terça-feira, 29 de novembro de 2011

A sabedoria para vencer os quatro sofrimentos

 Jornal BS,  edição 2108
 
Na edição passada, foram abordados os “quatro sofrimentos” — nascimento, doença, envelhecimento e morte. Vencer essas questões é conquistar uma vida plenamente realizada e feliz. 
As quatro virtudes descrevem a condição interior de uma pessoa que venceu os quatro sofrimentos.

As quatro virtudes

Verdadeiro eu, eternidade, pureza e felicidade são as quatro virtudes conquistadas por quem despertou para o propósito de sua própria existência.

Felicidade insuperável

Nenhuma satisfação momentânea ou felicidade relativa supera a alegria e a satisfação geradas pelas quatro virtudes.

Relembrando os quatro sofrimentos

O nascimento, a doença, o envelhecimento e a morte são imutáveis. Todas as pessoas enfrentam esses quatro estágios invariavelmente. Sendo eles uma certeza, o natural é uma pessoa adotá-los como base de sua vida. Afinal, se todo o resto muda constantemente, não é confiável.

Terremoto Um prédio cai diante de um terremoto porque a base onde foi construído se move. Assim é a vida baseada em fenômenos mutáveis — ela desmorona diante do menor abalo.

Coração inabalável Agir de acordo com uma verdade imutável é solidificar o interior. O ambiente externo pode mudar, mas se a pessoa possui um coração inabalável sempre transformará positivamente as circunstâncias, sejam elas alegres ou tristes.

“O que importa é o coração”

Para o Budismo Nitiren, “o que importa é o coração”. Um coração inabalável é a própria felicidade absoluta. Uma vida assim exala as quatro virtudes.

Não é desvendar mistérios Ao contrário do senso comum, enfrentar as questões da morte não significa uma busca teórica para desvendar mistérios ou o medo do inevitável e do oculto.

Felicidade e missão

Vencer as questões da morte é viver feliz e com forte senso de missão. A felicidade absoluta resulta da descoberta do propósito de sua existência e da ação firmemente focada nas questões essenciais.

Vencer em tudo Uma pessoa arrastada pelos quatro sofrimentos vive se policiando com medo da própria sombra. Quem vence desfruta de autocontrole, sabedoria, energia vital abundante, jovialidade, coragem, criatividade e dinamismo para resolver positivamente todas as questões da vida.

Vencer sempre Nos momentos de alegria ou de sofrimento, o resultado é sempre a vitória. Cada vitória conquistada produz valor positivo de forma contínua e solidifica ainda mais a condição interior inabalável.

Aproveite todos os momentos

Sem desperdiçar nenhum momento com questões insignificantes, as ações não são coloridas pelo medo ou arrependimento e sim pelo verdadeiro eu, eternidade, pureza e felicidade.

O segredo Os segredos para vencer os quatro sofrimentos e manifestar as quatro virtudes são o comportamento e a intenção correta.

Kossen-rufu  A prática da fé com a intenção correta garante o comportamento correto. Essa intenção é a determinação de se dedicar em prol do Kossen-rufu.

Mudar a determinação

O presidente Ikeda afirma: “A transformação do carma começa com a mudança de nossa determinação. Fundamentalmente, mudar o nosso interior resume-se em despertar para a missão pelo Kossen-rufu e nos dedicar a ela”.

O exemplo do  presidente Toda
Em sua cela, o presidente Toda leu o Sutra de Lótus, recitou intensamente Daimoku e despertou para sua missão de vida. Ele percebeu que era um Bodhisattva da Terra e que esteve presente na cerimônia no ar, onde a missão do Chakubuku foi transmitida à Nitiren Daishonin.

A missão é Chakubuku

“Daishonin, em seu papel como líder dos Bodhisattvas da Terra, é encarregado de propagar a Lei Mística durante os Últimos Dias da Lei.”

A determinação “‘A minha vida agora está decidida! Viverei propagando este maravilhoso Sutra de Sótus!’ Essa frase representa a máxima determinação do presidente Toda e expressa a missão da Soka Gakkai. Esse espírito é o caminho direto para a revolução humana e para a transformação do carma.”

Os quatro líderes dos Bodhisattvas da Terra São eles: Práticas Superiores, Práticas Ilimitadas, Práticas Puras e Práticas Firmemente Estabelecidas. Corajosamente, eles assumiram a liderança da propagação da Lei Mística.

As quatro virtudes

Em Registro dos Ensinos Orais, Nitiren Daishonin salienta que os quatro bodhisattvas são a incorporação das quatro nobres qualidades de um buda: verdadeiro eu, eternidade, pureza e felicidade. 
Ele também as compara aos quatro elementos: terra, água, fogo e vento.

O significado de “verdadeiro eu”

O presidente Ikeda escreve: “O Bodhisattva Práticas Superiores representa o ‘verdadeiro eu’ e o ‘fogo’. O ‘verdadeiro eu’ é a consciência de que uma pessoa é um buda. É um estado caracterizado por forte senso de independência e convicção permanecendo imperturbável em qualquer tribulação da vida. 

A função do fogo é queimar. Ou seja, é a queima do desejo cotidiano, que é a causa do sofrimento para revelar a luz da sabedoria e assim iluminar a escuridão do mundo. Em outras palavras, isso descreve a condição de um grande líder, cuja profunda benevolência envolve calorosamente outras pessoas e lhes dá coragem”.

O significado de “eternidade”

“O Bodhisattva Práticas Ilimitadas corresponde à ‘eternidade’ e ao elemento ‘vento’. ‘Eternidade’ representa um estado da vida voltado para a eternidade por meio das três existências do passado, presente e futuro. É a experiência de um estado vasto e ilimitado da mente com base na lei eterna de causa e efeito, um estado que é livre do sofrimento causado pelo medo da morte, que advém da ignorância da eternidade. 
Com esse estado da vida, dissipamos todas as dificuldades e sofrimentos que enfrentamos assim como o vento carrega o pó e toda a sujeira. 

