sexta-feira, 25 de junho de 2010

A arte de transformar o negativo em positivo

BS, Edição Nº 2041

O budismo ensina você a utilizar todas as circunstâncias como matéria-prima para a felicidade absoluta

Do que trata o Budismo Nitiren?
O objetivo da prática do Budismo Nitiren é a transformação da própria vida, ou seja, mudar de maneira efetiva a realidade: transformar o negativo em positivo.
E tudo começa com a revolução humana pessoal. A recitação do Nam-myoho-rengue-kyo é a ferramenta perfeita para essa revolução.

Por que transformar o negativo em positivo?
Para alguém imerso no sofrimento e na angústia, é quase impossível por si só conseguir esperança ou motivação para seguir em frente.
O Buda Nitiren Daishonin percebeu que as pessoas podem transformar a vida caso tenham o poder de fazer algo positivo a partir do negativo.
Em outras palavras, é transformar o veneno em remédio e fazer com que os desejos mundanos conduzam à iluminação.

Matéria-prima da felicidade
O mundo é abundante em coisas negativas (pessoas, pensamentos, sensações, circunstâncias etc). Então, use-as como matéria-prima para a revolução humana!
Ao invés de lutar e se debater inutilmente contra as situações negativas que geralmente inundam e atrapalham a felicidade, passe a fazer com que o negativo seja o combustível para a felicidade.

No mundo atual (mundo Saha), a felicidade tende a não ser completa devido a uma avalanche de negatividade presente no cotidiano.
Tentar reverter isso sem mudar a raiz da vida, é como nadar contra a maré e fica quase impossível desfrurtar do resultado de nossos esforços nesta existência. Afinal, queremos ser felizes agora.

Postura correta
A recitação do Nam-myoho-rengue-kyo, aliada a uma postura mental correta, faz toda e qualquer circunstância negativa ser transformada imediatamente em positiva.
Neste caso, a alegria nasce em meio à realidade em que se vive, aqui e agora. Tudo passa a ser motivo de alegria: esse é o benefício da iluminação.

Não é conformismo?!
Não, de forma alguma! A atitude mental descrita anteriormente é a postura de assumir as rédeas da vida, enfrentar e transformar os sofrimentos pela raiz e de uma só vez. Isso porque vamos transformar a causa fundamental do sofrimento.
A maravilha de recitar o Daimoku está exatamente em fazer daquilo que seria a causa de uma intensa angústia, o combustível para uma grande sensação de alegria, plenitude e satisfação. Nitiren afirma:
“É como aquele que cai ao solo, e levanta-se do mesmo solo outra vez.” (END, vol. I, pág. 424)

Então, o que é iluminação?
“A iluminação não é algo fora do comum. Por possuirmos desejos mundanos, podemos sentir satisfação. E quando estamos satisfeitos, conseguimos sentir felicidade.
Despertar todas as manhãs com a sensação de bem-estar físico, ter um bom apetite, desfrutar o que fazemos diariamente, não sentir angústia ou aflição... Viver desse modo é iluminação. Não é nada excepcional.” (Terceira Civilização, edição no 480, agosto de 2008, pág. 48).

A angústia dos desejos não realizados
O mundo em que vivemos é a terra da felicidade incompleta, dos desejos não realizados. Acaba sendo normal sentir angústia por não conseguir o que se quer. Mas a prática do budismo muda a maneira de encarar esses desejos:
“Os desejos mundanos sofrem uma mudança qualitativa: deixam de ser ‘desejos mundanos que causam angústia’ e passam a ser ‘desejos mundanos transformados em iluminação’. O que torna possível essa mudança substancial é o poder do Nam-myoho-rengue-kyo.” (Ibidem.)

Atitude no momento da oração
A recitação do Daimoku é um momento solene. Portanto, prepare-se para recitar e não apenas solte palavras ao vento.

Como se preparar para a recitação do
Nam-myoho-rengue-kyo?
Enchendo-se de coragem e da certeza de que sua oração será, sem falta, respondida.
O presidente Ikeda explica: “É essencial que tenhamos uma atitude mental ou o pensamento firmemente concentrado quando recitamos o Nam-myoho-rengue-kyo. [...] Nossas orações somente podem ser concretizadas quando convertemos desejos vagos e difusos em determinações concretas e recitamos Daimoku com a convicção de que, sem falta, atingiremos aquilo que almejamos”. (Sobre Atingir o Estado de Buda nesta Existência, explanação de Daisaku Ikeda, pág. 44.)

A mudança fundamental
O efeito benéfico e poderoso do Daimoku é minimizado quando não se crê que você é a chave da mudança. “Se recitamos Daimoku, mas sempre culpamos outras pessoas ou as circunstâncias, estamos evitando o desafio de enfrentar nossa própria ignorância ou escuridão. Ou seja, estamos buscando a iluminação fora de nós mesmos. Ao mudarmos a nós próprios num nível fundamental, começamos a melhorar nossa situação.” (Ibidem.)

Prática acessível
A chave é não hesitar: acredite sinceramente na sua capacidade de mudança, sente-se diante do Gohonzon com paixão e recite abundantemente o Nam-myoho-rengue-kyo.

Energia vital
Quando enfrentamos algum problema ou sofrimento e ativamos a sabedoria que nos permite solucioná-lo, muitas vezes, sem perceber, experimentamos um estado de imensa alegria.
Uma poderosa energia vital transborda e avaliamos tudo o que está acontecendo de uma perspectiva mais elevada — toda circunstância acaba sendo um benefício.
Em qualquer que seja a situação, uma pessoa com esse estado de vida fará sua transformação em todos os aspectos.

Desejos Mundanos são iluminação
Desejos mundanos é algo comum a todos. A ideia de se iluminar a partir desses desejos permite que qualquer pessoa esteja habilitada a recitar o Nam-myoho-rengue-kyo e obter resultados. Por isso, é uma prática que funciona.

