu acho que sou merecedora tende a sofrer um pouco, e consequentemente a minha visão piora.

Minha prática budista reforçou o meu verdadeiro valor e meus olhos não tiveram escolha a não ser  responder positivamente a esta mudança. Tudo na minha vida responde mais positivamente. Não preciso dizer que não sou mais uma “budista de armário”, todos sabem que faço a prática budista e os incentivo com a minha história.


Tradução não oficial do livro: The Buddha Next Door, ordinary people, extraordinary stories.
Autores: Zan Gaudioso e Greg Martin

ISBN: 978-0-9779245-1-6

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Felicidade

Cathy Robinson

Não é a alegria que nos faz ter gratidão, é a gratidão que nos faz ter alegria. 
David Steindl-Rast

Após 10 anos num casamento maravilhoso, meu marido e eu decidimos ter um filho, mas eu não conseguia ficar grávida. Nós fomos a um especialista, eu tomei injeções e também tentei inseminação artificial – nada funcionou. Desejar um filho e se decepcionar mês após mês e ano após ano, foi extremamente doloroso. Isso fez surgir em mim,  um sentimento de não ser adequada, anormalidade – baixa autoestima.

Durante este período, meu marido desenvolveu diabetes tipo I. Nós acabamos indo muito ao hospital porque não sabíamos que ele tinha essa doença. Ele não teve condições de  trabalhar por um tempo, e não estava ganhando dinheiro suficiente – então, ficamos muito endividados. Mas eu sempre conseguia renovar as minhas esperanças através da  meditação budista.

Após 6 anos de tentativas não sucedidas de ficar grávida, eu decidi ir ao Japão para um treinamento budista, como eu tinha feito antes, quando precisei de uma sustentação espiritual. Eu comecei a guardar um pouquinho de dinheiro toda semana, determinada que eu e o meu marido iríamos ao Japão. Assim, eu consegui salvar o suficiente para a nossa viagem.

No Japão, nos encontramos com um veterano budista que dividiu o seu relato de vida conosco. Ele nos  disse que tinha tido um câncer de garganta gravíssimo e que os médicos o deram 6 meses de vida. Ele se recusou a aceitar o prognóstico e continuou a meditar 7 horas  por dia durante 6 meses. Isso foi a 7 anos atrás e ele continua vivo e agora meditando 3 horas por dia.

Ele me disse que eu precisava ter 100% de fé, 100 % de certeza e que apesar de ser muito importante ter médicos acompanhando o tratamento, eu não deveria deixa-los me abalar com a “sua ciência” ou nenhuma outra pessoa. Eu deveria ter 100% de fé e 100% de confiança acima de qualquer coisa ou pessoa.

Eu tinha que saber e acreditar que poderia ficar grávida e meditar com a mesma determinação que ele entoou o mantra na sua luta para vencer o câncer. Ele me deu de presente um juzu e um cachecol para o meu futuro bebê e nós voltamos para casa.

Eu meditei até chegar ao ponto que eu percebi que não importava ficar ou não grávida, que eu poderia ser feliz de qualquer jeito. 

Eu fiquei grávida, mas perdi o bebê, foi uma gravidez ectópica. Eu continuei determinada, porque agora, pelo menos, eu sabia que podia ficar grávida – sem drogas ou procedimentos artificiais, apenas meditando com bastante determinação e fé. Seis meses depois, eu fiquei grávida novamente e consegui levar a gravidez até o fim – o bebê nasceu a termo.

O nosso filho é maravilhoso, uma criança incrível. Ser mãe tem sido a maior experiência da minha vida. Tudo que aprendi no passado ajudou a me tornar uma mãe melhor.

Quando o meu filho fez 8 anos, eu comecei a desenvolver uma dor horrível no ombro e fui à um ortopedista. Um exame revelou um tumor na minha espinha que tinha que ser removido imediatamente.

Após a cirurgia, eu fui imobilizada do meu pescoço à cintura, eu tive que ficar assim por 4 meses.

Enquanto ficava deitada na cama do hospital, fazendo daimoku ( meditação), eu tive uma experiência profunda. Eu entendi porque tinha que passar por isso para mudar a minha vida e o meu destino.