Daishonin disse certa vez que considerava as grandes perseguições que ocorreram a ele como ‘nada mais (...) que pó diante do vento’.”

O significado de “pureza”

“O Bodhisattva Práticas Puras corresponde à ‘pureza’ e ao elemento ‘água’. Ele representa a função de manifestar continuamente o estado da vida do Buda de purificar todos os fenômenos como a água, límpida e clara, que não se influencia pelas corrupções do mundo. 
Dentro de um coração puro reside uma rica sensibilidade, gratidão e emoção. Dessa maneira, nela florescem lindas flores do humanismo.”

O significado de “felicidade”

“O Bodhisattva Práticas Firmemente Estabelecidas corresponde à ‘felicidade’ e ao elemento ‘terra’. Uma vida de paz e iluminação espiritual. Em outras palavras, representa um estado da vida que transborda energia vital e alegria, e nunca recua ao enfrentar as dificuldades. Também é a função de fazer os outros se sentirem seguros e apoiados, assim como a terra sustenta e nutre toda a vegetação.”

Viva pela missão Os Bodhisattvas da Terra possuem a missão de realizar o Kossen-rufu. Ao cumprir essa missão, uma pessoa manifesta o estado de Buda, as quatro virtudes e harmoniza os quatro elementos representados pelos quatro líderes dos Bodhisattvas da Terra. Assim, ela eleva o seu estado da vida, realiza a revolução humana e transforma o carma.

Conclusão

Recitar Daimoku e divulgar os ensinamentos budistas motivados pela determinação de realizar o Kossen-rufu é o que traz as quatro virtudes para a vida de uma pessoa.

Fontes: Todas as citações constam em: BS, edição no 2.093, 23 de julho de 2011, p. A13.

sábado, 26 de novembro de 2011

Igualdade e diversidade

Revista TC Edição 519

A parábola das ervas medicinais

A igualdade não contradiz a diversidade. As duas formam os pilares que sustentam uma cultura de paz e, ao mesmo tempo, são o caminho para que cada ser humano atinja a felicidade absoluta.

Dentre as sete parábolas contidas no Sutra de Lótus, a dos Três Tipos de Ervas Medicinais e dos Dois Tipos de Árvores é a única a enfatizar a diversidade dos seres vivos e a benevolência igual e imparcial da sabedoria do estado de Buda. Por meio dessa metáfora é apresentado o empenho persistente do Buda em conduzir as pessoas a atingir o mesmo estado iluminado da vida que ele possui.

Três tipos de ervas e dois tipos de árvores

Em resumo, a parábola diz que vários tipos de árvores e de ervas medicinais crescem nas montanhas e nas corredeiras, nas ravinas e nos vales de todo o mundo. Além disso, essas plantas são diferentes no nome e na forma. Dessas várias gramas e árvores, as ervas medicinais distinguem-se como “superiores”, “médias” e “inferiores”; e as árvores, como “largas” ou “pequenas”. Por isso, a parábola recebeu o nome de Três Tipos de Ervas Medicinais e dos Dois Tipos de Árvores.

A chuva

“Uma grande nuvem se forma no mundo e encobre tudo. Essa nuvem benéfica é carregada de umidade”(LS, v. 5, p. 100–101). A chuva provocada por essa nuvem cai em todos os lugares, molhando as árvores e as ervas medicinais. Embora sejam da mesma terra e molhadas pela mesma chuva, as árvores e as ervas medicinais crescem de acordo com sua respectiva natureza e produzem diferentes flores e frutos.

O significado da parábola

“A ‘grande nuvem’ representa o Buda; seu surgimento e o ato de envolver o mundo representam o aparecimento do Buda. Da mesma forma, a chuva que cai em todos os lugares igualmente representa o ensino do Buda e é chamada ‘chuva do Dharma’. As diversas plantas e árvores são os vários seres vivos e a chuva sobre elas representa o fato de ‘ouvir a Lei’. O crescimento das flores e dos frutos corresponde à prática e ao benefício.”

A chuva cai igualmente

“A chuva cai igualmente” significa que a Lei que o Buda ensina é “única em forma, única em sabor(LS, v. 5, p. 99). Isso quer dizer que, definitivamente, o ensino do Buda contém o benefício de possibilitar todas as pessoas tornar-se igualmente budas; é o veículo único do Buda.”

Igualdade não é totalitarismo

“Igualdade não significa agir em detrimento de suas características individuais. Não é totalitarismo.

Igualdade e diversidade

Igualdade conforme apresentada na filosofia budista significa que o respeito pela diversidade deve ser o mesmo para todos. Ou seja, cada ser humano é único e digno de ser respeitado como um buda e de acordo com suas características individuais. A igualdade e a diversidade são vitais para nossa existência.

O coração determina tudo

“A atitude de dar importância somente ao tesouro do cofre, ou seja, à economia, não tornará melhor a situação econômica. As coisas podem melhorar por algum tempo, mas isso definitivamente não contribui para o bem da sociedade. O mais importante são as pes­soas e o coração. O coração é o que determina tudo(BS, edição nº 1.549, 25 de março de 2000, p. A3).

Relógio

As diferentes engrenagens de um relógio permitem seu funcionamento harmonioso. Para o ser humano, a diversidade gera harmonia.

Onde começa o Budismo?

O Sutra de Lótus, sem fugir o mínimo da ‘realidade’ do indivíduo, esclarece o caminho para todos atingirem o estado de Buda. O Budismo começa do reconhecimento da diversidade humana. 