A grande felicidade
Vamos imaginar que queremos acender uma fogueira. Nossa lenha são os desejos mundanos e a luz produzida pela chama da felicidade penetra e ilumina toda a nossa vida. Por meio do Daimoku, nós queimamos a lenha de nossos desejos, convertendo-os em luz que iluminará nossa realidade.
Portanto, quanto maior os problemas, maior será a felicidade.

O maior sofrimento torna-se a maior alegria
“O maravilhoso da fé no Budismo Nitiren é a sua capacidade de transformar o maior sofrimento da vida de uma pessoa na sua maior felicidade, e de tornar os problemas mais difíceis em fontes de crescimento e em uma base para a grandiosidade humana.” (Juventude — Sonhos e Esperanças, vol. 2, pág. 132.)

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Recite um revigorante Gongyo “de luta”

BS, Edição Nº 2040

Gongyo significa prática assídua. Na SGI, é uma alegre batalha e uma canção que faz surgir o sol do estado de Buda no coração
O que é?
O Gongyo é a cerimônia diária na qual um praticante budista faz três coisas:
1. Lê os trechos essenciais do Sutra de Lótus,
2. Reconfirma seus “desejos” por meio das orações silenciosas e
3. Preparar o espírito para a recitação do Nam-myoho-rengue-kyo.

O que é? — II
Prática realizada duas vezes ao dia, pela manhã e à noite. Consiste na leitura de passagens do 2º capítulo (Hoben, “Meios”) e 16º capítulo (Juryo, “Revelação da Vida Eterna do Buda”) do Sutra de Lótus, seguida da recitação do Nam-myoho-rengue-kyo.

A base de tudo!
Imagine que você tenha a oportunidade de, todas as manhãs e noites, revitalizar o corpo e a mente a ponto de experimentar uma sensação de profunda alegria, sabedoria, liberdade, harmonia, coragem. Essa oportunidade existe: é a recitação do Gongyo.

Gongyo para revitalizar
“O Gongyo é uma refrescante ‘cerimônia do tempo sem início’ que nos revitaliza a partir de nossas próprias profundezas.
Portanto, o mais importante é fazer o Gongyo a cada dia cheio de harmonia e cadência — como o galopar de um corcel branco pelos céus.
Espero que desempenhem a prática do Gongyo até sentirem plena satisfação e até ficarem revigorados tanto em mente como em corpo.” (Preleção dos Capítulos Hoben e Juryo, pág. 45).

Gongyo é um juramento
O Gongyo é o juramento de um Buda. É onde se estabelece seu modo de agir!
Ao recitar o Gongyo, você está tomando a mesma atitude que um Buda.
Você se senta diante do Gohonzon com uma fé ativa e determinada, exatamente como um Buda.

A mesma mente de um Buda
O Gongyo iguala a sua mente com a mente do Buda. Com isso, adquiri-se o poder de tornar realidade tudo aquilo que estiver na mente, ou seja, os desejos.

Revigore-se
Fé é acreditar e agir. Ou seja, sinta-se bem e recite o Gongyo com a disposição e a energia de um Buda.
É a hora que você vai emprestar seu corpo para materializar a intenção do Buda.
Para isso, é preciso uma postura digna, pois seu comportamento reflete suas intenções.

“O que importa é que o Gongyo refresca e revigora nossas vidas. Assim como uma caminhada pela manhã ou fazer jogging pode ser agradavelmente alegre tanto para o corpo quanto para a mente.
Por favor, façam um Gongyo que seja pessoalmente satisfatório para si próprios, um Gongyo que essencialmente os faça sentir-se refrescados e revigorados tanto mental quanto fisicamente.” (Brasil Seikyo, edição no 1.219, 27 de março de1993, pág. 5).

Como orar?
Com alegria. Um Gongyo realizado corretamente começa antes, com uma entusiasmada expectativa de que você recitará um solene juramento diante do Gohonzon.
Não é uma cerimônia de súplica e desespero.

Pelo contrário, é um alegre juramento que irá inspirar a manifestação prática do potencial máximo em meio a qualquer circunstância.
Por isso, não é necessário entender o que está escrito. Afinal, no Gohonzon está contido e no Sutra está revelado a essência real de todos os fenômenos.
A fé convicta faz a cerimônia ser entendida pela Lei.

Gongyo, um universo inteiro em nossa mente
O Universo inteiro condensado em uma única mente, na sua mente. É esse o objetivo do Gongyo: abrir o canal do seu microcosmo para receber a energia vital do macrocosmo.

Uma vez a cada dez bilhões de anos
A eficácia do Gongyo depende da sua intenção ao fazê-lo. Por isso, a fé é essencial. “Quando praticamos com a consciência que somente encontraremos o Gohonzon uma única vez a cada cem milhões ou dez bilhões de anos, um profundo sentimento de gratidão preenche nosso coração cada vez que realizamos o Gongyo.” (Brasil Seikyo, edição no 1.520, 21 de agosto de 1999, pág. 3).

Gongyo de luta
Gongyo de luta é quando você age de acordo com o conteúdo expresso no sutra. Ou, em termos práticos, é se dedicar em prol do Kossen-rufu.
No sutra está contido o juramento próprio de um Buda: agir em prol da felicidade de todos os seres. Funciona quando você recita o Gongyo nas suas ações cotidianas.