Eu tinha 48 anos de idade naquele momento. Minha mãe tinha 48 anos de idade quando ela tentou se matar pulando de uma janela. Ela sobreviveu a queda, mas foi imobilizada do pescoço até a cintura. Aqui eu estava, na mesma idade e na mesma situação – imobilizada do pescoço à cintura. Apesar de motivos diferentes, as duas experiências poderiam ter finalizado as nossas vidas aos 48 anos de idade.

Um ano após essa tentativa, a minha mãe se matou com comprimidos. Eu fiz um juramento de mudar a propensão destrutiva da minha família. Eu estava determinada!

De acordo com o budismo, é possível atingir a sua família 7 gerações passadas e 7 gerações futuras. Qualquer coisa que eu precisasse fazer para ter sucesso nisso, eu estava preparada para enfrentar.

Enquanto eu estava deitada e imobilizada no hospital, eu sabia que eu já estava mudando este karma familiar. Eu estava mudando isso fisicamente, emocionalmente e mentalmente. Eu me sentia livre apesar de estar numa prisão física.

O resultado da biópsia mostrou que o tumor era câncer – eu tinha linfoma. Eu estava com medo, mas eu meditei ( entoei o mantra), e muitos amigos budistas vieram entoar o mantra ( fazer daimoku) comigo. Eu tinha que deitar no meu sofá e rolar para conseguir levantar. Eu não podia tomar banho sem alguém para me ajudar, eu não podia dirigir ou cuidar bem do meu filho.

Os amigos do meu grupo budista vieram com alimentos, presentes e até se ofereceram para limpar a casa para mim. Eu não podia acreditar o quão afortunada eu tinha me tornado. Eu sabia, por essas mudanças no meu ambiente e relacionamento com as pessoas, que eu tinha mudado a minha vida e o karma da minha família ( esho funi, inseparabilidade do ser e seu meio ambiente).

Quando meus pais morreram, eu estava sozinha, eu não tinha ninguém. Agora eu tinha tantas pessoas me dando apoio que eu pensei que o meu coração fosse explodir de GRATIDÃO.

Apesar disso, eu estava aterrorizada com o diagnóstico de câncer. Eu procurei orientações com um budista veterano que me conhecia desde o início da minha prática budista. Eu disse:

- Eu me sinto despedaçando, com a minha esperança indo embora. Eu estava tão forte durante a cirurgia, mas agora, sabendo que o tumor é câncer, eu não sei se consigo levantar a minha fé e esperança novamente.

- Cathy, durante toda a sua vida você tem sido muito emotiva, mas por baixo desta emoção você tem  sido, sempre, muito forte. Todas as experiências que você tem tido como budista te transformou na pessoa que você é hoje. Você não pode se deixar abalar pelo seu emocional, pela superfície do que você realmente é. A força que irá te impulsionar  para vencer este desafio está DENTRO de você.

Esse foi um importante conceito para eu entender: a noção de que ser emotiva não significa que você não seja forte ou que não possa superar adversidades.

Após a primeira quimioterapia, eu perdi todo o meu cabelo, eu estava arrasada. Cinco minutos após meu cabelo cair, por acaso, a esposa de um amigo budista  veio me visitar. Ela atravessou a porta e eu gritei: Meu cabelo caiu! E comecei a chorar.

Ela sugeriu que entoássemos o mantra ( daimoku). Ela meditou de forma tão intensa que eu sai do meu profundo desespero ( estado de inferno), me sentindo completamente confiante no futuro e no meu potencial para ser feliz.

Os tratamentos continuaram por 6 meses, todos os sinais de câncer desapareceram. Eu não apenas venci o câncer como também me tornei mais confiante na forma que a minha vida estava se encaminhando.

Eu senti que tudo estava acontecendo da forma que deveria acontecer, na ordem correta e o melhor resultado estava sendo garantido.
Eu entendi como cada momento é uma oportunidade para te ajudar a mudar e fazer a sua vida ficar ainda melhor. Eu realmente, pela primeira vez, senti que não há nada na vida que deva ser negativo. Tudo pode se transformar em algo positivo e maravilhoso ( transformando o veneno em remédio).

