sábado, 21 de abril de 2012

Vida, Morte e destino.

“Se existem pessoas que nascem no Japão, existem também aquelas que nascem em Hong Kong ou nos Estados Unidos. Existem outras que nascem em países em guerra ou assolados pela fome e pela miséria. Existem crianças que nascem numa família rica e outras em condições paupérrimas.
Há também crianças que já nascem portando uma doença incurável ou alguma deficiência física. 

As diferenças na condição de vida e nos aspectos físicos são realmente muito diversificadas.  
A única explicação é que as pessoas são portadoras de um destino inato em sua vida

Se Deus tivesse criado os seres humanos, deveria ser imparcial e justo com todos. 

Se a vida fosse apenas restrita a uma única existência, as pessoas nascidas sob a estrela do infortúnio não conseguiriam evitar de alimentar o ódio pelos pais, culpando-os, assim como não teriam ânimo para viver. 

Outras, concluindo que deveriam simplesmente aproveitar a vida, acabariam por cair num caminho inconsequente e superficial.

A tentativa de investigar a fundo de onde surgiram esses destinos não leva a nada na medida que ficar limitada a uma única existência. A única maneira de explicar esta questão é a partir da visão de que a vida é eterna”. (NRH, vol. 3, pág. 35)

Na Nova Revolução Humana consta também o seguinte diálogo:
- Meu falecido pai poderá atingir a iluminação por meio da prática? 
- Certamente ele poderá atingir a iluminação. Como prova disso, o seu padrão de vida se transformará e o senhor experimentará a maior das felicidades (...)
- Nitiren Daishonin diz que “os grandes benefícios advindos da fé no Sutra de Lótus não se restringirão somente à iluminação de si mesmo; eles se estenderão para seus pais e mães”. (Gosho Zenshu, pág. 1.430)

Esta frase nos ensina que o senhor, que é filho, como também seu falecido pai atingirão infalivelmente a iluminação e tornar-se-ão felizes.
Por isso, haja o que houver, deve empenhar-se vigorosamente na prática da fé. Quando o senhor fizer uma prática que lhe permita dizer com toda a convicção que está muito feliz, seu pai também, com toda certeza, estará desfrutando a mais plena felicidade” (ibidem, vol. 1, págs. 37-38)

Com base no que foi exposto, ao orarmos por nossos objetivos pessoais, compreendendo claramente esses pontos, infalivelmente conseguiremos ser vitoriosos, assim, estaremos acumulando causas positivas que influenciarão nossas gerações passadas e as futuras. Isto porque os efeitos das causas passadas já estamos vivendo no presente, e hoje estamos construindo o futuro.

Conforme diz o sutra Shinjikan: “Se deseja compreender as causas do passado, observe os resultados que são manifestados no presente. E se deseja compreender quais resultados serão manifestados no futuro, observe as causas do presente”.(TC nº 377, 01.2000, págs. 46-47)

Os Três Corpos (...) Além de considerar vida e morte como tendo a mesma essência, o budismo também utiliza o conceito dos Três Corpos, também conhecidos como Três Propriedades ou Três Propriedades Iluminadas para tratar dos mistérios da vida e da morte, como explicado pelo presidente Ikeda em sua obra Vida – um enigma, uma joia preciosa:

“A vida humana se expressa através do corpo e da mente. Trabalhando em harmonia e equilíbrio, os nossos elementos espiritual e físico integram o nosso ser e, ao mesmo tempo, agem sobre o nosso ambiente externo.

No budismo, é tida como formada pelos Três Corpos: o manifesto (ojin), o da recompensa (hoshin) e o da Lei (hosshin).

As funções que harmonizam a criação e o desaparecimento das células e governam o metabolismo correspondem ao primeiro. Mas ojin não é meramente o corpo. É o mecanismo total que forma e controla o aspecto físico da vida.

Como as células e os órgãos que – embora possuindo ciclo de vida próprio e separado – se juntam para formar o corpo humano, também as diversas partes da nossa vida física se integram para formar o ojin.

“Da mesma forma, o hoshin consiste não somente no conhecimento, na filosofia e na memória, mas em todas as atividades mentais que se realizam para coletar o conhecimento, retê-lo e controlar as emoções e os impulsos.

“Já hosshin é a força motivadora essencial, perceptível unicamente nas atividades de ojin e hoshin. É o âmago da vida, ou seja, o eu.

“Em Grande Concentração e Discernimento (Maka Shikan), Chih-i escreve:
‘Como verdade, a vida é hosshin, como sabedoria é hoshin e como função é ojin.

Hosshin é o que seria visto, se pudéssemos observar a vida com completa objetividade e apreender a sua natureza fundamental. É o núcleo ou a força geradora que revela as atividades do corpo e do espírito.