A recitação do Gongyo é um momento de transformação dos nossos pensamentos fundamentais: aqueles que nos guiam, no qual nossas ações se baseiam, é o estado básico de vida.
O objetivo de recitar o Gongyo é tornar o estado de Buda o estado básico de vida. É uma “luta” para mudar o modo de pensar fundamental. “Um Gongyo ‘de luta’ é o manancial inesgotável de absoluta vitória tanto na vida como na luta em prol do Kossen-rufu.” (Brasil Seikyo, edição no 1.839, 15 de abril de 2006, p.3)

Gongyo, um poema do mundo dos Budas
Todo o Universo está tocando um ‘som maravilhoso’. O próprio Universo é uma sinfonia da vida, um coral cantado por todos os seres e fenômenos — uma serenata, um noturno, uma balada, uma ópera, uma suíte.
O Universo toca todos os ‘sons maravilhosos’.
A base disso tudo é a Lei Mística. É o Nam-myoho-rengue-kyo. Portanto, o Gongyo é essencialmente uma ‘canção de despertar’ que faz com que o sol surja em nosso coração, e também um noturno, uma ‘Sonata ao Luar’, que ilumina nosso coração com a luz da Lua durante a noite.
Recitar o sutra é como declamar um poema.
E orar Daimoku é como cantar uma obra musical. Nossa prática diária é a atividade mais cultural de todas.” (Brasil Seikyo, edição no 1.555, 13 de maio de 2000, pág. 3).

Precisa entender para funcionar?
Não. O que conta é a alegria, a fé e o ritmo harmonioso com que se recita.
A sonoridade da voz faz com que o corpo produza uma canção nobre e revitalizadora que harmoniza e funde sua vida com o Universo. O Gongyo estabelece a ponte de fusão do microcosmo com o macrocosmo.
O desejo ardente de recitar o Gongyo diante do Gohonzon é a chave para essa fusão.
Assim, encare o Gongyo como a oportunidade de recitar as frases e os pensamentos essenciais de um Buda.

Mesmo sem entender o seu significado
“E mesmo que a fé e a alegria das pessoas sejam fracas, frágeis como uma criança de dois ou três anos, ou mesmo que ela seja incapaz como uma vaca ou um cavalo, que não sabem distinguir o que está adiante e o que está atrás, os benefícios que obteria seriam centenas, milhares, dezenas de milhares, milhões de vezes maiores dos que os obtidos pelas pessoas de grande capacidade e de elevada sabedoria que estudam outros sutras.” (END, vol. 1, pág.174)

“Vamos recitar o Gongyo juntos!”
“Quando a empresa do Sr. Toda estava passando por dificuldades financeiras, eu trabalhei freneticamente para ajudá-lo a superar a crise. Esforçava-me no limite dia após dia, o que afetou gravemente minha saúde. Eu estava acabado fisicamente.

Um dia, o Sr. Toda chamou-me até a sala onde ficava o Gohonzon e disse: ‘Daisaku! Você não conseguiu acumular nem um grama de energia vital!
Você não conseguirá vencer nenhuma batalha nessas condições. Vamos recitar o Gongyo juntos!’ Ele me repreendeu rigorosamente como se quisesse banir meu fraco estado de vida e libertar-me da maldade da doença.

Meus olhos encheram-se de lágrimas com a benevolência de meu Mestre. Enquanto estava sentado diante do Gohonzon e orava junto com meu Mestre, o Sr. Toda — com minha voz e meu coração sintonizados aos dele —, um forte espírito de luta e uma onda de coragem brotaram dentro de mim.” (Brasil Seikyo, edição no 1.839, 15 de abril de 2006, )

Vamos raciocinar
O Gohonzon é um espelho que reflete o estado básico de vida ou o modo de pensar fundamental. A prática ideal consiste em sentar-se para orar como um Buda.
Por isso, recitamos o Gongyo para expressar o modo de pensar fundamental de um Buda. Nós fazemos do juramento do Buda o nosso juramento e abrimos o canal para receber a energia vital desta condição iluminada.

O Gongyo, portanto, estabelece a ponte pelo qual, por meio da recitação do Daimoku, estabelecemos a fusão do nosso microcosmo com o macrocosmo. Ou da nossa vida com a vida iluminada do Universo.
“Com este Gohonzon como espelho, e com Nitiren como exemplo, podemos fazer surgir instantaneamente esse estado iluminado de nosso interior, com a profunda fé e a convicção de que nós também possuímos o estado de Buda.” (Terceira Civilização, junho de 2005, pág. 48.)
O Gongyo educa a mente e molda atitude para que por meio da nossa postura e das nossas ações reflita o exemplo deixado pelo Buda Nitiren Daishonin.

Exemplificando
Dependendo do seu estado de vida básico você pode usufruir pouco ou muito da sua prática.
Imagine que você vai buscar água (energia vital) numa fonte (Gohonzon). Se você irá utilizar um recipiente grande ou pequeno, fará muita diferença.
A recitação do Gongyo aumenta o tamanho do seu recipiente, porque eleva o seu estado de vida. Assim, na hora de retirar a água, por meio do Daimoku, você pode encher ao máximo a sua vida de energia vital.
A prática do Gongyo e do Daimoku, associada ao empenho em prol do Kossen-rufu, torna sua vida um canal ligado diretamente à fonte, por onde passará continuamente a água que irrigará a vida de muitas pessoas.

Gongyo e Chakubuku
O Gongyo prepara você para a batalha da propagação. Recitar o Gongyo é apenas o início da verdadeira luta de um praticante budista.
A oração não se encerra em si mesma, ela continua nas ações. O Gongyo conecta você com a Lei e, ao receber essa energia, você está preparado para propagar por meio do Chakubuku. Recitar o Gongyo sem complementar com a batalha pela concretização do Chakubuku é uma prática ineficiente.

Concluindo
“Por mais que uma pessoa tenha fé na Lei Mística e conduza sua prática de Gongyo e Daimoku, será impossível fortalecer e solidificar o estado de Buda em sua vida se evitar o trabalho árduo necessário para propagar o Kossen-rufu.” (Brasil Seikyo, edição no 1.515, 17 de julho de 1999, pág. 3).

Temas já abordados: Benefício (BS 2.034) Gohonzon (BS 2.036) Esperança (BS 2.037) Itinen (BS 2.038) Oração (BS 2.039) Gongyo (BS 2.040)
 

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Existe outro Caminho para a Iluminação?