Pouco tempo depois, eu recebi um telefonema de uma amiga me chamando para ir meditar com uma amiga dela que tinha sido diagnosticada com câncer. Nós fomos à casa dela para incentivá-la e para eu dividir a minha experiência com ela. Essa mulher não era budista, mas ela disse que queria experimentar a meditação, então fizemos daimoku ( entoamos o mantra).

Enquanto estávamos entoando o mantra, a filha dela desceu as escadas e nos disse que 2 aviões tinham se chocado contra o World Trade Center (WTC). Eu respirei fundo, porque o meu marido trabalhava no WTC.  Eu disse: “ Nós precisamos continuar entoando o mantra.”

Por um segundo eu estava pronta para me despedaçar, mas ao invés disso, eu continuei fazendo daimoku. Eu sabia que não poderia fazer nada pelo meu marido naquele momento a não ser entoar o mantra. Nós continuamos meditando e eu senti uma sensação de paz crescendo dentro de mim. Eu estava confiante, tinha certeza, que o meu marido ficaria bem e assim, a nossa família eu senti isso profundamente.

No caminho de casa, o medo cresceu dentro de mim novamente. Eu comecei a entoar o mantra, enquanto dirigia, determinando que o meu marido estaria salvo e que nada de ruim aconteceria com ele. Quando cheguei em casa eu liguei a minha secretária eletrônica e escutei o meu marido gritando: “ Eu consegui sair, eu sai!”

Mesmo antes do 11 de setembro, eu sentia que a *paz mundial poderia ser alcançada APENAS através do respeito das diferenças individuais. Eu sou muito grata de pertencer a uma organização que acredita em Criar Valor no mundo através da criação de valor na nossa própria vida. Eu pertenço a uma religião que abraça todas as pessoas, de qualquer religião, e procura criar harmonia através do diálogo e compreensão.

Budismo continua ME SERVINDO e
 servindo ao meu mundo MUITO BEM.


* Entende-se por paz mundial a prosperidade e o bem-estar  na vida de todas as pessoas.
  
Tradução não oficial do livro: The Buddha Next Door, ordinary people, extraordinary stories.
Autores: Zan Gaudioso e Greg Martin

ISBN: 978-0-9779245-1-6

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Minha Terra Natal

Rinat Harel

Um olho por um olho faz o mundo inteiro cego. 
Mahatma Gandhi

Cresci em Israel, mas sempre me senti como se não pertencesse àquele lugar. Eu não gostava da mentalidade das pessoas do local - a qual parecia para mim,  ser cabeça fechada e hostil.

Anos depois de deixar Israel e me mudar para os Estados Unidos, eu acreditava que isso tinha sido a melhor coisa que tinha acontecido em minha vida. Eu me arrependia de ter nascido lá. Eu tinha esperança que o restante da minha família ia me seguir,  juntos poderíamos construir uma vida nova nos Estados Unidos e corrigir o erro de um dia ter tido alguma ligação com aquele lugar horrível.

Eu me adaptei nos Estados Unidos e consegui ter uma vida muito boa. Mas, para a minha decepção, a minha família nunca me seguiu – continuou morando em Israel. Então, eu tive que manter as minhas visitas àquele pais e as coisas se tornaram ainda piores; o lugar se tornou muito violento com o aparecimento de homens bomba nas ruas em torno de meados de 1990. Eu comecei a desgostar de Israel ainda mais – como se isso fosse ainda possível.

O ciclo de violência piorou ainda mais; a segunda infitada palestina aconteceu e eu, que estava visitando meus familiares naquele momento, literalmente, me encontrei dentro de um carro no meio de centenas de árabes raivosos jogando pedras.

Isso foi chocante e confuso para mim, não apenas porque foi inesperado, mas também porque eu estava confuso.

- Eles estão realmente jogando pedras em mim? Eu nem moro aqui mais. Mas por outro lado, eu era israelense.

A segunda infiltrada me destruiu. Eu senti que não tinha esperança no horizonte para um futuro melhor no Oriente Médio. No restante dos dias que passei ali, eu realmente senti como se o fim do mundo estivesse começado; eu me sentia como se estivesse em um precipício no fim de uma estrada e abaixo de mim nada – um completo vazio.