Valorizar cada indivíduo

O humanismo do Sutra de Lótus transmite o princípio de valorizar o indivíduo. Este é o espírito do Buda. O objetivo fundamental da iluminação universal do Sutra de Lótus inicia com a valorização do indivíduo e somente pode ser percebido seguindo firmemente esse ponto.

Indivíduos reais

“‘Amar as pessoas’ ou ‘amar a humanidade’ de forma abstrata é fácil. Mas sentir compaixão com indivíduos reais é difícil.”

Aparente contradição

“O grande escritor russo Fiodor Dostoiévski ressalta essa aparente contradição, nos sentimentos expressos por uma personagem de uma de suas obras: ‘Quanto maior meu amor pela humanidade em geral, menos eu amo as pessoas em particular, isto é, separadamente, como indivíduos’. 
E, em outro trecho, ele diz: ‘No amor abstrato pela humanidade, uma pessoa não ama ninguém a não ser ela mesma’”.

Estado da vida elevado

Uma pessoa com um estado da vida elevado é capaz de reconhecer e valorizar a individualidade das pessoas. Uma pessoa de sabedoria esforça-se para fortalecer os outros e para ajudá-los a extrair o melhor de si.

O oposto da sabedoria

Aqueles que parecem ter sabedoria mas carecem de benevolência não conseguem fortalecer os outros. Pelo contrário, eles desenvolvem uma “sabedoria” cruel e astuciosa, causando mal aos demais. Esta não é uma genuína sabedoria.

Comportamento como ser humano

Por mais que as pessoas insistam em dizer que atingiram a iluminação, se não agem com benevolência, elas estão mentindo. A sabedoria é invisível. Por essa razão, o comportamento de uma pessoa é o indicador ou o barômetro que mede sua sabedoria. Afinal, o propósito do aparecimento do Buda neste mundo é alcançado por meio de seu comportamento como ser humano. 

Mahatma Gandhi
“Certa vez, quando uma importante conferência política estava para iniciar, Gandhi buscava algo ansiosamente. Quando alguém lhe perguntou o que estava procurando, ele respondeu: ‘Perdi meu lápis’. Como a conferência já ia começar, a pessoa ofereceu-lhe outro lápis. Mas Gandhi disse-lhe: ‘Não posso perder aquele lápis’, e continuou sua busca. Quando o lápis finalmente foi encontrado, era velho e tinha somente uns três centímetros. Havia sido doado à causa de Gandhi por uma criança.”

Um belo coração

“Para Gandhi, o pequeno lápis não era de forma alguma um lápis. Era um belo coração. Por isso ele não poderia simplesmente desfazer-se dele. Parece-me que o “segredo” de Gandhi, a razão pela qual as pessoas o reverenciavam como Mahatma (Grande Alma), e, ao mesmo tempo, carinhosamente referiam-se a ele pelo apelido familiar de “Bapu” (Pai), se encontrava em sua extraordinária sinceridade.”

Nitiren Daishonin
Em resposta ao sincero oferecimento de arroz branco que havia recebido, Nitiren Daishonin escreveu: “Deve compreender que o arroz polido não é simplesmente isso, é a própria vida” (END, v. 1, p. 432).

Personalidade única

Pelas cartas aos discípulos, Nitiren Daishonin os orientava com base em uma compreensão verdadeiramente meticulosa de sua personalidade e de seu caráter únicos. 

Cartas a Shijo Kingo
Por exemplo, por meio das cartas enviadas a Shijo Kingo, percebemos que ele tinha um temperamento forte. Isso mostra a grande consideração que o Buda Nitiren Daishonin demonstrava a cada um de seus discípulos. Com Shijo Kingo, Daishonin era bem detalhista, como um pai instruindo seu pequeno filho.

Sinceridade dos membros

O presidente Ikeda não despreza nem mesmo um simples pedaço de papel que esteja imbuído da sinceridade dos membros. Sobre isso, ele comenta: Num mundo verdadeiramente humano, mesmo as coisas inanimadas não são meros objetos. Elas são vida, um reflexo de nosso coração. E os seres humanos são os mais preciosos de todos”.
Conclusão

“Somente quando respeitamos a individualidade de cada um, partilhamos as alegrias e tristezas uns dos outros e inspiramos coragem e esperança uns nos outros é que podemos nos unir em solidariedade. 
 
É esse espírito de harmonia e esse senso de inspiração que tornam possível um verdadeiro movimento popular. Um movimento popular tem de ser guiado, em seu nível mais fundamental, pelo humanismo.”

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Budismo e Suicídio.

Acredito e compreendo que no budismo tudo é causa e efeito, certo?

Mas porque um suicida estaria fazendo causas negativas se ele não matou ninguém além dele mesmo, né?

Bom, primeiro, ao se matar leva metade de muita gente. 

Seus pais podem se achar incapazes de não terem conseguido fazê-lo feliz;
seus irmãos se culparão para o resto da vida pela última discussão que tiveram;
a namorada nunca mais esquecerá do quanto demorou para se arrumar na última vez que sairam e se sentirá culpada;
os amigos se sentirão culpados por terem encarnado quando o time do cara perdeu...
Todos tentarão encontrar um motivo que o tenha chateado. Todos se sentirão culpados.
E sem contar o quanto o suicida faz todo mundo chorar por ele...

Além disso, no budismo aprendemos nas Escrituras de Nitiren Daishonin o quanto nos é difícil nascer como seres humanos.

Tem uma passagem que ele cita que é como uma tartaruga cega naufragando que encontra um pequeno tronco com a concavidade exatamente igual a seu casco. Ou seja, o quanto nos é difícil nascermos como humanos.