Revista TC, Edição Nº 502


"Gostaria de saber se existem pessoas que atingiram o estado elevado de Buda sem a recitação do Nam-myoho-rengue-kyo ou se o único caminho para atingir a iluminação é a recitação do Daimoku."


De certa forma, podemos dizer que existe sim essa possibilidade, porém são condições de vida bem específicas, pois vai de acordo com o que se entende por iluminação.

Há pessoas grandiosas na história da humanidade. O presidente Ikeda frequentemente cita muitas delas em suas orientações — Gandhi, Martin Luther King Jr., Nelson Mandela, Charles Chaplin, Helen Keller, Jesus Cristo, entre outras.

Essas pessoas tornaram-se grandiosas na história não porque tiveram uma vida perfeita, de benefícios ou riquezas. Muito pelo contrário, nenhuma delas teve uma vida fácil.
Foram privadas, perseguidas, atacadas e até mortas, justamente porque dedicaram a vida em prol de algo maior do que si mesma. Ou seja, encontraram um propósito elevado, que despertou nelas um forte senso de missão — ideal de paz, libertação de um país, liberdade de expressão, luta em defesa dos direitos humanos, combate à discriminação e à miséria.

Em suas orientações, o presidente Ikeda transmite a grandiosidade do budismo sempre com base nos escritos de Nitiren Daishonin, de uma forma atual, prática e acessível. Quando ele cita essas pessoas grandiosas, enaltece a força do ser humano dedicado a um propósito elevado de vida — o ideal do humanismo em prol de muitos outros individuos.

Essas personalidades na história são extraordinárias! Elas possuem de maneira inata, qualidades incomparáveis e um ímpeto corajoso, que as levam a avançar mesmo em meio a terríveis provações. Coragem, benevolência, senso de missão, integridade, comprometimento inabalável, visão, sabedoria, ilimitada esperança, são aspectos inatos dessas pessoas grandiosas.

Mas, e eu, que sou uma pessoa comum e que não nasci com nada de especial?
Por ser comum, não tenho direito de me tornar extraordinário?
Será que, devido ao meu carma de mortal comum formado desde infinitas existências, não tenho causas para esses feitos extraordinários?

Se assim fosse, somente pessoas especiais teriam direito à iluminação. De certa forma, pensar assim, pode ser até perigoso.
Pode-se chegar a justificar o porquê de alguns poucos especiais dominarem muitos outros comuns.

Uma verdade grandiosa tem de servir para toda a humanidade, ser universal a todos sem nenhuma distinção.

Budismo é humanismo, pois elucida a força do ser humano e a força da vida como um todo.

Nitiren Daishonin nos revelou o Nam-myoho-rengue-kyo e o Gohonzon justamente para nos despertar para esse supremo estado de vida do Buda inerente em cada um de nós.

Por pior que seja o meu carma, mesmo que eu não tenha causas para os feitos grandiosos como os destas personalidades, por abraçar o Gohonzon, abraço a causa original da iluminação de todos os budas e bodhisattvas das três existências e das dez direções.

É a causa original, a essência da iluminação de todos os budas. Enfim, por meio dessa causa maior, enxergo, desperto e comprovo a natureza de Buda inerente desde o tempo sem início.
Esta verdadeira causa torna-se minha própria vida mediante a recitação do Nam-myoho-rengue-kyo ao Gohonzon.

O verdadeiro efeito dessa verdadeira causa é o estado de Buda dotado de todos estes aspectos extraordinários da vida humana. Qualquer carma pode ser transformado por meio do libertar deste poder de Buda inerente.

O presidente Ikeda orienta que esta é a era das pessoas comuns, a era do povo.
O ensino essencial do Sutra de Lótus de Sakyamuni é justamente o capítulo “Revelação da Vida Eterna do Buda”. Isso significa que, não importa o carma, por mais negativo que seja, o estado de Buda é inerente, sempre existiu na vida das pessoas.

A natureza de Buda não é algo a ser adquirido com o tempo ou com a prática, quando me tornar melhor ou especial. Não.
O potencial de Buda é eterno. Despertar para isso é atingir a iluminação.

Por abraçar o budismo, vejo com extrema clareza a grandiosidade da força humana. E, ao contrário de negar, com o budismo percebo a razão de existir e a força de outras religiões, quando inspiram ao ser humano evidenciar o humanismo e a grandiosidade da força de sua própria vida. Daí o respeito a todas as crenças, culturas e religiões.

Existem outros caminhos? Sim.
Mas, abraçar o Gohonzon, ter um mestre e o ideal grandioso do Kossen-rufu alicerçam a inabalável convicção como praticante budista de que este é o caminho direto e pleno para a condição de iluminação. Quando um caminho não é direto, podemos nos perder em direções que podem ser até contrárias.

Podemos dizer que a iluminação é a imensa alegria de consolidar o “grande eu”.
“Grande eu” significa “verdadeira autonomia” que possibilita fazer a vida agir sempre na relação de causa e efeito da iluminação, independentemente do que aconteça.
Na causa e efeito da iluminação, a causa original ou verdadeira causa é recitar o Nam-myoho-rengue-kyo ao Gohonzon com fé no potencial inato de Buda.

Efeito original ou verdadeiro efeito é a comprovação do estado de Buda.

A nossa vida frequentemente é controlada por causas e efeitos da infelicidade que nos arrastam para as causas e efeitos da impermanência.
É viver à mercê das circunstâncias, como um barquinho no meio da tempestade.
Contudo, a vida das pessoas que, por mais que enfrentem dificuldades e adversidades na vida cotidiana, conseguem superar a tudo com base na recitação do Daimoku, estará sempre fazendo a relação de causa e efeito da iluminação, embasada na Lei Mística.

O benefício fundamental da recitação do Daimoku é fazer com que a causa e o efeito da iluminação torne-se o centro das ações da vida.
Dessa forma, estabelece-se uma plena autonomia ou autodomínio da realidade ao invés de ser influenciado ou arrastado por ela, no ciclo do mau carma de pessoa comum.