De volta aos Estados Unidos, eu comecei a meditar sobre a violência no Oriente Médio. Fazer daimoku era a única coisa que diminuía a minha dor. Após um tempo, isso me ajudou a entender que eu precisava parar de criticar os dois lados e começar a encorajar e incentivar a paz. Meu trabalho era encontrar esperança onde não tinha nenhuma.

Foi após mais homens bombas e as suas consequências horríveis, uma na esquina da casa dos meus pais, que eu entendi que era chegado o momento para eu agir – então eu decidi organizar sessões de daimoku tosso para paz no Oriente Médio. Essa meditação em conjunto acontecia aos domingos a tarde na SGI-USA na New England Comunity Center em Waltham.
* Daimoku tosso é quando os budistas se reúnem para meditar em prol a um determinado objetivo.

No início eu não fazia daimoku pela paz com base no meu amor por Israel, mas sim no meu medo pela segurança das pessoas – especialmente meus familiares. Através dos anos, a minha esperança pela paz naquela região, reconhecidamente, brutal começou a surgir e a crescer.

Eu fui inspirado pelo Mahatma Gandhi a viver com otimismo apesar do que acontecia a sua volta. Foi, apenas, através da prática budista que eu fui capaz de fazer a mesma escolha para mim mesmo. 

E a minha revolução humana eventualmente se manifestou na minha relação com Israel.  Eu percebi que ao invés de sentir horrivelmente impaciente com a cultura local e as pessoas, eu comecei –gradualmente – a aprender a respeitar a resiliência do lugar e seu povo; através disso, o meu criticismo diminuiu. Mas eu não tinha nenhuma dúvida que eu continuava a não pertencer àquele lugar.

Em Janeiro de 2004, eu fui visitar meus familiares em Israel outra vez. Desta vez, antes de viajar eu fiz muito daimoku para que fosse a melhor visita de toda a minha vida. Eu não sabia exatamente  como eu queria que isso se manifestasse.

Eu me lembro que no dia seguinte da minha chegada eu sai para caminhar um pouco – eu estava muito feliz e com uma atitude de apreciação em relação as pessoas e tudo que aparecia no meu caminho – foi surreal! Eu não senti meu velho ressentimento  do local. Nada!

Eu realmente tive a melhor visita que eu poderia imaginar e determinei ter nas minhas meditações. Eu consegui até me imaginar mudando de volta para Israel no futuro. Foi muito difícil para mim ter que voltar para os Estados Unidos no final da visita, eu senti como se um pedaço de mim tivesse ficado em Israel.

Eu sabia que esta mudança de sentimento tinha a ver comigo, pois o lugar – com certeza – não melhorou  nada. Era a guerra que existia dentro de mim que começava a encontrar a paz. Eu acredito que essa mudança de sentimento, este PRESENTE da minha prática budista, foi o resultado do meu comprometimento com a paz – assim como, com o meu crescimento pessoal. É o reflexo da minha revolução humana através da fé na prática budista.

A sensação de liberdade, de ter me livrado do fardo da minha própria negatividade que me imobilizou por tanto tempo, foi a minha VITÓRIA!

O veneno que existia dentro de mim se transformou no remédio que eu precisava.

Finalmente, eu conheço a paz que eu sempre sonhei para mim mesmo e para uma parte do mundo que tanto amo.



Tradução não oficial do livro: The Buddha Next Door, ordinary people, extraordinary stories.
Autores: Zan Gaudioso e Greg Martin

ISBN: 978-0-9779245-1-6

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Soltando a Corda

por Christine Dunford

Se eu determino (crio) pelo coração, quase tudo se realiza; se eu determino usando a mente, quase nada se realiza. 
Marc Chagall

Quando eu fui apresentada ao Budismo de Nitiren, eu tive uma profunda revelação de como limitada era a minha fé devido a uma infância de pobreza que continuava me assombrando. Apesar de já ter escapado desta vida e estar vivendo com muito sucesso material, eu continuava operando da perspectiva de medo e de precisar controlar TUDO.

Eu cresci num ambiente de caos. Meu pai trabalhava esporadicamente e quando conseguia emprego era sempre como garçom, o que era irônico porque ele era um alcoólatra, e a minha mãe era trocadora de ônibus para uma empresa local.