Mas difícil ainda é permanecer humano de existência a existência. Humano capaz de falar, se locomover, ver, ouvir... 

E só quando estamos vivos que temos a oportunidade de transformar nossos carmas negativos passados em positivos.
Então, aí nos apresenta o real valor da vida.

Quando um cara torna-se suicida, está desperdiçando esta maravilhosa oportunidade de transformações. 

Por que não há obstáculos incapazes de ser superados. 

Um exemplo: O pai de família fica desempregado por invalidez. Tem três filhos.
O menor, vai sentir falta dos biscoitos sortidos e vai chorar.
O do meio, vai ficar aborrecido por ver que os amigos estão saindo para se divertir e ele tem que ficar em casa.
O mais velho, tranca a faculdade e começa a trabalhar para solucionar os problemas familiares.
Os três filhos passam por obstáculos, por dificuldades, mas cada um de acordo com sua condição.
O menor, estava completamente fora do seu alcance perceber que os biscoitos estavam faltando por falta de dinheiro.
Mesmo que quisesse, ele não iria nem perceber a importância de trabalhar. Afinal, mal sabe o que é isso.

Semelhante nos ocorre.
Só somos capazes de ver os obstáculos que está ao nosso alcance, e que podemos reverter a vitórias. 

Então, suicidar é não ver outros caminhos no momento. Mas o budismo aí existe para colocarmos a filosofia em prática e valorizarmos o máximo de cada instante, desejando converter nossas causas negativas a positivas.

Assim sendo, o budismo não acredita nem em céu e nem em inferno.
São apenas os efeitos colhidos de acordo com nossas causas cometidas.
Quando morremos, não vamos e nem vagamos em lugar algum, independente do tipo de morte.

NAM-MYOHO-RENGUE-KYO.
O Kyo é o Universo. 

De que é feito o Universo? De ar? Células?
E nosso corpo? Também?
Então, nosso corpo é apenas registros do universo.
Somos um grão de poeira sobre as unhas, mas se não existirmos, o universo também não será transformado.
E tudo cresce com cooperação. Então, somos fundamentais ao Universo! 

E se pararmos de respirar o universo, morremos, né?
Então somos unos.
Então vagar onde, se céu e inferno é a nossa vida, e se universo sou eu?

Aí, como tive dúvida, você também pode ter: Mas e pessoas que vêem seres que não estão presentes?
Pois é. Tudo o que existe no universo é registrado como se fossem arquivos. 

Nós hoje existimos, então também somos registros; assim como a mesa, a cadeira, o computador, o cachorro... tudo o que existe. E registros formam o inconsciente coletivo. A mecânica quântica está aí nos provando isso mais a fundo.

Então, como tudo é registro, podemos nos transportar para outros ambientes, outras pessoas podem nos ver sem estarmos lá fisicamente. A pessoa não precisa estar morta para ser vista, sentida, ouvida, ou em sonhos... 

Doideira, não é? Mas a ciência hoje está comprovando tudo o que o budismo já dizia há mais de 4000 anos atras. 

Por isso que a cada dia tenho ainda mais orgulho de pertencer à Família Soka!
Conte conosco para o que precisar, amigo!

Forte abraço,
Rossana Estrella

sábado, 19 de novembro de 2011

TITANIC, Uma análise do comportamento humano - por Dr. Daisaku Ikeda

Jornal Brasil Seikyo, edição 519 -  12/Novembro/2011
Em meio a uma das maiores e mais conhecidas tragédias de todos os tempos, surgem o drama e as lições das pessoas envolvidas ante ao momento crucial da vida delas. O texto a seguir é um trecho do discurso do presidente da SGI, Dr. Daisaku Ikeda, proferido nos Estados Unidos, em 5 de fevereiro de 1987.

O mais famoso acidente naval ocorreu com o esplêndido transatlântico britânico Titanic, em 1912, e abalou o mundo, sendo assunto relevante até hoje. 
O Titanic era considerado insubmersível, porque estava equipado com a mais sofisticada e moderna tecnologia. Apesar desse equipamento, o navio afundou ao colidir com um iceberg. 
Cerca de 1.500 pessoas perderam a vida. O acidente estava além da imaginação naqueles dias. O fato ainda é bem lembrado por revelar vividamente a beleza e a monstruosidade da natureza humana, numa ocasião de tragédia.

Relato esse acidente dentro da perspectiva budista, ao drama da vida e da morte que, ocasionalmente, abala a existência de uma pessoa. Em virtude da divergência dos registros históricos, alguns dados podem ser inexatos.

O Titanic, ostentando beleza e perfeição, partiu para sua viagem inaugural saindo do porto de Southampton, na Inglaterra, no dia 10 de abril. Passou pela França, Irlanda e rumou para Nova York, Estados Unidos, no dia seguinte.
Entretanto, após percorrer dois terços do trajeto pelo Atlântico Norte, colidiu com enorme iceberg próximo à Terra Nova, a 41o46’ de latitude norte e 50o14’, de longitude oeste. Inacreditavelmente, esse navio colossal mergulhou no oceano, no quinto dia de sua primeira viagem.

A imponência da embarcação
O Titanic pertencia à companhia britânica White Star Line. Pesava 46.329 toneladas e tinha 269 metros de comprimento por 28 metros de largura. Media 52 metros desde a sua quilha até o topo das quatro chaminés. Seus motores tinham a potência de 55 mil cavalos-vapor (HPs) e desenvolvia uma velocidade de até 25 nós. 
As características das quais os construtores mais se orgulhavam eram o casco duplo e as quinze anteparas de aço impermeáveis. Graças a esses recursos, o navio era considerado insubmersível e estava equipado somente com vinte barcos salva-vidas, suficientes para acomodar metade dos passageiros. Foi um caso de terrível falta de prevenção. 
O naufrágio ocorreu devido à colisão com enorme iceberg de aproximadamente cem metros de extensão e 40 metros de altura, considerando a parte acima do nível do mar. Em abril, não se esperava a presença de um iceberg tão grande flutuando no oceano. A colisão provocou uma fenda de 90 metros na parte da frente do casco à direita. A abertura estava muito elevada para que as paredes divisórias, embora bem projetadas, interrompessem a invasão da água.