Transformar os sofrimentos e inconstâncias de mortal comum, ou seja, os sofrimentos de causa e efeito da infelicidade em benefícios de causa e efeito da iluminação — é o caminho mais direto e pleno da prática budista.
Isso se estabelece na grande verdade de que a iluminação só pode ser encontrada na própria vida e nunca fora dela. Quando minha vida muda, o mundo muda.
A esse processo de profunda transformação chamamos de “revolução humana”.

Abraçar o budismo não é meramente escolher um caminho e descartar outros, estabelecer uma convicção, abandonando as demais.
Quando se abraça a Lei Mística, abraçamos tudo. Toda fé religiosa, todas as crenças, todas as culturas, todas as filosofias estão contidas na Lei Mística.

Por isso, não estou negando. Na verdade, não é escolher, e sim expandir a visão do mundo e da vida.
Por sermos budistas, compreendemos o ilimitado poder da vida humana, pois horizontes inteiros se abrem diante de nós.
Quando compreendemos isso, não somente com a lógica mas também com a vida, a esperança deixa de ser um sonho e torna-se uma convicção de vencer infalivelmente. Isso está de acordo com a máxima “quem olha para fora, sonha; quem olha para dentro, desperta”.

A transformação do carma é possível justamente porque compreendemos que a iluminação não está fora de nós. Enfim, os horizontes se abrem, não quando se olha para fora, mas sim ao enxergar a si mesmo.

Enxergar a si mesmo é o significado de iluminação.


Texto de Reginaldo Tateigi

domingo, 13 de junho de 2010

Como as orações são respondidas?

BS Edição Nº 2039

Orar corretamente o Nam-myoho-rengue-kyo diante do Gohonzon é eficiente, simples e benéfico. Mas como extrair o máximo dessas orações?
 O que é?

A oração é uma alavanca que quando utilizada tendo o Gohonzon como ponto de apoio transforma qualquer situação.

Como assim?!

“Deem-me uma alavanca e um ponto de apoio e eu moverei o mundo”. Essa frase é atribuída a Arquimedes, inventor, matemático e físico grego. Fazendo uma analogia tem-se uma noção da relação da oração, Gohonzon e Kossen-rufu.
A oração corresponde a alavanca, o ponto de apoio é o Gohonzon e mover o mundo consiste em agir em prol do Kossen-rufu. Está tudo interligado.

Resposta às orações

O presidente Ikeda foi perguntado se todas as orações ao Gohonzon são respondidas. Ele afirmou com total convicção: “Sim. Com certeza. O Gohonzon nos capacita a concretizar todas as nossas orações. Elas são seguramente respondidas”. (Juventude: Sonhos e esperanças, volume 2, pág. 150).
Nitiren também afirma: “Não obstante, mesmo que alguém errasse ao apontar para o chão, mesmo que alguém unisse os céus, que o fluxo e o refluxo da maré cessassem e que o sol nascesse no oeste, jamais aconteceria das orações do devoto do Sutra de Lótus não serem respondidas.” (END vol.5, pág.138).

A alavanca da vitória

Mas para ser respondida, a oração precisa ser correta. Se não há resposta é porque não está utilizando a alavanca. Somente um ponto de apoio não basta, é preciso a alavanca.
O que é oração correta?

Oração certa acontece quando você ora com a postura e a convicção de que não há oração sem resposta. Acreditar sinceramente e recitar Daimoku orando diante do Gohonzon com a convicção de que não há oração sem resposta é o requisito para a oração produzir benefícios em profusão.

Apaixonada determinação
A oração funciona quando feita com foco, fervor e postura certas. Se não produz uma resposta satisfatória é porque não há a oração no sentido correto:
“Uma atitude vaga e dispersa durante a oração é como atirar uma flecha sem mirar o alvo. Devem orar com uma forte e apaixonada determinação de concretizar sua oração. Aquele que pensa ‘Se eu orar, tudo ocorrerá bem’, na verdade está demonstrando apenas um desejo. Uma fervorosa oração — a oração do fundo do coração e com toda a vida — será infalivelmente comunicada ao Gohonzon” (Ibidem, pág. 165).

Ore até conseguir
O ponto chave é manter a prática até a vitória total. “O Gohonzon não tem obrigação de responder nossas orações, nem nos solicitou que orássemos para ele. Nós é que pedimos para orar ao Gohonzon. Se cultivarmos tal sentimento de gratidão e apreciação, nossas orações serão respondidas mais rapidamente. [...] O mais importante é continuar orando até que sejam respondidas.” (Ibidem, pág. 161). 
 
Como age a oração?

A oração purifica os desejos, transforma-os em sentimentos sinceros e os converte em energia vital que impulsiona a agir em prol da conquista daquilo que deseja. O resultado de uma oração correta é sabedoria, força e coragem geradas no momento da oração. Sua convicção aumenta por que se baseia na compreensão prática de que não há oração sem resposta.

O mecanismo
“Não há nada de extraordinário em relação à oração; ela se resume em simplesmente desejarmos algo de todo o coração. O mais importante é o coração. Com relação a isso, é essencial que oremos com profunda fé, respeito e amor ao Gohonzon em nosso coração.” (Ibidem, pág. 156).

Quem responde nossas orações?

Nós próprios causamos a resposta às nossas orações. Por isso deve ser feito corretamente.
O presidente Ikeda afirma: “Quem responde nossas orações? Somos nós — com fé e esforço. Ninguém mais faz isso por nós. Se nossas orações serão ou não respondidas depende de nós. [...] Se e quando nossas orações serão respondidas pode ter vários significados. Mas não há nenhuma dúvida que nossa vida começa a mudar de forma favorável a partir do momento em que começamos a orar.” (Brasil Seikyo, edição no 1.560, 17 de junho de 2000, pág. A3)

Orar para que?