Hoshin, por sua vez, é a sabedoria e outros elementos inerentes ao espírito, ao passo que ojin é a verdade corporal que forma o aspecto físico da vida. Dentro das nossas existências, os três são um só e inseparáveis. Cada um inclui, necessariamente, os outros dois”. (Vida – Um Enigma, uma Joia Preciosa, Ed. Record, págs. 224-225).

O conceito dos Três Corpos pode ser compreendido como os três níveis distintos, porém integrados, de interação do ser com o ambiente.

O presidente Ikeda prossegue em sua explicação:
No momento da morte, os Três Corpos formam uma unidade com o fluxo eterno do Universo. Por essa razão, diz-se que a morte é inerente à vida.

Depois da morte, as funções de ojin e hoshin se tornam indistinguíveis do todo, pois estão no estado potencial de kuu.

O hosshin, o ser, também é absorvido no todo do cosmo. Diferentemente de outras religiões, o budismo genuíno não ensina que o ser individual habita o céu ou vaga de lugar a lugar no mundo invisível. De acordo com a crença budista, ele está unido à vida universal”. (ibidem, pág. 230)

As Três Verdades Para compreender como a existência, caracterizada pelos Três Corpos, está presente tanto na vida como na morte, o budismo utiliza o conceito das Três Verdades, ou seja, a Verdade da Não-Substancialidade (kutai), a Verdade da Existência Temporária (ketai) e a Verdade do Caminho do Meio (tyutai).

Esses são três aspectos da verdade formulados por Tient´ai no Hokke Guengui e no Maka Shikan. Por não serem separadas e indicarem três fases de uma verdade, elas são também conhecidas como Verdade Tríplice ou Três Percepções da Verdade.

A Verdade da Não-Substancialidade significa que um fenômeno não possui uma verdade absoluta ou fixa própria; sua verdadeira natureza é kuu, o estado potencial que não pode ser definido como existência nem como não-existência.

A Verdade da Existência Temporária significa que embora todos os seres vivos são kuu, não-substanciais por natureza, possuem no entanto uma existência temporária e provisória (ke) que está em constante fluxo.

A Verdade do Caminho do Meio afirma que todos os fenômenos são caracterizados ao mesmo tempo pela não-substancialidade e pela existência temporária, mas em essência não são nem não-substancialidade nem existência temporária.

O presidente Ikeda comenta: “No Ongui Kuden (Registro dos Ensinos Orais), Nitiren Daishonin diz o seguinte:
‘Kuu significa o nada, mas não o nada absoluto, pois é um estado que transcende o que aparece como sendo a existência’.

Interpreto isso como uma observação de que kuu é o vácuo potencial combinando a Verdade da Existência Temporária (ketai), a Verdade da Não-Substancialidade (kutai) e a Verdade do Caminho do Meio (tyutai).

Depois da morte, nosso ojin se funde com a Verdade da Existência Temporária, nosso hoshin com a Verdade da Não-Substancialidade e nosso hosshin com a Verdade do Caminho do Meio. Todos são um só e são identificados com a vida no cosmo, mas a vida – composta dos Três Corpos – continua, mesmo nesse estado, possuindo sua individualidade. 

“Se o ser mantém sua individualidade, somos tentados a pensar que, necessariamente, ele ocupa um lugar definido no espaço, como acontece na vida normal. É impossível, no entanto, conceber kuu como limitado a uma dimensão espacial.

A melhor prova sobre a maneira como um indivíduo existe após a morte é, provavelmente, a última sensação do hosshin que emerge assim que nos aproximamos do “ato final”. Essa sensação, acredito, é governada pelo estado básico da vida individual”. (ibidem, pág. 231)

O Princípio de Itinen Sanzen É um princípio bem conhecido dos praticantes do Budismo de Nitiren Daishonin o de que em um único momento da vida existem três mil mundos, ou itinen sanzen.

Esse princípio tem como base que os seres humanos são dotados de Dez Estados, sendo um deles o básico.

Quando a vida deixa de existir em seu estado físico e passa a existir em kuu, ela permanece em seu estado básico de vida.

Deriva desse fato a importância que o budismo deposita no fato de que cada ser humano deve empreender um esforço contínuo ao longo de sua existência física para atingir o estado de Buda, ou pelo menos o de Bodhisattva, após a sua existência física, não poderá passar de um estado a outro.

Ou seja, cada qual deve concretizar a revolução humana em sua existência física.

Resumidamente, essa é a visão do budismo sobre a vida e a morte. Naturalmente, talvez não sejam conceitos fáceis de entender para a maioria das pessoas.

Mas o importante é que elas se motivem ao seu aprimoramento interior e à sua revolução humana pois, como comentou o presidente Ikeda, “mesmo compreendendo intelectualmente os oitenta mil ensinos, isso não nos beneficiará em nada senão usarmos esse conhecimento pra crescermos como seres humanos”. (TC nº 379, 03.2000, págs. 6-9)