Nós vivíamos num minúsculo apartamento de 3 quartos no Bronx, com pouquíssimas janelas, e a vista de todas as janelas era a mesma – um muro de tijolos. A vida de quase todos os meus amigos era tocada, de alguma forma, pelo álcool, drogas, violência física ou abuso sexual.

Eu não posso dizer que existiu 1 dia na minha infância onde eu não estava com medo. Eu estava com medo em casa, eu estava com medo na minha escola católica também – onde a única forma de não ser punida ou humilhada era tentar ser perfeita. Eu era internamente nervosa e destruída. O único remédio que eu consegui encontrar para o meu medo e ansiedade foi uma ambição feroz e controle.

De certa forma, isso funcionou para mim. Eu me tornei uma estudante nível A, ganhei uma bolsa de estudos na Julliard e me tornei uma atriz. Eu ganhava muito dinheiro, morava numa casa maravilhosa e tinha muita coisa, tudo o que queria. Eu tinha um certo orgulho falso porque acreditava que eu tinha criado o meu sucesso através do meu esforço, foco, suor e minha determinação; eu era totalmente definida pela dificuldades que enfrentei e como isso parecia funcionar para mim, eu me viciei nisso.

Quando eu não podia estar no controle de cada aspecto da minha vida, eu ficava em depressão e reclusa, afundada em vergonha até eu conseguir estar no controle e ter sucesso em alguma coisa. Eu não poderia nunca admitir imperfeição, e eu também não podia nunca pedir ajuda alguém. Era isolação e exaustão, mas qualquer coisa era melhor do que me sentir vulnerável.

O fato deu eu ter conhecido e casado com o meu marido, com quem eu tive o meu primeiro relacionamento íntimo, é a prova da sua marcante natureza e paciência. Ele me deu suporte durante os meus altos e baixos sem nunca me julgar.

Eu realmente achei que tinha o controle da minha vida até eu me tornar mãe. Ter uma criança é uma espécie de estranho experimento de  ficção cientifica onde alguém tira o seu coração do corpo e coloca pequenas pernas nele e envia ele para uma rua movimentada.

O amor que senti pelo meu filho foi tão grande, eu nunca tinha sentido antes aquele sentimento tão profundo e forte. Foi maravilhoso e, também, assustador.

Eu atingi o meu pico de vulnerabilidade quando meu marido e eu ficamos sabendo que nosso filho iria precisar de uma cirurgia. Eu lidei com isso no meu modo usual, respondendo ao medo com massiva quantidade de pesquisa. Eu passei horas e horas na internet estudando o seu problema. Apesar de ter aprendido tudo o que tinha para ser aprendido sobre a cirurgia, estava tudo fora do meu controle – foi traumático.

O pior momento da minha vida foi quando o meu filho de dois anos e meio foi carregado pela enfermeira, para a sala de operação, gritando e chorando e eu não podia fazer nada para ajudar.

Apesar do sucesso da cirurgia e eu estar muito grata por meu filho estar bem,  internamente eu sentia como se tivesse negligenciado ele, falhado em protege-lo. Eu fiquei muito depressiva em relação a isso e muito empenhada em encontrar uma forma de me livrar dos meus medos e necessidade de controle.

Foi nesse período que eu conheci o Budismo de Nichiren Daishonin. Minha experiência com a meditação ( daimoku ) começou por entoar o mantra determinando a minha mudança interna, a felicidade do meu filho e bem estar de toda a minha família.

Pouco tempo depois, uma amiga me deu o livro Educação para uma Vida Criativa do
Tsunessaburo Makiguti, fundador da Soka Gakkai. Eu tive profundas percepções com este livro. Eu cheguei a conclusão que não ia proteger o meu filho através do controle de cada aspecto de sua vida; e que não o protegendo de todas as dificuldades que, ele possivelmente, enfrentará na vida, não significa que estou sendo uma mãe ruim. Assim eu fui capaz de reconhecer  que a vulnerabilidade que eu sentia, como mãe, era uma expressão natural do grande e mais profundo amor que eu jamais tinha sentido na vida.

Eu, então, determinei que me  transformaria para que eu pudesse ter a responsabilidade e caráter adequados a este amor e para encontrar maneiras mais valorosas de expressar ele.