Coincidentemente, o Titanic havia experimentado um inesperado incidente em 10 de abril, no mesmo dia de sua partida. Em plena festividade da viagem inaugural, ele escapou por pouco de uma colisão com o navio norte-americano New York, logo após deixar a Inglaterra. Esse incidente parecia anunciar seu encontro com o desastre.

Somente os passageiros da primeira e segunda classes haviam embarcado no Titanic em Southampton, e os passageiros da terceira classe, incluindo imigrantes, embarcaram nos portos de Cherbourg, na França, e de Queenstown, na Irlanda. Eram ao todo 1.320 passageiros e 915 tripulantes, num total de 2.235 pessoas a bordo.
De acordo com um relatório, o total de mortos é de 1.522 pessoas, salvando-se, portanto, 713 pessoas. A maioria das mulheres e das crianças da primeira e da segunda classes salvou-se. Porém, entre as crianças da terceira classe, somente 23 das 76 foram salvas.
Até então, o Titanic era o maior navio da história e o mais suntuoso do século. Celebridades e milionários ocuparam as cabines de luxo e os esplêndidos camarotes decorados em estilo real britânico. Os passageiros jamais sonhavam que o navio afundaria. Afirma-se que, mesmo após a colisão, algumas pessoas que estavam nos compartimentos superiores colocaram pedaços do iceberg em seus copos de uísque.

Ninguém pode prever o que acontecerá no momento seguinte. O destino é imprevisível. Por isso, tenhamos em mente que a fé no Budismo Nitiren nos possibilita mudar o destino e criar a felicidade que transcende a transitoriedade do nascimento e da morte.

Diante da morte, qual significado teria a fama e a fortuna para os milionários e as celebridades a bordo do Titanic? Em sua obra A Night to Remember, Walter Lord escreveu: “Se a riqueza significou tão pouco nesta fria noite de abril, teria significado tanto no resto do ano?”
Essas palavras expressam a futilidade da riqueza material, do poder e da posição social quando um indivíduo confronta a morte, e a insignificância da vida quando alguém busca somente essas coisas.
Qual será a riqueza eterna? Não é outra senão a fé na imutável Lei do Myoho. Como corajosos Bodhisattvas da Terra, é nossa missão ajudar as pessoas a despertar para esta imensurável riqueza e fazê-la brilhar dentro de nós. Jamais devemos esquecer a honra e o orgulho de viver à altura da nossa grande missão. (...)
O nome Titanic deriva do deus Titã da mitologia grega. A Inglaterra era um gigante nos campos dos transportes marítimos e da construção naval naquele tempo. O Titanic estava embasado num vasto poder financeiro e capacidade tecnológica. Quando afundou, inesperadamente, houve imenso impacto na sociedade, especialmente sobre os envolvidos com a tecnologia. Foi como um relâmpago em céu claro. 
Após o incidente, um grupo de clérigos comentou: “Este acidente é uma advertência dos céus para repreender as pessoas por sua excessiva confiança no progresso materialista e para despertá-las de sua presunção”. O acidente do Titanic esmagou a profunda confiança dos homens na supremacia da tecnologia.

O destemor do líder e as reações diante da catástrofe 

Após a colisão, às 23h40, de 14 de abril, o construtor do Titanic, Thomas Andrews, que estava a bordo, calculou os danos e avisou ao comandante Edward J. Smith que o navio afundaria. A 0h15, o comandante ordenou aos operadores de telégrafo para solicitar socorro. O operador John George Phillips enviou sinais de socorro até as 2h10.


A 0h30, o comandante ordenou que as mulheres e as crianças embarcassem nos botes salva-vidas. Vestindo os coletes, elas lotaram os botes, em meio à crescente agitação.

Tentando acalmar as pessoas, oito músicos, que se apresentaram no salão de festas naquela noite, começaram a tocar uma música suave no convés. Esse comportamento admirável me comove. A bela música tem o poder de aliviar a ansiedade e o temor, acendendo a luz da esperança no coração das pessoas. O espírito dos corajosos músicos tem algo em comum com a missão das bandas masculina e feminina da Soka Gakkai.

Assim como foi dada prioridade às mulheres e às crianças para embarcar nos botes salva-vidas, é importante para os líderes do Kossen-rufu considerá-las em primeiro lugar em nossas atividades e incentivá-las. Em especial, espero que os membros das Divisões Sênior e Masculina de Jovens sejam atenciosos a ponto de criar condições para que as integrantes da Divisão Feminina pratiquem o Budismo Nitiren tranquilamente. Digo isso porque sei que muitas mulheres se dedicam sinceramente às atividades em prol do Kossen-rufu.

Voltando à história do Titanic, entre as celebridades a bordo estava Benjamin Guggenheim — magnata da mineração e siderurgia. No momento de emergência, ele não poupou a vida para salvar os demais. Enquanto ajudava nos botes salva-vidas, pediu para uma pessoa: “Se alguma coisa acontecer comigo, por favor diga à minha esposa que fiz o máximo”. Assim, Benjamin compartilhou o mesmo destino do navio, dizendo: “Morrerei como um homem honrado, vestindo minhas melhores roupas”.

Ele tinha prestígio social, riqueza e fama, mas não foi escravizado por isso. Benjamin Guggenheim salvou os outros ao risco da própria vida. Sua atitude é a de um homem realmente corajoso.