Somos livres para orar para aquilo que desejarmos. Por que a “resposta” que nunca falha é a capacidade de gerar valor em qualquer circunstância, seja positiva ou negativa. A “resposta” é a conquista de um estado de vida em que tudo passa a ser motivo de alegria e fonte para aumentar ainda mais a boa sorte.
Em outras palavras orar gera um estado de vida amplo e forte. E a prática da fé capacita você a assumir a responsabilidade plena da própria vida.

Budismo é bom senso

Num diálogo, um líder comentou ao presidente Ikeda que algumas pessoas manifestaram preocupação pelo fato de algumas de suas orações não terem sido respondidas.
Presidente Ikeda: Nós praticamos uma fé em que ‘nenhuma oração fica sem ser respondida’.
Em primeiro lugar, precisamos ter convicção nisso. No entanto, haverá ocasiões em que nossas orações serão respondidas e outras em que isso não ocorrerá. Mas, enquanto continuarmos a recitar Daimoku, no final tudo seguirá a melhor direção possível. Isso fica claro quando depois olhamos para trás.
O mais importante é que a luta que empreendemos para que nossas orações sejam respondidas nos torna ainda mais fortes.

Se todas as nossas orações fossem imediatamente respondidas, acabaríamos ficando mimados e decadentes, e passaríamos a viver de forma indolente, evitando o esforço e o trabalho árduo. Nós nos tornaríamos frívolos.

Qual seria, então, a questão da fé? A vida é uma sucessão de acontecimentos. Enfrentamos todos os tipos de dificuldades. Assim é a vida. É graças a essa variedade que podemos conduzir uma existência realizada e feliz. Isso nos dá condições de crescer e desenvolver um estado de vida amplo e forte.

[Comentário do líder]: Com certeza, se todos os membros da SGI orassem para ganhar na loteria, seria impossível que todos tivessem suas orações respondidas!

Presidente Ikeda: Se tudo pelo que orássemos se tornasse realidade instantaneamente, seria como uma mágica. Isso vai contra a razão. Não se pode ter arroz cozido simplesmente pondo a panela no fogo sem nenhum arroz dentro. O budismo é bom senso. Ele ensina o caminho correto da fé manifestando-se na vida diária. Uma fé que ignora a realidade não é fé. Isso não existe. Nossos desejos não serão concretizados se não empenharmos um verdadeiro esforço. (Ibidem.)

Qual é o benefício da oração?

Nitiren Daishonin foi tão preciso ao propor sua oração que a própria recitação do Nam-myoho-rengue-kyo é, em si, o maior beneficio. Afinal, “Não há alegria maior que recitar o Nam-myoho-rengue-kyo.” (Brasil Seikyo, edição no 1503, 10 de abril de 1999). 
 
A maior das alegrias

A recitação de Daimoku é em si o máximo da alegria porque coloca o praticante em contato direto com a Lei Mística.
Por isso Nitiren Daishonin recomenda que independentemente do que aconteça, continue recitando o Nam-myoho-rengue-kyo. A resposta da oração correta é a alegria profunda de estar recitando.
O Gohonzon e a oração fazem brotar energia vital, sabedoria, força e coragem.
No ato de orar você sente alegria e fica no tom, no ritmo harmonioso do próprio Universo.

Eu e a Lei

A oração é o seu diálogo com a Lei. E o Daimoku é a linguagem que a Lei entende e reage perfeitamente. Por isso a oração não precisa ser de lamentação, de reclamação.
A oração é um momento de fusão com a Lei e deve ser realizada solenemente. Dialogar diretamente com a Lei é a grande maravilha descoberta e deixada por Nitiren Daishonin.

Quanto tempo de oração

Nos seus escritos, Nitiren recomenda que deve-se recitar o Nam-myoho-rengue-kyo até sentir alegria no coração.
Ele não especifica um tempo para isso, pois depende da fé, do itinen de quem recita. Quanto mais alegria se sente ao recitar, mais se recita.
A oração correta é tão estimulante e empolgante que não dá vontade de parar.

Oração e cotidiano

Imagine uma situação que te incomoda, desanima e irrita. Essa reação negativa acontece porque seu itinen está focado nessa realidade.
A oração correta faz você focar na Lei, que possui a máxima energia e sabedoria. Aí, naturalmente, desaparecerão imediatamente as sensações negativas e será criado valor positivo. O benefício é justamente vencer em meio a realidade, qualquer que seja a situação.

Seja você mesmo

O que é melhor pensar no momento da oração? O presidente Ikeda conclui:

Faz parte da natureza humana pensar em si próprio. O importante é orarmos diante do Gohonzon da forma como somos.
Se nos apresentamos com um ar arrogante mostramos um ‘falso eu’. O Gohonzon não responde a mentiras.

Quando recitamos Daimoku por causa de nossas maiores preocupações ou maiores desejos, nosso estado de vida se abre naturalmente e vamos desenvolvendo aos poucos o espírito de orar não apenas para nós próprios, mas também pela felicidade de nossos amigos e pelo Kossen-rufu.

Além do mais, creio que é vital desafiarmo-nos para termos grandiosas orações. A questão central é que temos total liberdade de orarmos para o que desejarmos. (Brasil Seikyo, edição no 1.560, 17 de junho de 2000, pág. A3).
Temas já abordados nesta série de Estudos do BS: Benefício (BS 2.034) Gohonzon (BS 2.036) Esperança (BS 2.037) Itinen (BS 2.038) Oração (BS 2.039)

sábado, 12 de junho de 2010

Amor Eterno, Amor Verdadeiro.

Mais do que um relato sobre minha revolução humana, esta é uma história de amor. Amor em seu sentido mais puro e verdadeiro; amor como eu o sinto e concebo hoje em dia. Através de minha prática budista diária estou reaprendendo o verdadeiro sentido e propósito do verbo AMAR.
 
