quarta-feira, 12 de outubro de 2011

A visão budista do amor


Texto inspirado em Diálogo com Dra. Nazareth Solino*

(...)  com base no amor que temos pelo outro também usualmente pretendemos exercer um poder “em nome do amor” de dizer o que o outro deve fazer ou não “porque o amamos e por isso sabemos o que é melhor para ele/ela”.

Mas o que a Dra. Nazareth esclarece é que o amor saudável não seria desta forma, mas sim um amor para compartilhar, para visualizar sonhos e ideais conjuntos. Cita o presidente da SGI, Daisaku Ikeda: “É ótimo ter um companheiro para dividir o que já temos e não para preencher nossos vazios”.

Neste sentido a Dra. Nazareth nos fala de uma condição que elaboramos em nós mesmos, a de apaixonável. Ou seja, volta-se o foco da construção do mundo da magia e encantamento que o amor provoca de “um outro”, para nós. Esta condição de apaixonável ocorreria na medida em que mudamos nossa forma de olhar para nós mesmos e para o mundo.

A partir do momento em que celebramos a beleza e o encantamento em tudo com o que nos deparamos, quando procuramos propositadamente a beleza no mundo. Quando nos dedicamos a este exercício de enxergar o belo e o contentamento em todas as coisas é quando então produzimos em nosso organismo toda uma pré-condição de nos apaixonarmos.

Fica então fácil entender desta forma que a condição da paixão é produzida por nós mesmos, não é o outro que nos traz. Não há nada de mais especial no(s) outro(s) do que o que já estávamos dispostos, a procurar, a enxergar e a inspirar!Nossos olhos são os que se enfeitam, são os que se tornam gratos pela visão selecionadora da beleza em tudo que contemplamos. 

Neste momento passamos a produzir o sentimento do amor, do bem-estar, da sintonia fina com o mundo e tudo que nos rodeia. Passamos assim a coletar como num trabalho de bricolagem o melhor de cada coisa, pessoa e situação, neste mesmo momento mudamos o foco de atenção do outro para nós mesmos e nosso poder de produzir este tipo de sentimento de integração com a beleza captada no mundo, ao qual correspondemos com o nosso melhor, o nosso Eu mais bonito, porque confiante e sereno. O nosso olhar está enamorado.

A Dra. Nazareth chega a fazer um paralelo deste estado com quando acabamos de “fazer um amor gostoso”. Neste exato momento quando pensamos em qualquer coisa tudo nos parece lindo, poético, fantástico. Isto é a condição de ALTA ENERGIA VITAL. Contudo, brinca ela, não podemos “fazer amor gostoso” 24 horas por dia. Mas há outras atividades que podem cultivar esta alta energia vital.

Certas pesquisas científicas apontam a afetação da meditação na produção de serotonina no cérebro humano. Isto explica em termos seculares um pouco do efeito “bioquímico” positivo que o daimoku (recitação do NAM MYOHO RENGUE KYOruído básico do ritmo do Universo revelado com base nos ensinos do Sutra de Lótus e que ativa nosso mais alto estado de vida), por exemplo, produz em nós.

Esta mudança do foco de poder do amor, de um poder do outro com seus atributos sobre nós, e de um poder restritivo do amor que toma a sua licença poética para dizer o que é bom ou mau para o “ser amado” para um poder criativo é que nos coloca na situação de apaixonáveis, de pessoas que constroem a partir de sua visão do mundo uma realidade bonita, admirável, esperançosa e que entra em ação na direção do cuidado consigo e com os outros, de apreço por si e pelos outros, pelo apreço originário pela vida por si só.

De apreço pelo valor único e incomparável da dignidade da vida, que em todas as suas formas carrega esta condição mais elevada, incorruptível e pura de alta energia vital que emana toda a possibilidade de amor não só a dois mais por toda a humanidade.

É por isso que se costuma dizer que uma vez que já não estamos mais procurando por este amor específico, pessoal, nominal é que ele aparece na forma do “amor romântico”, a dois do qual falava no início do texto.

Não por uma grande injustiça da vida, mas porque na medida em que treinamos nosso olhar para o belo em cada coisa, ampliamos automaticamente nosso espectro do amor, da possibilidade de realização apenas pela via de um ser determinado a qual delegamos a responsabilidade de corresponder ou não a anseios de um relacionamento amoroso, a toda uma gama de possibilidades encontradas em todas atividades e formas de vida com as quais nos deparamos.

E é neste movimento, neste processo de alargamento da nossa capacidade de amar – como valorização do belo, do positivo em cada instante – que nos tornamos amáveis, maleáveis e sobretudo detentores de alta energia vital que passa a exalar naturalmente de nossos poros ao ambiente que nos cerca e que então nos retorna com seu melhor. Encontramos o melhor porque nos tornamos ativamente melhores.

Fica assim percebido que o amor liberta e não aprisiona. Portanto quando o amor a dois se concretiza, nesta perspectiva ele vem na forma de um amor que reconhece no outro não atributos de poder (fascínio), mas que traz consigo algo para partilhar, como nas anteriormente citadas palavras de Daisaku Ikeda “é bom ter um companheiro mas para compartilhar o que já temos e não para preencher nossos vazios”.

E comprovada que a paixão – os efeitos eufóricos que ela provoca nas nossas mentes – tem durabilidade, o que sustenta a juventude, o frescor do amor passados os 3 ou 6 primeiros meses de intensidade bioquímica pela chegada do outro em nossa vida, é a criação de uma relação onde ambos partilham algo a mais que o afeto e o desejo um pelo outro, onde partilham visões de mundo, idéias e sonhos.

É na luta aventurosa ombro a ombro por nobres ideais que o amor nos engrandece, transborda a relação romântico-amorosa e transmite toda sua força transformadora ao mundo passando de uma relação egoísta a uma relação humanista.

Esta é a força do compartilhamento de paixões positivas comuns, que continua ininterruptamente unindo corações ligados por uma mesma causa, este é o brilho, a alta energia vital que pode fazer bem-sucedido qualquer encontro com o outro.

*A visão e composição do presente texto são de inteira responsabilidade da autora deste blog, não necessariamente reproduzindo literalmente as palavras e idéias da Dra. Nazareth Solino cuja explanação sobre o tema apenas serviu de inspiração e ponto de partida para o escrito.


 
PALESTRA IMPERDÍVEL SOBRE AS CONCEPÇÕES DO AMOR À LUZ DA FILOSOFIA BUDISTA.

Próxima 6ª dia 14 de Outubro de 2011
Local: Rua Barão de Lucena, n. 38 Botafogo - Rio de Janeiro, às 19hs.
Palestrante: Dra. Nazareth Solino