sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Buda e Deus


BS edição 1605 - Publicado em 26/Maio/2001 
Geralmente, tudo que é diferente ao que as pessoas estão acostumadas é, a princípio, rejeitado ou visto com negatividade. 

O presidente Makiguti dizia: “Não julgue o desconhecido.” É isso o que acontece com o budismo. Devido o Brasil ter sua cultura arraigada na tradição cristã, o budismo, desconhecido pela maioria, é visto com reservas e muitas pessoas pensam que, por não falar em Deus, conforme a concepção que têm, não é uma religião correta, muito menos deve ser seguida. 

Outro fator que ajuda a complicar é que, por existir muitas ramificações do budismo, os não-budistas acreditam que todos os tipos de budismo são iguais. Normalmente, os meios de comunicação fazem essa confusão, como aconteceu recentemente com uma revista de circulação nacional. 

Algumas vezes, quando iniciamos um Chakubuku ( pessoa que aprende a prática budista), de início somos questionados da seguinte forma: “Vocês acreditam em Deus?” 

Muitos de nós já viveram essa experiência, e por mais que tentemos explicar, a maioria das pessoas diz: “Mas eu não quero deixar o meu Deus!” Por isso, hoje, abordaremos esse ponto.

Inicialmente, é bom esclarecermos que Buda não é Deus

A palavra “buda” significa “o iluminado”. Ou seja, um Buda é aquele que se iluminou para a verdade da vida. “Ismo”, de budismo, é um sufixo que significa “doutrina, escola, teoria ou princípio artístico, filosófico, político ou religioso.” Cristianismo refere-se aos ensinos de Cristo e budismo, aos ensinos de Buda. 

Segundo Bryan Wilson, uma das maiores autoridades em religião do Ocidente, o sentimento religioso surge para explicar o inexplicável — os fenômenos da natureza, que para as pessoas não têm uma explicação racional. 

Assim, para o cristão, o “inexplicável”, ou os fenômenos do universo, é atribuído a Deus, que vive no céu e dita as regras da Terra. Ele criou todo o universo, o homem, o sol, a lua, as estrelas, as plantas, os animais etc. e possui imensa benevolência e compaixão pela humanidade. No entanto, as pessoas colocam Deus em dois extremos: por um lado Ele possui um amor incondicional para com as pessoas, por outro é um severo punidor e o sofrimento das pessoas é desígnio de Deus. Tanto é que todos conhecem as famosas frases: “Deus quis assim!”; “Esse é o destino que Deus me deu!” entre outros. 

Nos ensinamentos budistas, os fenômenos são atribuídos a uma Lei que rege o universo. Essa Lei é denominada Nam-myoho-rengue-kyo

Vamos abrir um parênteses aqui para explicar que Gohonzon ( mandala budista ) também não é Deus. O Gohonzon é nosso objeto de devoção, diante do qual conseguimos concentrar nosso pensamento nessa Lei universal e fazer com que ela se manifeste profundamente em nossa vida. 

Muitas vezes, por termos sido criados numa sociedade cristã em que aprendemos a atribuir tudo a Deus, acabamos nos expressando da seguinte forma: “Se o Gohonzon quiser!”, “Graças ao Gohonzon!”, “Vá com o Gohonzon!” e “Jogue nas mãos do Gohonzon”. 

Para nós, budistas, o ser humano possui um grande potencial por si só, pois ele faz parte do universo. Todas as suas conquistas estão arraigadas em sua determinação, esforço e sabedoria associados à fé na Lei Mística. Não existe alguém determinando sua condição de vida de felicidade ou sofrimento. 

Segundo os ensinamentos budistas, tudo na vida é regido pela lei de causa e efeito existente no universo. 

Os sofrimentos e a felicidade existem na vida de cada pessoa e se manifestarão de acordo com a força positiva ou negativa que cada um carrega. 

Se a força negativa for mais poderosa — força essa criada pelas causas negativas acumuladas — a pessoa sofre. 

Do contrário, se a positiva for mais forte — gerada pelas causas positivas feitas pela própria pessoa —, ela é feliz. 

A Lei que rege o universo não é punitiva. Ela é justa, rigorosa e benevolente, pois cada pessoa colhe o que plantou. 

O importante em cada religião é o respeito mútuo. Desconsiderar a existência de Deus para um cristão por sermos budistas é desrespeitar a pessoa e sua fé. 

Na Nova Revolução Humana, o presidente Ikeda escreveu:

 “Para criar uma era de paz é necessário e imprescindível o diálogo entre os religiosos... É preciso iniciar o diálogo entre budistas e cristãos, budistas e judeus, budistas e islamitas. 

Mesmo que as convicções religiosas sejam diferentes, creio que todos acalentam o ideal comum de paz e felicidade da humanidade... Eu penso que as religiões, em vez de guerrearem entre si, deveriam disputar a corrida para o bem... uma disputa entre as religiões no contexto do que estão fazendo para o bem da paz, para o bem da humanidade. 

É uma corrida humanitária... que conduz tanto a si como os outros para a felicidade. 

Isto pode ser disputado de várias formas. Por exemplo, na criação de excelentes valores humanos que contribuam para a paz do mundo ou na promoção de movimentos que proporcionem coragem e esperança para as pessoas.” (Vol. 5, págs. 87–88.) 

Com base nesses pontos, vamos estudar o budismo para que possamos defender nossa fé convictamente, sem, no entanto, desrespeitar a fé dos outros.

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