O Budismo veio ao encontro de muitos valores que eu já possuía em mim e que me são fundamentais tais como a gratidão, a justiça, a compaixão e respeito por todos os seres viventes ou não e, principalmente o desejo altruísta de erradicar o sofrimento de todos os seres deste mundo.

Lembro-me perfeitamente do sentimento de tristeza que me invadia, em minha infância, ao assistir o sofrimento de pessoas que nem conhecia pela TV ao lado de meu pai. Desejava, do fundo do meu coração infantil, fazer algo pra que elas não sofressem mais.

Fui uma adolescente bastante introvertida, que via na leitura e na escrita meu porto de partida para mundos desconhecidos e inexplorados.

Escrevia poemas sobre paz, justiça e sobre meu desejo de encontrar alguém que me ensinasse o que era na verdade o tal AMOR.

A morte do ex-Beatle e pacifista John Lennon, mudou minha vida. Fiquei bastante chocada com a forma brutal como ele foi assassinado. Comecei a pesquisar sobre sua vida e descobri sua história de atividades voltadas para a conscientização da sociedade sobre a paz e a união entre os povos da humanidade.
 
Ao ouvir a canção Imagine e seu conteúdo pacifista, percebi que ali estava a minha missão: lutar pela paz mundial.
Naquele tempo, Lennon foi meu mestre, no sentido de ter me ajudado a lembrar-me de minha missão na Terra.

Porém, com o passar dos anos, com as pressões do meu cotidiano, fui me esquecendo de meus sonhos de menina.
Conheci o amor e com ele recebi um grande presente: o nascimento de minha filha. Foram tempos muito difíceis, pois éramos muito jovens, inexperientes, ainda estruturando nossas vidas em todos os sentidos e ao mesmo tempo tendo que segurar nossa filha no colo.

Tudo isso, me afastou cada vez mais de meus sonhos e sentia de verdade, como se algo dentro de mim estivesse morrendo, como se eu estivesse abandonando uma parte muito importante de mim mesma.

Os anos foram passando; muitos foram os sofrimentos pelo qual passei.

Após 10 anos de harmonia conjugal, o que era amor, começou a transformar-se em dor. No auge desta dor, em 1996, assisti ao filme sobre a vida de Tina Tuner e ouvi o Nam Myoho Rengue Kyo pela primeira vez.

Percebi que a mudança na vida da artista acontecera graças a sua prática budista, mas minha escuridão fundamental, causada pelo sofrimento que passava me impediu de entender a verdadeira mensagem que Tina deixava a todos que passavam por sofrimentos semelhantes: “se eu posso, VOCÊ também pode”.

Sentia uma tristeza que mal posso descrever em palavras. Além do sentimento de ter abandonado a mim mesma e de ter deixado meus sonhos para trás, sentia o abandono da pessoa que amava. Tudo isso culminou no recebimento de um diagnóstico de Linfoma Hodking (câncer no sistema linfático) no ano 2000.

Porém, confesso que recebi o diagnóstico sem surpresas; tinha plena consciência de que aquele câncer era o efeito da causa maior que ocorria dentro de mim: eu havia abandonado meu corpo, minha vida e a mim mesma, para me preocupar com o sofrimento do outro. Tentava praticar a compaixão sem sabedoria, sem em primeiro lugar, ter compaixão por mim mesma. E isso só me trouxe dor e destruição.

Em 2004, consegui me libertar do relacionamento que tanto me fazia sofrer.

Mas não estava preparada para tanta liberdade e entrei num processo depressivo. Não compreendia que aquela separação serviria para que eu voltasse para mim mesma.

Continuava sentindo-me vítima das circunstâncias e colocando no outro a responsabilidade sobre me fazer feliz, achando que meus problemas de abandono residiam no fato de eu estar sozinha.
O resultado foi atrair mais uma vez, uma relação em que o amor, rimava com dor.

Em Dezembro de 2006 essa relação destrutiva adicionado ao completo abandono de minha própria vida, renunciada para cuidar da vida problemática do outro, me trouxe novamente a depressão, desta vez mais violenta e grave.

Já havia visitado o fundo de meu poço algumas vezes e lá estava eu, no fundo dele novamente, mas desta vez, a sensação que tinha era que o poço estava ainda mais fundo. Só quem conhece a dor psíquica sabe do que estou falando. Para me libertar desta “dor da alma”, tentei acabar com minha vida por duas vezes.

Em Março de 2007, levada por minha família e amigos que nunca me abandonaram, iniciei tratamento psiquiátrico e terapêutico, obtendo melhora significativa de meu estado geral.

Em Agosto de 2007, decidida e dar um rumo em minha vida, contei para minha mãe do meu desejo de retomar um de meus sonhos não realizados: a faculdade de psicologia. Porém, as tendências ao sofrimento se evidenciaram em minha vida novamente.

Mal começaram as aluas, tive que internar minha filha com suspeita de apendicite aguda. Até ai, nada demais, não fosse a dificuldade pela qual Luiza passou para se recuperar da cirurgia. Ela demorou muitos dias para se recuperar, vomitava muito, chorava e numa noite, chegou a dizer que não sairia viva do hospital.
 
Perguntava a mim mesma, o que acontecia já que eu tinha decidido não mais sofrer. Conversava com a cirurgiã responsável pelo procedimento de Luiza, inclusive contei a ela que estava passando por um momento delicado, pois ainda me tratava da depressão e tomava medicamentos, tendo que suspendê-los subitamente para poder cuidar de minha filha no hospital e não entendi o porquê daquela reação de minha filha.
Ela tentava me acalmar, dizendo que a cirurgia dela fora muito delicada e que ela precisava de mais tempo para se recuperar.
 
Finalmente Luiza teve alta e voltei à faculdade. Porém a história de sofrimento não terminava ali. Luiza recebeu um diagnóstico de presença de um tumor carcinóide no material colhido no apêndice. Foi quando conheci a Diva, na faculdade, e lhe contei tudo que acontecia comigo. Diva, então me convidou a uma reunião na sede regional de Botafogo.