Quando eu me sentia “dominada” pela responsabilidade de criar um filho, eu meditava e meditava, até que eu finalmente vi que o meu desafio como mãe é aprender a viver com aquele amor imenso e com pouco controle.

Apesar de procurar criar uma vida que blindaria o meu filho e o protegeria  das dificuldades que eu passei; se eu continuasse operando com base no medo, eu estava arriscando passar para ele a mesma fé limitada que eu tinha. E se eu fizesse isso, então eu provavelmente estaria criando ele no mesmo gueto que eu lutei tanto para me livrar.

Eu fiz daimoku para ter coragem de aceitar o desconhecido. Eu fiz daimoku para acabar com a necessidade que eu tinha de manipular tudo. Mais importante, eu meditei para se capaz de aceitar ajuda de outras pessoas.

A primeira oportunidade para ver se a minha mudança interna estava acontecendo de verdade veio quando estávamos preparando o nosso filho para a primeira experiência escolar.

O processo gradual e carinhoso de adaptação que tinha sido descrito para os pais durante a nossa visita a escola e entrevista, não estava evidente em nenhum lugar. Meu marido foi colocado numa situação de desconforto e encorajado a não permanecer na escola, mesmo no primeiro dia. No segundo dia, a diretora o pressionou a ir embora. Meu marido mais uma vez se sentiu alienado pela diretora e eles discutiram sobre o processo de adaptação. Havia muita tensão e irritação no ar, o que acabou fazendo com que a diretora chamasse o meu marido de “arrogante”.

Eu me senti ficando irritada e mais na defensiva a cada minuto. Eu lutei contra muitos impulsos de confrontar a diretora. Então, eu me lembrei de tudo que eu vinha pensando, lendo e aprendendo, e ao invés de “explodir”, eu fui para casa e meditei.

Antes eu teria “quebrado as paredes”, e fazendo isso eu teria acabado com qualquer chance de encontrar uma solução. Mas agora, apesar do meu sentimento intenso de vulnerabilidade e medo, eu continuei meditando.

Na próxima vez que o meu marido levou o meu filho na escola, a situação tinha mudado completamente. A diretora o incentivou a permanecer no local pelo tempo que ele quisesse, explicando a ele que o processo de separação dos pais e adaptação na escola era muito delicado. Meu marido ficou surpreso e feliz, mas sem entender o que causou tamanha reviravolta na cabeça da diretora.

Então ficamos sabendo que o filho de uns amigos frequentava a mesma escola e ao informar a diretora da eminente cirurgia da criança, eles contaram a nossa experiência hospitalar com o nosso filho.

A diretora disse para o meu marido, “ quando uma família já passou pela experiência de uma separação traumática, é importante que a escola trate o período de adaptação com sensibilidade e no tempo que seja confortável para a criança.  Ela precisa ser emponderada pela situação e entender que pode confiar  em nós. “

Eu nuca imaginei tamanha sensibilidade vindo daquela mulher. Se eu tivesse respondido à situação na minha forma costumeira, ela nunca teria tido a chance de se revelar de uma  forma  tão profundamente  humana.

No dia seguinte o meu marido deixou o meu filho na porta da sala e ele disse: “ você não tem que ir para o trabalho? Pode ir”.  E foi isso, ele se sentiu seguro e feliz na escola a partir daí.

Tudo isso aconteceu sem que eu tenha feito que isso acontecesse. Isso aconteceu sem força, sem manipulação e o mais importante foi meu filho observar a forma que este problema foi resolvido.

Alguém uma vez disse que GUETO É UM ESTADO MENTAL, e o que eu percebi quando comecei a meditar foi que apesar de ter mudado de meio ambiente radicalmente quando adulta, eu nunca iria conhecer a felicidade se não mudasse o ambiente que existia na minha mente; e o ambiente da minha mente era absolutamente dominado pelas limitações do meu passado.

Eu nunca pensei que algo pudesse promover esta mudança interna, até que o mais profundo e inspirador amor pelo meu filho me fez desejar isso e o BUDISMO me mostrou COMO FAZER.


Tradução não oficial do livro: The Buddha Next Door, ordinary people, extraordinary stories.
Autores: Zan Gaudioso e Greg Martin
ISBN: 978-0-9779245-1-6