Em termos do princípio budista dos Dez Mundos, seu estado da vida incorporava o de Bodhisattva. Sua ação correspondeu ao espírito budista fundamental de salvar quem está sofrendo. Similarmente, nós, praticantes do Budismo, jamais devemos nos esquecer de nos comportamos com benevolência.

A bordo do transatlântico estava o casal Isidor Straus. Após dirigir-se para um bote salva-vidas, a senhora Straus voltou ao navio para ficar ao lado de seu marido, e disse: “Vivemos juntos durante muitos anos. Aonde você for, eu também irei”. Ela poderia ter salvo sua vida, mas não quis. Preferiu voltar para seu marido. Foi realmente uma bela expressão de amor entre marido e mulher. Esse ato do casal enche meu coração com profundas emoções. Meu desejo sincero é de que nós, enquanto avançamos rumo ao objetivo do Kossen-rufu, reforcemos o belo laço de marido e mulher, independentemente dos ataques das tempestades do destino. (...)

Alguns homens estavam nos botes salva-vidas para navegá-los. Como a prioridade de embarque era das mulheres e das crianças, a maioria dos homens seguiu esse procedimento, como Benjamin Guggenheim. Porém, houve um que saltou ao bote, buscando somente a própria segurança, talvez com medo da morte. Seu nome era Daniel Buckley, um passageiro da terceira classe. Ocultando seu rosto com um xale feminino, ele permaneceu junto às mulheres.

A conduta de J. Bruce Ismay, proprietário do navio e presidente da White Star Line, foi igualmente repugnante. Primeiro, ele levou muitas pessoas aos botes. Mas, no último momento, embarcou num deles, abandonando sua posição. A ação egocêntrica é sinal de covardia. J. Bruce Ismay retornou em segurança à Inglaterra, mas afastou-se de seu cargo, para levar uma existência solitária.
Uma vez perdida a confiança dos outros e iniciada uma existência covarde, a vida torna-se solitária e miserável.

Concluo isso, por meio de minha observação da vida das pessoas. Continuem a jornada pelo caminho da fé por toda a vida, o qual decidiram seguir inicialmente.

Há outro episódio relacionado a J. Bruce Ismay no acidente do Titanic. Por meio de sua autoridade como proprietário do navio, ele mandou mudar o programa original, sem discutir o assunto com o comandante Smith. Se não fosse por essa decisão, o Titanic poderia ter evitado o encontro com o iceberg e chegado ao destino em segurança.

Em tudo, uma boa discussão é indispensável antes de decidir. As decisões unilaterais põem em perigo o futuro de qualquer organização. Esse princípio aplica-se também à SGI, que existe para realizar o Kossen-rufu.

Evidentemente, houve homens igualmente corajosos. O comandante Smith trabalhava havia 38 anos na White Star Line. Era um veterano muito respeitado pela tripulação e pelos passageiros. Da mesma forma os veteranos na Soka Gakkai, que mantêm uma prática estável, demonstrando a prova real durante muitos anos, e se dedicam a orientar e incentivar os membros ao caminho da felicidade.

Às 2h05, o comandante Smith percebeu que o navio afundaria inevitavelmente. Ele entrou na sala de telégrafos, onde os operadores enviavam freneticamente o SOS, e disse-lhes: “Homens, vocês já cumpriram seu dever! Não poderão fazer mais nada. Deixem a cabine... cuidem de si mesmos. Estão dispensados!” E, assim, o comandante elogiou os tripulantes antes de afundar junto com o navio.

O construtor do navio, Thomas Andrews, fez tudo para ajudar as mulheres a escapar. No fim, sem usar o próprio colete flutuante, após esgotadas suas energias no salvamento, viu a popa do navio afundar. Trabalhando para cumprir suas responsabilidades, não abandonou o navio, e afundou com ele.

No convés, os músicos não paravam de tocar, e o local começava a ser invadido pelas enormes e sucessivas ondas. Enquanto o navio afundava, a proa virou-se lentamente para cima, em direção ao céu estrelado. Às 2h10, a pressão dentro do navio diminuiu rapidamente. Nesse ínterim, os músicos começaram a tocar o hino Outono, até o último momento.

Algumas pessoas são corajosas, outras, covardes. Os covardes são os seres humanos mais miseráveis. Essa covardia corresponde à “morte viva”.

A conduta verdadeiramente honrada não se encontra na posição ou na aparência. Pelo contrário, está na capacidade das pes­soas de se dedicarem a uma nobre causa num momento crítico, por meio da ação corajosa e determinada.

O maior navio do mundo finalmente naufragou às 2h20, duas horas e quarenta minutos após a colisão. Muitos dos que foram lançados ao oceano perderam a vida nas águas geladas, onde a temperatura era de três graus centígrados negativos.

A confusão e a desgraça imperavam também nos botes salva-vidas. Eles estavam mal equipados e as ordens eram tão confusas que alguns partiram rapidamente, deixando muitos passageiros para trás. Não longe dos botes, havia inúmeras pessoas na água. Com exceção de um, todos os botes as ignoraram, negando-lhes salvação. Houve ainda o caso de um indivíduo bater com o remo numa pessoa que procurava agarrar-se desesperadamente ao bote. Algumas pessoas perderam a sanidade devido ao medo extremo. De fato, era como um inferno no meio do oceano.

A mente humana muda de momento a momento. Ela pode tornar-se infinitamente feia e desprezível ao confrontar-se com uma situação de vida e morte. Quando imagino a cena infernal do naufrágio do Titanic, gostaria que as pessoas a bordo estivessem recitando o Nam-myoho-rengue-kyo. De qualquer modo, não deixo de orar por quem perdeu a vida naquele acidente.