Resolvi ir a tal reunião de budismo que a Diva havia me convidado. Sai de casa cedo, pois a reunião era em Botafogo às 10h da manhã.
 
Logo de cara adorei o “clima”. Todos alegres, ninguém chorando, sofrendo, pelo menos aparentemente. Ouvi o canto do Daimoku (o Nam Myoho Rengue Kyo) e aquilo me soou “familiar” tudo ali era muito familiar pra mim. Através dos relatos que ouvia comecei a pensar; SE ELE /ELA CONSEGUIU EU TAMBÉM POSSO.

Foi amor à primeira vista. Conheci um mundo totalmente diferente de tudo que eu conhecia, com pessoas alegres, companheiras e acima de tudo corajosas.
 
Mergulhei de cabeça no mundo maravilhoso da Gakkai e com apenas um ano de prática consegui transformar, o que antes era sofrimento, doença e desilusão, numa vida plena de alegrias, coragem, grandes realizações e muitos benefícios.

Meu encontro com o mestre. Meu re-encontro com minha missão

À medida que conhecia mais sobre o Budismo Nitiren e sobre a Sokka Gakkai (organização responsável por propagar o Budismo Nitiren e seus ideais de paz, cultura e educação), comecei a querer saber mais e mais sobre quem estava à frente desta grande organização.

Foi então que conheci a história do presidente da SGI- Daisaku Ikeda, seus ideais e sua trajetória de vida junto com os outros mestres. A cada história de luta e superação de seus próprios limites para fazer sua revolução humana e poder propagar o kossen rufu, me emocionava.

Ao compreender a relação de amor incondicional que Daisaku possui com seu mestre, Jossei Toda, comprendi que aquele momento, para mim, era finalmente o reencontro com aquele que seria meu verdadeiro mestre, pois neste exato instante, despertou em meu coração meu antigo desejo de menina.
 
Era como se algo dentro de mim estivesse renascendo. Senti pela primeira vez a força que existe entre a ligação de um mestre e seu discípulo, não importando a distância. A chama de minha missão como Bodhisattiva da Terra, que não descansa enquanto não erradicar o sofrimento dos seres humanos, reacendera em meu coração por meu mestre.

Como observa o líder da SGI, Daisaku Ikeda, “O bem não é simplesmente uma questão de fazer caridade e viver altruísticamente; ele inclui lutar contra a maldade e a injustiça.

Ao refutar a maldade, amenizamos nosso próprio carma negativo e criamos boa sorte e benefício.

Esse é o significado de benefício (kudoku) no Budismo de Nitiren Daishonin. A felicidade nasce da luta contra a injustiça”. (Brasil Seikyo, edição no 1.543,12 de fevereiro de 2000, pág. A3.)

Este é um ponto importante na filosofia propagada pela SGI. Na maioria dos casos, uma grande mudança externa inicia a partir de uma grande mudança interior. Mesmo se tratando, por exemplo, de um problema de saúde, a disposição interior e a determinação de superar o problema podem se mostrar fundamentais.
Nesse sentido, no Budismo Nitiren não há benefícios que venham de fora — ele se manifesta a partir de uma mudança de postura da própria pessoa.

Comecei então, minha jornada interior, com o sentido de refutar a minha maldade interior, aquele que me impede de avançar.  

A medida que recitava Daimoku, participava das reuniões e lia as orientações do presidente Ikeda atualmente também atuando na organização como vice responsável de bloco, aprendia cada dia a importância de meu real valor. Brotava de dentro de minha própria vida a sabedoria, a coragem, a forte força vital para solucionar meus problemas de solidão e abandono.

Comecei cuidar melhor de mim, a gostar de minha própria companhia, e a entender a grandiosidade de minha missão no local aonde vivo.
Com minha prática, percebi que não existe amor maior e mais verdadeiro do aquele que devoto à dignidade e apreciação de minha própria vida e, consequentemente, ao Gohonzon, que é minha própria vida iluminada.
 
Com a recitação do daimoku sinto meu coração cada dia mais leve, como se estivesse, de verdade, limpando as impurezas que impediam que os bons sentimentos se instalassem.

O daimoku me permite ler as orientações do Presidente Ikeda com uma clareza cada vez maior e melhor, me permite compreender suas aspirações ainda que estejamos a milhas de distancia um do outro, ainda que aconteça seu desaparecimento físico, pois estamos ligados pelo coração.

O coração é o que mais importa, nas sábias palavras do Buda Original, Nitiren Daishonin. Compreendi o amor através da ligação entre mestre e discípulo, pois o que liga um discípulo ao seu mestre é o amor verdadeiro.

Com meu coração cada vez mais limpo, permiti que meu mestre entrasse dentro dele e assim, compreendo-o cada vez melhor. Isso é a própria iluminação.
Hoje, percebo que já transformei meu carma afetivo, a medida que aprendo a amar justamente porque amar é bom e só por poder amar já sou feliz.

Quero terminar este relato agradecendo de coração a todos que contribuíram de todas as formas (negativas ou positivas) para que eu chegasse até aqui.

Agradeço principalmente ao AMOR:
De meus pais
Do Buda Sakyamuni
Do Buda original dos Últimos dias da Lei, Nitiren Daishonin
Do Presidente da SGI Daisaku Ikeda

A eles dedico um poema do autor do Pequeno Príncipe:

"Não confundas o amor com o delírio da posse, que acarreta os piores sofrimentos. Porque, contrariamente à opinião comum, o amor não faz sofrer.
O instinto de propriedade, que é o contrário do amor, esse é que faz sofrer. (...)
Eu sei assim reconhecer aquele que ama verdadeiramente: é que ele não pode ser prejudicado. O amor verdadeiro começa lá onde não se espera mais nada em troca".
Antoine de Saint-Exupéry