Simples trabalho ou verdadeira missão? 

Dos navios que se encontravam nas proximidades daquelas águas, o único que veio em socorro do Titanic foi o Carpathia. Uma embarcação inglesa, que abriu caminho entre os icebergs. Seu comandante, Arthur H. Rostron, reuniu a tripulação que estava de folga e dirigiu-se rapidamente ao Titanic.

Preparou ajuda médica, alimento, cobertores, da forma mais dedicada e sincera possível. O primeiro barco salva-vidas foi apanhado às 4h10. Foram necessárias quatro horas para transferir completamente as pessoas dos botes para o navio. Os passageiros do Carpathia também ajudaram voluntariamente nessa tarefa desesperada.

Eram 21h35 de 18 de abril, quando o Carpathia ancorou no cais do porto de Nova York. O porto fora invadido por trinta mil pessoas que aguardavam a volta dos sobreviventes. Uma mulher desembarcou primeiro. Ela moveu-se com grande esforço e caiu bruscamente. Era uma visão tão penalizante que a multidão emitiu um gemido de agonia e calou-se.

O que faziam os outros navios enquanto o Carpathia prontamente dava assistência à embarcação acidentada?

No momento do acidente, o navio mais próximo era o Californian. Encontrava-se apenas a 10 milhas do Titanic, ao passo que o Carpathia estava a 58 milhas de distância. Surge a questão: “Por que o Californian não ajudou o Titanic se estava fisicamente mais perto? Uma grande lição encontra-se oculta na resposta a essa pergunta.


A razão é que o Californian não recebeu a desesperada mensagem do Titanic. Um descaso dos operadores de telégrafo do Californian, que trabalhavam por mera obrigação. Eles haviam encerrado os trabalhos às 23h30 da noite do acidente. Foi apenas dez minutos antes de o Titanic chocar-se com o iceberg. Se o operador tivesse permanecido em seu posto por mais tempo e captado a mensagem do Titanic, mais vidas teriam sido salvas.

Além disso, várias pessoas a bordo do Californian viram os primeiros fogos de socorro lançados pelo Titanic. Embora tivessem visto o relampejar da luz branca, imaginaram ser apenas o piscar das luzes do mastro, e simplesmente ignoraram o fato. Se alguém tivesse se comunicado com o Titanic para verificar se havia algum problema, um grande desastre teria sido evitado. Como afirmo sempre, pequenos gestos são de suprema importância.

O comandante Rostron, do Carpathia, foi condecorado pelos esforços. Sua honra ainda brilha na história da humanidade. Em contraste, o Californian recebeu fortes críticas e permanece na história como exemplo de deficiência. É verdade que lamentações não fazem nenhum bem. O Californian tinha uma vantagem quanto à sua posição, mas, em razão do descuido e descaso dos tripulantes, chamou para si a infame desgraça.

O fato de sair do ritmo mesmo um pouco em sua determinação pode ser a causa de uma irremediável derrota. Essa verdade aplica-se tanto às pessoas como às sociedades e organizações. Ela se aplica ainda mais ao rigoroso mundo da fé e do Kossen-rufu. (...)

A tragédia do Titanic contém um grande número de dramas e lições. Se encararem meramente como uma tragédia do passado, nada aprenderão dela. Entretanto, se a aplicarem da perspectiva budista baseada na eternidade da vida, aprenderão muito com esse acidente e descobrirão a forma como as pessoas devem viver.

Quando alguém encara a realidade da morte, ele mostra seu verdadeiro caráter como ser humano. Em outras palavras, o “eu” demonstra seu verdadeiro aspecto num momento crucial da vida ao confrontar-se com a morte.

No caso do Titanic, o confronto com a morte iluminou a condição de vida daqueles que se depararam com essa realidade. A morte é um fato real, não somente para os passageiros do Titanic — ela está à espera de todos. Em outras palavras, todos estão destinados a morrer. Ninguém pode escapar da morte.

Como navegar por esse severo mar de sofrimento é a maior questão dos seres humanos. O mais importante é que a solução para essa questão encontra-se completamente revelada na Lei Mística.
Fonte: TC, edição no 312, agosto de 1994, p. 24-31.

sábado, 12 de novembro de 2011

Os quatro sofrimentos

Edição 2107 do Jornal Brasil Seikyo

“O que torna o nascimento, o envelhecimento, a doença e a morte um sofrimento é o apego ao externo.”

Os quatro sofrimentos, de acordo com o budismo, são nascimento, doença, envelhecimento e morte. O budismo surgiu para encontrar uma solução para essas questões. E essa resposta é fundamental para a conquista da felicidade absoluta. Entenda o porquê.

O príncipe

Os quatro sofrimentos estão ligados à origem do budismo. Sakyamuni, o fundador do budismo, nasceu como príncipe herdeiro do clã Sakya, há mais de dois mil e quinhentos anos, nas colinas ao sopé do Himalaia, na Índia. Sua mãe morreu após seu nascimento e ele foi criado pela tia. 

A busca pela eternidade

Apesar de viver em meio à riqueza, Sakyamuni possuía inteligência e sensibilidade aguçadas e começou a refletir constantemente sobre o significado da vida e do mundo procurando uma verdade eterna.

Os quatro portões

Ao sair do palácio em quatro ocasiões, Sakyamuni encontrou no portão leste um homem idoso; no portão sul, uma pessoa doente; no portão oeste defrontou-se com um cadáver; finalmente, saindo pelo portão norte, encontrou um asceta religioso. Esses encontros foram determinantes para sua decisão de renunciar ao mundo secular.


Os quatro sofrimentos

O homem idoso, o doente e o cadáver representavam os sofrimentos de envelhecimento, doença e morte, que ao lado do nascimento, ou da própria vida, são chamados de quatro sofrimentos. O nascimento representa o início da manifestação cármica; a doença, a agonia; o envelhecimento, a solidão; e, a morte, o medo. Esses sofrimentos são inerentes à vida


A busca por respostas
 
Sakyamuni, ao se confrontar com o nascimento, o envelhecimento, a doença e a morte compreendeu o vazio do desejo e percebeu que tudo estava sujeito a mudanças. Em consequência, ele renunciou ao modo de vida no qual havia crescido e embarcou numa busca por respostas.


A iluminação

Como resultado, quando estava com aproximadamente trinta anos, Sakyamuni meditava sob uma árvore numa localidade, posteriormente conhecida como bodhigaya. Ali, finalmente ele atingiu a iluminação, tornando-se o Buda ou o “Iluminado”, encontrando a chave para a questão dos quatro sofrimentos.

A Lei Mística
 
Os quatro sofrimentos da vida são causados pelo pensamento de que a pessoa existe separada do universo, sendo possível viver de forma egocêntrica, baseada nos apegos pessoais e guiada pela indiferença em relação ao sofrimento alheio. 


Ao basear sua existência na vida cósmica que eternamente permeia o imenso universo, é possível transformar os quatro sofrimentos em quatro nobres virtudes do Buda — eternidade, felicidade, verdadeiro eu e pureza. A finalidade dos ensinos de Sakyamuni era esclarecer esse único ponto.

Por que quatro sofrimentos?

O que torna o nascimento, o envelhecimento, a doença e a morte um sofrimento é o apego ao externo. Os quatro sofrimentos provocam a separação e a mudança de tudo que é mutável. Se a pessoa basear sua vida em fenômenos mutáveis, sempre viverá num impasse e sofrerá.

Foco no correto

A causa fundamental desse impasse é que o foco das pessoas está totalmente direcionado para o mundo material e externo, deixando de voltar a atenção para sua vida interior. Antes de mais nada, elas desviam seus olhos dos sofrimentos universais de nascimento, envelhecimento, doença e morte, os quais constituem os problemas fundamentais da existência humana.

Morte: fato imutável
 
Na verdade, não há nada mais certo do que o fato de que um dia iremos morrer. Excluindo isso, tudo é incerto e sujeito a mudanças; somente a morte é imutável. Ainda assim, as pessoas tentam se desviar desse fato imutável. (...) a vida daqueles que carecem de uma correta compreensão sobre a vida e a morte é igual à grama sem raízes. Não há dúvidas de que sem uma perspectiva sobre a morte é impossível levar uma vida estável, firmada numa sólida base.


Uma base sólida
 
Como os quatro sofrimentos são imutáveis e todas as pessoas, sem exceção, passam por eles, a vitória sobre eles significa centralizar a vida numa base sólida — e não em fenômenos transitórios e mutáveis.


Por que a resposta é importante?
 
Responder a essas questões leva ao despertar do verdadeiro e profundo significado da existência. E corrige o interior da pessoa colocando-a no ritmo essencial do universo.


A alegria de estar vivo
 
Ser derrotado interiormente significa ignorar os quatro sofrimentos. A alegria por simplesmente estar vivo provém da resposta que se obteve a essas quatro questões. 


O caminho direto para a iluminação
 
Vencer os quatro sofrimentos significa se tornar um buda construindo um eu interior inabalável. Como todas as pessoas enfrentarão essas questões, todos têm condição de atingir o estado de Buda.


O apego é a causa do sofrimento
 
Mesmo que a pessoa desfrute de riqueza material, boa saúde, harmonia familiar, se interiormente a vida não fluir de acordo com a resposta para os quatro sofrimentos, ela sofrerá com o apego por suas conquistas.


O curso da vida
 
Esses quatro sofrimentos revelam o aspecto real do curso da vida e cada um possui um profundo significado e valor. Daishonin afirma que o ato de nascer e viver equivale ao ouro. Entretanto, as pessoas são derrotadas facilmente pelas dificuldades, perdem a alegria de viver e se arrastam como se estivessem carregando um fardo tão pesado quanto o chumbo. 


Não fuja da própria sombra
 
Buscar a solução dos quatro sofrimentos no poder, na riqueza e na fama, acreditando serem eles a chave para se libertar da realidade da vida, é como tentar fugir da própria sombra. Essa atitude reflete a carência de uma verdadeira filosofia de vida.


Budismo: um caminho humanista
 
O antropólogo Prof. Nur Yalman, da Universidade de Harvard, considera que os conceitos primordiais do budismo estão essencialmente em acordo com as pessoas. Segundo ele, todas elas têm de lidar com os quatro sofrimentos não obstante o poder, a riqueza e a fama que possam acumular. 


Num diálogo com o presidente Ikeda, ele disse: “Somente o budismo confronta essas urgentes questões da condição humana e proporciona respostas claras e profundas que todas as pessoas conseguem aceitar e realmente colocar em prática na sua vida.” 

O Sutra Lótus
 
O Sutra de Lótus (...) pode abrir os olhos das pessoas. Somente quando compreendemos as questões da vida e da morte é que despertamos para o verdadeiro significado de nossa existência. Quando encaramos a profunda realidade da vida e da morte, percebemos como as nossas preocupações em relação à satisfação momentânea são insignificantes.


Conclusão
 
Superar os quatro sofrimentos de nascimento, envelhecimento, doença e morte não é uma questão teórica. Devemos ir além dessas questões sobre como conduzir uma vida longa, saudável e realizada e como morrer sem sofrimento. O budismo ensina a ter a sabedoria para conseguir isso.



Fonte: Todas as citações do presidente Ikeda constam no BS, edição nº 1. 553, 22 de abril de 2000, p. 3.